O POETA E O PALCO
EU VOU ESCREVENDO COM A MINHA PENA
ESSES VERSOS QUE MUITO ME ANIMA
Eu sou filho de Bento e de Maria
Dos Carvalhos eu sou um dos descendentes
Somos os curtidores dos Repentes
Do bom Cordel e duma Cantoria
E assim eu vou seguindo a grande via
Nessa boa cultura nordestina
Eu percorri toda essa minha sina
No drama teatral que faz a cena
Eu vou escrevendo com a minha pena
Esses versos que muito me anima.
SOU BENTO DE BATIZADO
MEU VIVER É O SERTÃO
Personagem condutor
Faz o grilo assobiar
Canta o bode e a sabiá
Dá risada o espectador
Com o Grilo sendo ator
E assim vivo essa emoção
Fazendo interpretação
Meu texto lido e marcado
Sou Bento de batizado
Meu viver é o sertão.
NUM MERGULHAR DE SER UMA CRIANÇA
EXISTEM RIOS NASCENDO A CADA ANO
Eu sou pisciano por natureza
Nessa água que traço o meu destino
Vem daqueles bons tempos de menino
Carregava comigo esta pureza
Pois, depois de grande só a certeza
Deste lindo e majestoso oceano
Ao navegar cesso o desengano
Embutido nessa minha lembrança
Num mergulhar de ser uma criança
Existem rios nascendo a cada ano.
TODO CORDELISTA É UM POETA
NEM TODO POETA É CORDELISTA
Nos pergaminhos sóbrios da memória
Entre todas as lendas e a verdade
Das virtudes e da sinceridade
O meu diálogo se enche de glória
Nesse tráfego constante da história
Em cada passagem eu sou um artista
Pois quando escrevo eu sou mais ativista
Montado numa bela bicicleta
Todo cordelista é um poeta
Nem todo poeta é cordelista.
Cada umas das estrofes que se escreve
É rima cantada por conseguinte
Porque na rua tem tanto pedinte
Na linguagem pra lá de ficar breve
O que muito se pede não serve
Literatura é mais pacifista
Ela jamais se fará pessimista
Neste cordel sigo na linha reta
Todo cordelista é um poeta
Nem todo poeta é cordelista.
Essas sextilhas da minha vovó
Todas se perderam pelo caminho
Por elas nutro muito carinho
Não vejo como se fosse nenhum pó
Eu trago a boa sina e não dou o nó
Nesta décima do meu olhar de artista
Que está vivendo nessa minha lista
Cordel brasileiro é minha meta
Todo cordelista é um poeta
Nem todo poeta é cordelista.
Cada tema que eu pego e logo leio
Eu percebo então o seu real valor
Mesmo me trazendo, porém, a dor
Eu brinco aqui como feito um recreio
Perambulando e rolando no meio
Pois, quem quiser me ver assim me assista
Chegue ao final e nunca desista
Aponte o relógio nesta dieta
Todo cordelista é um poeta
Nem todo poeta é cordelista.