Minha mulher vendeu minha sanfona
E num é que essa muié teve a pachorra
de vender minha sanfona
ela justifico esse ato
dizendo que vendeu meu instrumento
pra colocar comida nu prato
Um cabra do sertão, que seja fã de Gonzagão , troca qualquer alimento
para ter esse instrumento
Mais , Maria que não é cheia de graça
cometeu essa loucura
cansou de comer rapadura
vendeu minha sanfona , e trouxe da mercearia, carne de sol , de porco
feijão de corda e farinha
Filha de uma égua, aqui em casa
ainda não tem energia elétrica
e aqui nem rádio de pilha funciona
como vou escutar o Gonzagão
vou ascender a luz do lampião
e , só vou escutar o grilo grilar
olhar pro espaço
ai som do coaxar do sapo
A sanfona era muito mais
que um mero instrumento
ela era minha companheira
ela me levava a minha infância
e a nosso cultura popular
ela me fazia sentir importante
ela me fazia sonhar
Mas minha mulher não teve paciência
ela não esperou eu arrumar um emprego
eu ia tocar uma boiada
lá pros lado da Bahia
Ela vendeu minha sanfona para um maldito forasteiro
pegou o dinheiro e fez compras
temos comida pra mais de mês
Ela preteriu a cultura
por sua gula
sim vamos ficar de barriga cheia
por um bom tempo
Mas aqui no sertão não tem cinema
nem teatro , e também não tem escola
sou um analfabeto
sem cultura nenhuma
queria ler Ariano Suassuna
mas ainda não consigo
minha sanfona era a única ligação
que eu tinha aos sonhos
ao lírico artístico
Mas logo vou ser contratado , serei um bom boiadeiro
ou um competente capataz
vou comprar outra sanfona
e mesmo que minha mulher
morra de fome
ela não venderá jamais
a sanfona desse homem