VERSOS SERTANEJOS
VERSOS SERTANEJOS
Autor Evaristo Geraldo
Nasci na zona rural,
Nos cafundós do sertão.
Tenho, assim, satisfação
Quando estou no matagal.
Ver a aurora matinal
É algo que me fascina.
Quando o galo-de-campina
Canta sobre um juazeiro,
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
É no sertão onde sinto
O meu astral elevado.
Morar próximo de um roçado
É o meu sonho, não minto,
Em um bucólico recinto,
Longe de carro, buzina.
Tendo só a lamparina
Como único candeeiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
Viver no sertão é ter
Acesso a tudo mais puro:
Coalhada, feijão maduro,
Água pura pra beber,
E ver o dia nascer
Quando a aurora descortina
O véu da noite, a neblina
Que cobria o tabuleiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
As pessoas do sertão
Sempre terão meu aprovo,
Pois admiro esse povo
Que ara e cultiva o chão;
Seja no inverno ou verão,
Cumpre uma árdua rotina.
Eu louvo quem tem a sina
De ser matuto e roceiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
Eu sou sertanejo nato,
Filho e neto de matuto.
Papai fez do solo bruto
Sua escola e patronato.
Ele sempre foi mui grato
À providência divina.
Ele não usou a batina,
Mas Deus foi seu timoneiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
É difícil um sertanejo
Sofrer estresse ou entraves,
Pois acorda ouvindo as aves
Com seu cantar benfazejo.
É belíssimo o cortejo
Dos pássaros numa colina,
Orquestra que não declina,
De dulçor alvissareiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
Para quem vive na roça,
É a vida bem mais calma:
De carro, não sofre trauma,
Pois seu veículo é carroça.
Mesmo quem mora em palhoça,
Na crença, não desatina;
Tem fé pura e cristalina
No seu santo padroeiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
Quem nunca viveu no campo
Não dá devida atenção
Ao ribombar dum trovão
Ou o despontar dum "relampo".
Não conhece o pirilampo
Que nas noites ilumina,
Piscando com luz tão fina
Do seu minúsculo luzeiro.
Os meus versos têm o cheiro
Da fragrância campesina.
FIM