PEDIDO NORDESTINO

Veja bem, preste atenção

Ao pedido nordestino

Nunca cessa nessa gente

Como se fosse desatino

O cordel unirá as forças

Pra falar deste destino.

O Nordeste é um celeiro

De poetas e cantadordes

Na arte tem tudo um pouco

Na cantoria dos doutores

O pedido deste meu povo

É a soma de mais amores.

Em cada canto do Nordeste

Uma poesia foi plantada

O poeta cuida dela

Pra ela ser recitada

O repente se ouve ao longe

Numa grande empreitada.

Não se pode pedir muito

Porque o pouco nunca chegou

Nordestino cabra forte

No trabalho não se curvou

A sua intelectualidade

No Brasil ela brotou.

Quando o nordestino pede

É a soma de uma rima

Ultrapassando barreiras

E levando o homem para cima

Deixando o verso voar

Na saia de uma menina.

Neste momento aqui

Ficou um pouco ressentido

Com o pensamento pobre

Que se tem acometido

Na boca de uma gente

Que nunca fez o seu pedido.

Só uma coisa eu te peço

Sem querer muito te pedir

Eu te peço por favor

Nunca me peça pra mentir

Vou te pedir humildemente

Jamais queira se iludir.

Eu te peço pra votar

Pode pedir minha opinião

O candidato que eu voto

Pode não ser a salvação

Pense bem no que eu te peço

Ele entende de educação.

O meu pedido é muito pouco

Deste cabra da peste nordestino

Não preciso de arma na mão

Sei qual é o meu destino

Não posso votar naquele

Que bota arma em menino.

Só uma coisa eu te peço

Sei que és inteligente

Vote por um Brasil

Que pensa muito na gente

Sei que peço muito pouco:

- Livra-nos do intransigente.

Vou te pedir ligeiro

Pra logo ser atendido

Visitar meu Padre Ciço

Que em casa tem me benzido

Vou direto ao Juazeiro

Lá não tem entristecido.

Meu Nordeste brasileiro

De amor e gratidão

Terra de mulher bonita

Que mora no meu coração

Sou lá da Paraíba

De São Cosme e Damião.

Montado em cavalaria

O sotaque caipira se foi

Ficou a língua mãe da gente

Aquela que é igual a boi

Destes brabos da cocheira

Que a gente não conta nem dois.

O matuto do pé da serra

Estivador de montanhas de navios

Sonha em passear na cidade

E ao chegar ouve-se os arrepios

É que ele não sabe distinguir

O vento, o calor e o frio.

O sertanejo só sabe esperar

E tome chuva pra tanta espera

É que o sertão hoje em dia

Secou no rastro de uma fera

E o matuto e o caipira

É o sertanejo de vera.

O homem por sobre as coisas

De todas linguagens do mundo

Sofre por nada entender

E apenas o seu coração profundo

É mágoa que dilacera o tempo

No ataúde de um moribundo.

Na plantação desta colheita

O trabalho foi coletivo

Um plantando, outro colhendo

Tudo pelo aumentativo

Num pedaço de terra

Há semente para o cultivo.

Quando o Nordeste pede

Não é esmola recebida

É fruto de um trabalho

De uma gente comprometida

Que faça chuva, faça sol

Dando mais sentido à vida.

Somos todos iguais no nome

Na raça e na distinção da vida

A fala que muitas vezes erra

Nos confronta na descida

Precisamos recompor o verbo

É linguagem nossa da subida.

Eu aqui estou pedindo

Tão carente que estou

Um verso para mamãe

E papai com muito amor

Sou nordestino das brenhas

Pego carona no condor.

Quero pedir sem ousadia

Um olhar que fique aqui

No olho do nordestino

A verdade pode fluir

O poema que dele inspira

O Brasil pode sentir.

Quando se pede o muito

O pouco chega mais ligeiro

Vem voando pelas ripas

Por cima do umbuzeiro

Trazendo muita fartura

Na sombra de um cajueiro.

Desde o tempo de menino

Ouço minha avó contar

Que o Nordeste foi o pedido

E aqui se fez chegar

A terra seca, mas boa

Tudo pode se plantar.

Não peça o impossível

Que possivelmente ele venha

No rastro de um galope

De Nossa Senhora da Penha

Que abre as comportas

Como fumaça na lenha.

O pedido que eu faço

Não se mede o seu contexto

Alinha-se com a métrica

Sendo este o pretexto

A rima que se estabelece

Forma-se assim um belo texto.

Aos mãos indo ao alto

Não é por causa da religião

O nordestino ergue o braço

E pede até uma procissão

O andor que ele carrega

Em sinal de gratidão.

Na igreja de um povoado

O religioso pede muito

Quer tirar do ataúde

Quem virou até defunto

Fala até da vida alheia

E colhe muito assunto.

Na cantoria de viola

O Nordeste pede bis

Valorizando nosso povo

No complexo do país

Acredito na semente

Que deixa o povo feliz.

Vou tentar o momento

E ficar mais acessível

Meu cordel mais lido

Na história compreensível

Sempre levar o leitor

Ao momento imprescindível.

E assim saio correndo

Pra não ser mais vulnerável

Vou em busca do certo

Ficar assim estável

Plantado na afirmativa

Achando isto louvável.

Livra-me dos pecados

E de toda injustiça

Do processo que circula

Do povo que se atiça

Livra o pobre coitado

Do urubu esta carniça.

Meu Senhor me dê licença

Chego aqui e fico triste

O que acontece aqui

É o mal que só existe

E o bem de alguma forma

Parece que logo ele desiste.

Agora vou terminando

Este pedido nordestino

Determinado pelo juízo

Neste dia vespertino

Se não for do seu agrado

Já sei que és um argentino.

O cordel quando termina

Se sente bem comprometido

Com o povo do Nordeste

Que não cansa de pedido

Oh! Que vida iluminada

Viver assim tem mais sentido.

Peço ao povo nordestino

A oração que vem da terra

Arando a plantação

Nos frutos de uma serra

O cordel faz seu pedido:

- Meu Deus por que a guerra?

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 29/07/2024
Reeditado em 13/09/2024
Código do texto: T8117450
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