O Filho Da Tereza

No Brasil existe mistério

Contos dos tempos ancestrais

Como a história da noiva do cemitério

Contada pelos meus pais

Que um dia cometeu adultério

E não viveu nunca mais

A história que hoje eu lhes conto

É difícil de se crê

Pode até te deixar tonto

Se o redemoinho for vê

Ouvi esse desponto

Quando ainda era bebê

Mas é caso muito sério

Eu posso contar o porquê

Foi com o meu tio Rogério

Que o fato veio a acontecer

Nas terras do seu Valério

Antes do dia amanhecer

Ele andava na tristeza

Nem sorria, nem cantava

Com saudades de Tereza

A moça que tanto amava

Que pra ele era a princesa

Que no seu coração morava

Tinha tamanha beleza

Que outra a ela não se comparava

Dona de uma grande pureza

Que de longe se notava

E uma imensa gentileza

Que a todos, bem tratava

Mas num dia anterior

Ela desapareceu

Foi perto do interior

Pro mato se escafedeu

Ninguém sabe o que rolou

O que foi que aconteceu

Só diziam que a Tereza

Com outro homem fugiu

Na noite e na sutileza

Foi por isso que ninguém viu

Isso só aumentava a tristeza

No coração do meu tio

Que chorava sem parar

Todo dia que passava

Cansado de esperar

Notícias daquela que amava

Talvez nunca iria voltar

Mas ansioso ele esperava

Numa noite caminhando

Perto da mata ele ouviu

Parecia alguém chamando

Sentia um calafrio

Seu nome estava escutando

Junto de um assobio

Era a voz de Tereza

Com certeza ele dizia

Que do meio da mata escura

Bem alto se ouvia

Mas não se via a figura

Da amada que tanto queria

Adentrou então na mata

Tentando encontrar ela

A escuridão era abstrata

Como cenário de novela

Pra iluminar carregava um pires prata

E sobre ele, uma vela

Quando foi se aproximando

De onde a voz vinha

Logo foi notando

Bem longe uma casinha

E consigo mesmo pensando

Lá deve estar a amada minha

E logo que chegou na casa

Ouviu um grito de socorro

Era mesmo sua amada

Que estava ali trancada

Ao teu chamado que me incorro

Com um coice entrou na casa

Fez a porta se movê

E vendo um sujeito sentado

Disse hoje você vai tê

Eu mato ou morro e tá acabado

E minha amada cadê?

Mas quando o homem se levantou

Valha-me nossa senhora

Foi o que ele falou

Sem ter como ir embora

Aquele sujeito berrou

Igual a grito de caipora

Tu vens na minha morada

Enfrentar minha razão

Esperando encontrar a amada

Só com vela, sem lampião

Mas daqui não leva nada

A não ser a marca do meu facão

De medo nem se movia

Nem sabia o que dizê

Quando no chão o que via

Fez ele se estremecê

Pois só uma perna aparecia

Era o tal do pererê

A luta foi muito forte

Relâmpago no céu se via

Era soco, coice e corte

Lâmina que lambia

Naquela noite um dos dois a morte

Enfim conheceria

E num descuido do sujeito

Bem no chão ele caía

Resvalou, não teve jeito

Só uma perna não resistia

E sentiu o golpe no peito

Era o facão que o abria

Estava morto o sujeito

Bem no chão da sua morada

O homem bem satisfeito

Foi procurar a sua amada

No porão escuro e estreito

Foi que achou ela amarrada

Veio embora com Tereza

Guiado à luz da estrela d'alva

Resgatou sua princesa

Agora estava salva

E nunca teve tanta certeza

De como ela o amava

Mas o tempo foi passando

E a moça de um jeito estranho

Vivia vomitando

Um líquido amarelo castanho

E desmaiava quase sempre

Quando estava no banho

Alguns meses se passaram

E ela foi ver um doutor

Chegava estar pálida

De pele quase sem cor

Quando o médico disse que estava grávida

Ela não acreditou

O homem tava feliz

Finalmente, pai seria

Pros quatro cantos ele diz

Meu fio vem daqui uns dia

Era de torcê o nariz

De tanta sua alegria

Mas no dia no nascimento

Foi grave o grito na sala materna

Pois ao ver o acontecimento

A raiva se foi eterna

Ao ver o filho nascendo

Somente com uma perna

E desde esse dia não disse uma palavra

E ninguém mais o viu ali

Meu tio pelo mundo se mandava

Dizendo que jamais voltaria aqui

Pois a mulher que ele amava

Deu cria ao filho do saci

Welerson Recalcatti
Enviado por Welerson Recalcatti em 26/07/2024
Código do texto: T8115451
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