Minha mulher vendeu minha sanfona

E num é que essa muié teve a pachorra

de vender minha sanfona

ela justifico esse ato

dizendo que vendeu meu instrumento

pra colocar comida nu prato

Um cabra do sertão, que seja fã de Gonzagão , troca qualquer alimento

para ter esse instrumento

Mais , Maria que não é cheia de graça

cometeu essa loucura

cansou de comer rapadura

vendeu minha sanfona , e trouxe da mercearia, carne de sol , de porco

feijão de corda e farinha

Filha de uma égua, aqui em casa

ainda não tem energia elétrica

e aqui nem rádio de pilha funciona

como vou escutar o Gonzagão

vou ascender a luz do lampião

e , só vou escutar o grilo grilar

olhar pro espaço

ai som do coaxar do sapo

A sanfona era muito mais

que um mero instrumento

ela era minha companheira

ela me levava a minha infância

e a nosso cultura popular

ela me fazia sentir importante

ela me fazia sonhar

Mas minha mulher não teve paciência

ela não esperou eu arrumar um emprego

eu ia tocar uma boiada

lá pros lado da Bahia

Ela vendeu minha sanfona para um maldito forasteiro

pegou o dinheiro e fez compras

temos comida pra mais de mês

Ela preteriu a cultura

por sua gula

sim vamos ficar de barriga cheia

por um bom tempo

Mas aqui no sertão não tem cinema

nem teatro , e também não tem escola

sou um analfabeto

sem cultura nenhuma

queria ler Ariano Suassuna

mas ainda não consigo

minha sanfona era a única ligação

que eu tinha aos sonhos

ao lírico artístico

Mas logo vou ser contratado , serei um bom boiadeiro

ou um competente capataz

vou comprar outra sanfona

e mesmo que minha mulher

morra de fome

ela não venderá jamais

a sanfona desse homem

NEREU AIRTO AMANCIO FILHO
Enviado por NEREU AIRTO AMANCIO FILHO em 06/08/2024
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