ZÉ CAMPOS E PÉ DE VENTO
(cordel)
Existia no estado mineiro
Um tal chamado Zé Campos
Era um homem matreiro
Ligeiro como relâmpago
Segunado sua longa história
Era temido em muito valente
Sempre conheceu a Vitória
Era homem bem diferente
No gatilho ele era o tal
Só acertava na mosca
Era fora do normal
Com ele não tinha tosca
Todos os que o conhecia
Tinha dele até pavor
Pois nada ele temia
Ele era mesmo um terror
Ninguém gostava dele
Devido sua posição
Todos desejava que ele
Fosse logo pro caixão
Pois na terra dos pés juntos
Onde a alma deixa de existir
Ali nenhum dos defuntos
Pode aos outros perseguir
Embora todo mundo desejava
Que ele logo monstro morresse
Mas este desejo não realizava
Nem que uma cobra lhe mordesse
E assim o tempo foi passando
E toda aquela gente sofria
E era o homem mais tirano
Que naquela região havia
Até que depois de um tempo
Para mudar aquela situação
Lá apareceu o Pé de Vento
Outro homem sem coração
Da história tomou conhecimento
Ficou de tudo bem informado
Comentou com os vizinhos
Podem ficar todos sossegados
Eu não vim aqui por acaso
Fui pelo governo enviado
Este será apenas mais um caso
Dos que eu tenho tratado
Como este homem é famoso
Por isso vim bem preparado
Ele não é o todo poderoso
Por isso fui muito bem treinado
Mesmo que ele dê trabalho
Com isso estou bem acostumado
Será carta a menos no baralho
De todos os que tenho jogado
Vou amanhã conhecê-lo
Ver se ele é de fato tudo isso
Mas mesmo antes de vê-lo
Já digo que não será difícil
Ouvi dizer que ele tem
O corpo todo fechado
Mas isso só mostra também
Que ele pode ser alvejado
Eu tenho a arma certa
Pra isso eu vim preparado
Pro diabo vou lhe fazer oferta
Com a alma deste desalmado
No outro dia portanto
Logo depois do amanhecer
Todos queria ver o encanto
Junto com Zé Campos morrer
Na pracinha da cidade
Os valentões se encontraram
Zé Campos e o Pé de Vento
Como feras se olharam
Aquela pequena multidão
Que ali se encontravam
Até batiam seus corações
E todos se admiravam
Por que coisa como aquela
Eles nunca tinham observado
Pois cidade era pequena
E todos estavam assustados
Não demorou quase nada
Os dois se indispuseram
A ver qual dos dois camaradas
Mais qualidade trouxeram
Com apenas um tirambaço
O Zé Campos rodopiou
Como um boi pego ao lado
Na praça ele debruçou
Pé de Vento calmamente
Olhando para o céu
Virou para aquela gente
Abanando o seu chapéu
Despediu de todo mundo
Deixando seu dever cumprido
Agora com palavras profundas
Faz a sua despedida
Amigos que aqui encontrei
Minha história era também a sua
Pois este perverso que matei
Deixou minha família toda nua
Matou meu pai covardemente
Sem lhe dar qualquer explicação,
Então coloquei em minha mente
Um dia mato este filho do cão
E hoje como puderam presenciar
Cumpri minha triste missão
Também pude dele lhes salvar
Tirem suas próprias conclusões
Assim estou indo embora
Vou cuidar da minha vida
Vou viver como outrora
Junto a minha esposa querida
Assim Pé de Vento se despediu
Daquela gente agradecida
Nunca mais ninguém ouviu
Mais falar de sua vida
Aquele lugar ficou tranquilo
Todos agora tinham paz
Pois viram que Zé Campo, aquilo
Só podia ser coisa do Ferrabrás!