MEU FOLHETO, MEU CORDEL
Trilhando pelo cordel
Em processo solidez
Tentando de certa forma
Construir com rapidez
Tantos deles, contratempo
Outros, como passatempo
Num giro com lucidez.
Quem pensa fazer cordel
Que venha causar saudade
Sabe do valor da métrica
Nas rimas de liberdade
De posse do seu caderno
Teu lápis será moderno
Pra descrever qualidade.
Bem pequeno com vovó
Numas feiras populares
Ouvindo bons repentistas
Tantos deles com colares
Esticados em cordões
Nos postais desses bordões
Botei todos nos pilares.
O cordel feito de temas
De tão gentil importância
Frases que fazem dormir
Na mais fiel elegância
Histórias belas contadas
Tantas delas recontadas
Pra sucumbir ignorância.
O cordel já é destaque
Nesses bancos pedagógicos
Para crianças e velhos
Nos estudos ontológicos
É sempre bom ter franqueza
Sem perder toda riqueza
Nos campos metodológicos.
Faz importante frisar
Com prazer sem ter rasura
Nosso cordel virou método
Dizemos com formosura
É livro pro nordestino
No Brasil com seu destino
Buscando trazer lisura.
Valorizar o cordel
Na vital etnologia
Faz nossa literatura
Virar metodologia
Ensinar pro nosso povo
Das antigas e do novo
E também mitologia.
O cordel tem seu valor
Nós devemos concordar
Com seu serviço prestado
Ninguém pode discordar
Suas estrofes rimadas
Com orações estimadas
Sempre vamos recordar.
O cordel se comunica
Como notas em jornais
Vivendo da produção
Dos seus profissionais
Desperta divertimento
Trabalhando sentimento
Na fase dos terminais.
O cordel faz ligação
Com promessa nordestina
Romarias permitindo
Pro fiel que se destina
Hinos dos templos sagrados
Haja tempos consagrados
Pra vida não clandestina.
Nosso cordel brasileiro
Fator dos grandes presentes
No bêbado que dá porre
Dos seres onipresentes
Está contido na fé
Desses que tomam café
E dos que vivem ausentes.
Do padre que reza terço
Da madre das penitências
Do pecador sem ter cura
Nas negações das ciências
É cordel com nitrogênio
Desse fatal hidrogênio
Das viés maledicências.
Lampião, rei do cangaço
Nessas regiões catingueiras
Com bandoleiros valentes
Nesse facho das fogueiras
Picharam todos corsários
Nas mentiras dos falsários
No cordel das bodegueiras.
Desde tempo dos pecados
Das fábulas europeias
O cordel já tinha vindo
No rastro das centopeias
Ensinando com prazer
Pois quem tentasse fazer
Liam onomatopeia.
As mágicas tradições
Contadas pelo cordel
Xilogravuras de capas
Das potocas de bordel
Nessas famosas temáticas
Em moderníssimas práticas
Sem facetas do bedel.
As gráficas nordestinas
Estão sempre conduzindo
As belezas literárias
Como também produzindo
Cordéis de tempos outrora
Para quem rir, pra quem chora
Que chegam nos reluzindo.
Leitores e criadores
Da verve tipo gracejo
Estilos são levantados
Alguns nos darão bocejo
Personagens que são tantos
Diabólicos e santos
Sou daqueles que manejo.
Nos parágrafos em cena
O cordel se pautará
Para mostrar resistência
Se preciso lutará
Pelo formato livreto
Seja branco, seja preto
É fruto que brotará.
Misturar conhecimento
Pra toda população
Ensina jovens, adultos
Numa baita relação
O cordel proporciona
Na prática funciona
Sem fazer simulação.
Sabedores do país
Setores aprendizagens
Trabalhando com cordel
Decifrando vãs paisagens
Purificam fantasia
No texto da poesia
Rimando com as imagens.
Leitores desse Brasil
A leitura põe respeito
Dá noção pra quem não sabe
E para quem é suspeito
O cordel alfabetiza
Como também magnetiza
Nossas batidas do peito.
Cordeltecas nas escolas
Lugar referencial
Discentes valorizados
No grande material
Postura disciplinar
O cordel faz ensinar
Eis sua credencial.
Espaço feito de gente
Que nós vamos perceber
A noção de transformar
Disciplinas do saber
Escrever com precisão
Refletir com inclusão
Na fonte vamos beber.
No sertão desse Nordeste
O cordel virou cartilha
No Brasil nós aprendemos
Como trem que vem na trilha
Se você já leu bem alto
Ensinar dá tanto salto
É vida que se partilha.
O Nordeste é celeiro
Das garras dos trovadores
São quadras que dão recado
Pro mote dos cantadores
Cordel de fácil estudo
Quem gosta se faz sortudo
É luz pros pesquisadores.
Conheci tantos senhores
Brilhantes comerciantes
Produtores literários
Valentes negociantes
Divulgadores ativos
De fatos intempestivos
Das obras iniciantes.
No processo das palavras
Autores criam histórias
Nas rimas de cada verso
Haja gritos de vitórias
O cordel é professor
Na crença é confessor
Das eras das palmatórias.
Temos tantos cordelistas
No Nordeste benzedeiro
Produzindo com fartura
Os folhetos verdadeiros
O cordel é patrimônio
Conosco fez matrimônio
No cantar dos boiadeiros.
Leandro Gomes de Barros
Um paraibano profundo
Desse conhecido mestre
Seu produto não confundo
Na criação é progênito
No cordel é primogênito
Seus versos sempre difundo.
Com seus cordéis pendurados
Nosso popular comanda
Nas feiras lá do sertão
Andarilho é quem manda
Leandro foi calculista
De profissão cordelista
No verso que não demanda.
É por demais importante
Conhecer nossos autores
Estudar com altivez
Analfabetos, doutores
O Nordeste é escola
com cordel nessa sacola
Fiz glosa dos tradutores.
Meu Folheto, meu Cordel
Pro Brasil botar na testa
Nos escritos que são lidos
Seus versos ninguém contesta
Portanto, vou terminando
Correndo vou germinando
Pro Nordeste fazer festa.