O CANGAÇO

O cangaço era a família

que a minha vida animava,

para alegrar meu caminho

nenhuma mulher constava,

um cangaceiro assim

só esperava o seu fim

na luta em que se achava.

A manhã, no entanto, veio,

na luz que o sol derramava,

a terra ficou mais mansa

com a doçura que chegava,

era o encanto feminino

que em busca do destino

ao seu amor se entregava.

Com caça aprisionada

num alçapão sedutor,

sem ter por onde fugir

de um súbito e doce calor,

Maria se viu, então,

nos braços de Lampião,

lua nova em seu amor.

Como a essência da jurema,

do seu corpo se evolavam

os cheiros todos das brenhas

que nela se aglutinavam

e, assim feita e melhor sendo,

do cabra foi recebendo

o carinho que esperava.

O coração de Lampião

também padece de dor,

também hospeda no peito

resquícios ternos da flor

que, acesa na infância,

acompanha-lhe nas distâncias

de solidão sem amor.

O coração ficou manso,

De homem tosco e selvagem;

Daí em diante acalmou-se

A fúria de sua coragem,

Nos braços dela aninhado,

Lampião foi dominado

Pela sua doce imagem.

Brusco chão de desespero

Nas caatingas perdido,

Davam-se nele milagres

só por alguém recebidos,

como os teve Lampião

na sublime ocasião

que o seu filho foi nascido.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 05/08/2024
Reeditado em 11/08/2024
Código do texto: T8121998
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