PAVÃO MYSTERIOSO ENTRE A TURQUIA E A GRÉCIA

Lançado em 74

No disco do mesmo nome

O “Pavão Mysteriozo”

Virou canção de renome

Com o cantor Ednardo

Onde o poema ele come.

Digere e faz releitura

Do folheto renomado

Isso em plena ditadura

Foi até utilizado

Como tema de novela

Vinte vezes regravado.

Novela Saramandaia

Que quer dizer bruxaria

Recebeu inspiração

E seu entrecho copia

Do Pavão Misterioso

A sua densa magia.

Grande escritor Dias Gomes

Foi o autor da novela

Produzida pela Globo

Revelando em sua tela

Personagens esquisitos

Em criativa aquarela.

Na grande telenovela

Trabalhou Juca Oliveira

Sônia Braga e Dina Sfat

Também fizeram carreira

Com Yoná Magalhães

Nessa história brejeira.

Ary Fontoura atuou

Junto com Castro Gonzaga

Milton Moraes, Wilza Carla,

Nessa delirante saga

Até Antonio Fagundes

O seu talento propaga.

Eu pretendo aqui falar

É da canção de Ednardo

Que na sua trajetória

Sempre carregou o fardo

De ser autor de protesto

Como combatente bardo.

A canção de abertura

Dessa novela global

É o “Pavão Mysteriozo”

Um maracatu rural

No primeiro disco solo

Do artista genial.

Ednardo mesmo conta

Que em um dia inspirado

Lembrou de um velho folheto

Remetendo ao passado

Quando era adolescente

No seu Ceará amado.

“Eu vou contar a história

De um pavão misterioso,

Que levantou voo na Grécia

Com um rapaz corajoso,

Raptando uma condessa,

Filha de um conde orgulhoso”.

Essa a primeira estrofe

Do cordel de aventura

Que muito sucesso fez

Apesar da impostura

De muitos que consideram

Ser subliteratura.

José Rezende, o autor,

Procedeu então ao pouso

Desse cordel incomum

Com seu trabalho famoso

Na memória literária

O Pavão Misterioso.

Vendeu dez milhões de cópias

Tiragem fenomenal

Para um cordel popular

De aparência normal

Mas que continha no enredo

Atrativo especial.

É novela, é aventura,

Tem ação, tem amizade

E no fundo do enredo

De ódio e de vaidade

Falava de independência,

Livre-arbítrio e liberdade.

Ednardo, na canção,

Quis traçar um paralelo

Do tempo da ditadura

Com o eterno duelo

Entre o bem e a tirania

E a donzela em seu castelo.

Sendo a dita donzela

A princesa Liberdade

Que vivia enclausurada

Vendo o mundo pela grade

Da militar tirania

De alta toxidade.

Ednardo fez o disco

Como um cordel urbano

Contando a saga de quem

Saiu no mundo sem plano

Inventando voo próprio

Pra fugir do desengano.

É um cordel emigrante

Gerando seu mecanismo

Construindo outro universo

Para se livrar do abismo

De uma vida sem sentido

Numa espécie de escapismo.

Tudo isso na batida

Do maracatu escravo

Criado em Pernambuco

Por aquele povo bravo

Pele negra e sol na alma

Arte como desagravo.

Maracatu sedutor

Dos carnavais de outrora

Leva a toada da ave

Nessa peleja sonora

E o Pavão Mysteriozo

Ganha a batalha na tora.

Porque tudo é mistério

Nesse voar libertário

Nessa cauda aberta em leque

Brigando com o corsário

Que roubou soberania

Em influxo arbitrário.

No escuro dessa noite

A cantiga do Pavão

É sua arma secreta

Para combater o Cão

Das profundezas saindo

Acorrentando a Nação.

Porque um conde raivoso

Cheio de força e medalha

Com seus canhões fraticidas

Investe contra a gentalha

Impondo a tirania

A Lei Maior emporcalha.

Não temas minha donzela

Que o Pavão vai te salvar

Por mais esquadras que tenham

Lhes falta o dom de sonhar

Nesse caso, eles são muitos

Sem mestria de voar.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 28/07/2024
Reeditado em 13/09/2024
Código do texto: T8116339
Classificação de conteúdo: seguro
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