Eu queria ter metade / Da garra que mamãe tem
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem
Autor: Evaristo Geraldo
Mamãe é uma heroína
Bem mais forte que as das telas.
Venceu diversas procelas,
Cumpriu pesada rotina.
Desde o tempo de menina
Trabalha e prática o bem,
Nunca fez mal a ninguém,
Vive com dignidade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Minha mãe casou novinha
Só tinha dezesseis anos.
Teve eu e mais dez manos,
E da lavoura à cozinha
Plantou, criou, fez farinha,
Labutou como convém.
Nunca deveu um vintém.
É mulher sem vaidade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Na época que mãe morava
lá no nosso Rinaré,
Cedo fazia o café,
Todo dia madrugava
E quando o sol clareava
Dava pros pintos xerém.
Era lindo o vai-e-vem...
Hoje lembro com saudade!
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Mamãe nasceu na Ribeira
Do grande Banabuiú.
No Rio pescou pitu.
Foi uma exímio parteira.
Tirou lenha pra fogueira.
Rezou terço, disse amém.
Fez de tudo o que convém
Com muita sobriedade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Vejo com muita alegria
Mamãe lúcida e atuante.
Hoje ela inda faz bastante
Bordado e tapeçaria,
Trabalha, então, todo dia
E seu vigor vai além
Pois, dá conselhos pra quem
Tem deles necessidade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Minha mãe é exemplar
Mulher de grandes talentos.
Tem vastos conhecimentos,
Soube bem nos educar.
Mamãe fez para pescar
Tarrafas pra mais de cem.
Se precisar vai além,
Pois, não lhe falta vontade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Lembro da minha mãezinha
Tarrafeando no açude...
Ela esbanjava atitude
Pescando piau, sardinha
E quando peixe não vinha
Nas redes como refém,
Voltava como convém
Pra sua comodidade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.
Mesmo aos oitenta e seis anos
Mamãe inda faz costuras.
Ler sem óculos "escrituras",
Produz bonecas com panos.
É criativa e tem planos
Em anos passar dos cem.
E quando não está bem
Não se lamenta da idade.
Eu queria ter metade
Da garra que mamãe tem.