O CANGAÇO
O cangaço era a família
que a minha vida animava,
para alegrar meu caminho
nenhuma mulher constava,
um cangaceiro assim
só esperava o seu fim
na luta em que se achava.
A manhã, no entanto, veio,
na luz que o sol derramava,
a terra ficou mais mansa
com a doçura que chegava,
era o encanto feminino
que em busca do destino
ao seu amor se entregava.
Com caça aprisionada
num alçapão sedutor,
sem ter por onde fugir
de um súbito e doce calor,
Maria se viu, então,
nos braços de Lampião,
lua nova em seu amor.
Como a essência da jurema,
do seu corpo se evolavam
os cheiros todos das brenhas
que nela se aglutinavam
e, assim feita e melhor sendo,
do cabra foi recebendo
o carinho que esperava.
O coração de Lampião
também padece de dor,
também hospeda no peito
resquícios ternos da flor
que, acesa na infância,
acompanha-lhe nas distâncias
de solidão sem amor.
O coração ficou manso,
De homem tosco e selvagem;
Daí em diante acalmou-se
A fúria de sua coragem,
Nos braços dela aninhado,
Lampião foi dominado
Pela sua doce imagem.
Brusco chão de desespero
Nas caatingas perdido,
Davam-se nele milagres
só por alguém recebidos,
como os teve Lampião
na sublime ocasião
que o seu filho foi nascido.