A tinta branca do tempo
A tinta branca do tempo
Há muito tempo me pinta
A minha infância já foi
Há muito tempo extinta
Hoje não tenho mais ela
Ponho o metal da fivela
No último furo da cinta
A tinta branca do tempo
Pintou meus pais, meus avós
Estes cumpriram suas metas
Deixando a vida pra nós
E na mansão dos finados
Foram então sepultados
Sob albinos lençóis
A tinta branca do tempo
Sobra num parco galão
Aumenta ao passo do uso
Quando der outra demão
O tempo paga e cobra
E a tinta branca que sobra
Vai pintar outro, então
A tinta branca do tempo
Em pouco tempo ela dura
É uma cor que demarca
Que empalidece a figura
Só num lugar prevalece
Resiste e pouco perece:
Na orla da sepultura.