A LENDA DO GRANDE ANEL
O Cordel vai tentar
Descrever com precisão
A Lenda que não vingou
E precisou de gratidão
Nos versos que escrevo
Talvez haja a solução.
Conta uma certa lenda
No tempo do meu avô
Havia uma menina
Que logo se apaixonou
E este que lhe conta
Com ela se casou.
Não quero me estender
E nem fazer rodeio
Foi uma história bonita
Apontando um seio
Desta jovem criatura
Que morou aqui no meio.
Ela foi bem pra longe
Mas um dia ela voltou
Chegando aqui na cidade
Logo comigo se casou
Depois fiquei viúvo
E minha vida se acabou.
Joana de Alencar foi
O nome daquela amada
Vestida de branco, linda
Minha vida foi contemplada
Depois de tantos anos
De mim foi desgarrada.
Sofro contando a todos
Fatos do meu passado
Vividos por um poeta
Que queria só ser amado
Mas Joana tão cedo fez
Meu presente amargurado.
Nunca fui de me expor
E hoje tenho que fazer
Morando numa lona
Penso em sobreviver
Montado no meu cavalo
Meu negócio é correr.
Correndo sem nada entender
Exponho o sonho num figurino
Comprado à prestação
Fiz o tempo do menino
Se queres a fatalidade
Segue aqui o teu destino.
Sonhando com os pássaros
Voando sem direção
A Lenda que foi contada
Alivia o coração
Faz valer a cada dia
O valor real do perdão.
A Lenda do Encantamento
Ninguém ouviu contar
Eu conto porque sei
Até onde pode parar
A sereia lá do riacho
Que só fazia cantar.
O mundo inteiro se curva
No mundo das tradições
A modernidade emperra
Várias das satisfações
O povo triste carrega
Mágoas eternas no coração.
A Lenda não tem escrito
Que o faça escritor
Quem escreve é o cabra
Que tenta ser condutor
Dos fantasmas do tempo
Nas contas do meu avô.
Quem faz parte do passado
Sabe bem o que escreve
Escorrega pelas letras
E quase nada se serve
A Lenda maltrata o povo
Com o poder da verve.
Todo mundo se sente
Criador e criatura
Um que sabe mais
E outro que faz loucura
O estudo de quem conta
Fica distante da tortura.
A Lenda da Moça Feia
Que tinha olhos bonitos
Vagueava pela noite
E homens, porém, aflitos
A Moça pegava o desejo
E juntava com seus gritos.
Joana de Alencar se foi
Indo bem longe morar
Hoje mora distante
E nem gosta de falar
Nesta história tão triste
Que o povo quer contar.
A Lenda de Joana Doida
Ronda por toda cidade
Deixa o visitante, enfim
Morrendo de curiosidade
Cada ouvinte daqui
Ouviu isto na mocidade.
Joana Doida foi uma cigana
Devota de um lugar
Chamado de muita coisa
Eu não sei nem como contar
Quem estava cochichando
Foi a velha Dona Tatá.
Dona Tatá é fofoqueira
E tem fama de escritora
Escreve muita mentira
De uma menina pastora
Que vendia muita ovelha
E fez uma virar doutora.
A Lenda de Dona Tatá
Se espalha pelo mundo
Também ali chegou
O caso de Seu Raimundo
Que ficou sendo o dono
Do Circo Giramundo.
Cada história que se ouve
Alegra nossa visão
Debaixo de uma lona
Eu faço minha condição
Contando estranheza
Acredite na evolução.
Se nasce e se vai vivendo
Se cresce e se vai partindo
A dor dos que partem
A saudade que vai surgindo
O passado pede passagem
O presente vai permitindo.
A Lenda que iniciei
Não me deu resultado
Casei com a menina
E logo fiquei separado
Fugi para bem longe
No amor fui azarado.
A menina me contou
E eu tão esperto descrevi
Histórias de seu passado
Que tão louco logo sentir
O povo dali tem muita Lenda
É só se sentar e tentar ouvir.
A Lenda da Vovó Lili
Ninguém quis escrever
Se não me engano
Um somente quis saber
O seu marido Sirino
Foi sozinho transcrever.
Muitas são as histórias
Pelo povo, contadas
Lendas e Fábulas
Todas elas admiradas
Cordéis e Contos
Muitas coisas misturadas.
A Lenda dos que se foram
A Lenda dos que ficaram
Cada história desconhecida
E muitas que me falaram
O Brasil e outros Povos
Os livros sempre explicaram.
Quando eu pego um livro
Vejo as adivinhações
Debruço sobre a obra
Histórias de assombrações
A leitura das Lendas
Causam-me grandes sensações.
A Lenda da Chica Doida
Minha Avó sempre contou
Ela teve muitos filhos
Mas nunca se casou
Nasceu faltando um olho
E o Cordel foi lá e botou.
Cada tema, cada trama
As tragédias e os dramas
Histórias que enriquecem
De príncipes e damas
A Lenda de Dona Rita
Que voavam suas camas.
Destas histórias todas
Uma só eu aprecio
É a história do Cordel
Eu todo me arrepio
O Cordel bem brasileiro
Foi a Lenda do Brasil.
E eu aqui tento chegar
Ao fim deste Cordel
Deixando todas as Lendas
Voando rumo ao céu
Quem gostou, conte comigo
A Lenda do grande anel.