NA CADEIRA TRINTA E UM, FRANCISCO ME FEZ SENTAR

Meu patrono me proteja

Na cadeira que vos sento

Nesse número trinta e um

Tem cabra por nome Bento

Nas sextilhas a seguir

O cordel quer cem por cento.

Academia, meu rebento

Nobre patrono Francisco

Rimando pelos caminhos

Nos mares que tem marisco

Sales Arêda repentista

Teus versos sempre belisco.

O seu jeitão quase arisco

É mote que sempre ensina

De garra dessa leitura

O cordel me contamina

Oh! Meu Poeta cantador

Da linda terra Campina.

És essa Ave de Rapina

Que no céu já faz morada

No toque da tua viola

Eu te chamo camarada

Nos cantares do Nordeste

Meu sertão quer chuvarada.

Francisco é de bancada

Me falou velho Suassuna

A Farsa da Boa Preguiça

Vem do Poder da Fortuna

O Homem da Vaca pensou

E nada lhes importuna.

Bota Prestes na coluna

Tantos temas no cordel

Campina lhe viu nascer

Caruaru lhe deu plantel

Desafios incontáveis

Viveu nosso menestrel.

Palavras no carretel

Serão todas formatadas

Oh! Francisco, meu patrono

Das frases tão comentadas

Campina Grande foi berço

Dessas obras adaptadas.

Mãos que serão levantadas

Saudosistas recitais

Nas calçadas da cidade

Das tardes que são cristais

Francisco não perdeu prumo

Na terra dos ocidentais.

No culto dos orientais

Surgem tantos personagens

Poetas que são noturnos

Vivem criando as paisagens

Botando nessas estrofes

Ilusões fortes das visagens.

Francisco tem as imagens

Louvo sempre meu patrono

Francisco Sales Arêda

Faz tanto bem pro meu sono

Das leituras que dele faço

Me sinto dentro do trono.

Sales Arêda é dono

De tantas histórias de amor

Conheceu sombras na vida

Nos rastros do dissabor

Fez valer todo seu dom

O meu nobre cantador.

Voando feito condor

Pelos céus do meu Nordeste

O poeta quer ser chamado

Sujeito cabra da peste

Daqueles que têm bisaco

Desse sertão, brejo e agreste.

Nunca fale cafajeste

Na frente do nordestino

No cantil do cangaceiro

Ele faz o seu destino

Francisco bate no pote

E bate em qualquer cretino.

Sertanejo em desatino

Já caçou, pegou preá

Nadou nos rios da seca

Na cartilha fez beabá

Subiu árvores tardias

Pra beber com um gambá.

Fazendo aqui e acolá

Meu patrono erudição

Me posta nesse caminho

Numa bela expedição

Pelas trilhas do lugar

Já sei dá explicação.

Tão fértil a devoção

Desse valor de respeito

Francisco Sales Arêda

Grito batendo no peito

És poeta que muito honra

Nessa arte fazes efeito.

Quando leio que me deito

Aprendo tuas escrituras

Nos folhetos populares

Sonho com belas criaturas

O patrono é quase pai

Dessas minhas aventuras.

Tuas rimas tem posturas

Dos versos que se declama

No ritmo de qualquer canto

A música se proclama

Cantores do meu Nordeste

É amor que se derrama.

Quem grita nunca me chama

Pena por nunca querer

Vivo nas portas do mundo

Toco pra sobreviver

Nos corações deprimidos

Lágrima vai derreter.

Leitores nunca vão ler

Os escritos do passado

No máximo querem ser

Aquele verso malvado

Que faz glosa desventura

Pra qualquer um pé rapado.

Meu patrono tem postado

Quem se diz nunca faz canto

Se canta sem ter viola

É santa que não tem manto

Vive solto sem ter asa

É juiz que não faz pranto.

Padim Ciço se fez santo

Pelas terras do Juazeiro

Meu patrono quer o céu

Pro cabra ser presepeiro

Nos cordéis que são benditos

Batem em qualquer coiteiro.

No meu cordel brasileiro

Meu patrono tem cadeira

Francisco Sales Arêda

Cheira flor de laranjeira

Eterniza toda página

Nas conversas de parteira.

Minha nação brasileira

Campina Grande tem pressa

Louva teus filhos com luz

Põe na vista tua remessa

Massageando teus dotes

Ligeiro quase depressa.

O poeta faz promessa

E vai seguir romaria

Frei Damião lá dos altos

Canta pros filhos de Maria

Padim Ciço se conforma

Nos sermões que eu não faria.

Meu patrono mostraria

Os acervos dos teus escritos

Pra soletrar pra essa gente

O alimento dos aflitos

Que dormem sem cobertores

Perto de tantos delitos.

Nesse cordel dos conflitos

Tem casamento e herança

Com aquela Chica Pançuda

Um amor quase criança

Casa Bernardo Pelado

Será que teve vingança?

Três meses, pouca festança

Num tal ensino formal

Seu viver vem das andanças

Do bodegueiro informal

Que aprende tudo na prática

É quase tudo normal.

Nas quengas dum animal

O juízo bate biela

A água desce ligeira

Nos trapos de cabidela

O poema que ele escreve

Fala dele e fala dela.

Nos cines da grande tela

Cidadão da Borborema

Foi filho de agricultor

E resolveu seu problema

De Campina pra Caruaru

Haja luz pro seu tema.

Eu não vou dizer meu lema

Do fotógrafo ambulante

Lambe-lambe foi-se tempo

Dos retratos de volante

Vou declamar com fervor

Para qualquer habitante.

De forma bem elegante

No mundo positivista

Fiz teus versos meu lugar

Pra Francisco cordelista

Não boto nenhum acróstico

Por si só és populista.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 28/07/2024
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