A tinta branca do tempo

A tinta branca do tempo

Há muito tempo me pinta

A minha infância já foi

Há muito tempo extinta

Hoje não tenho mais ela

Ponho o metal da fivela

No último furo da cinta

A tinta branca do tempo

Pintou meus pais, meus avós

Estes cumpriram suas metas

Deixando a vida pra nós

E na mansão dos finados

Foram então sepultados

Sob albinos lençóis

A tinta branca do tempo

Sobra num parco galão

Aumenta ao passo do uso

Quando der outra demão

O tempo paga e cobra

E a tinta branca que sobra

Vai pintar outro, então

A tinta branca do tempo

Em pouco tempo ela dura

É uma cor que demarca

Que empalidece a figura

Só num lugar prevalece

Resiste e pouco perece:

Na orla da sepultura.

Bosquim
Enviado por Bosquim em 27/07/2024
Reeditado em 27/07/2024
Código do texto: T8115916
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