Mote: Ouvi do gado o mugido/ Agradecendo ao vaqueiro
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro
Autor: Evaristo Geraldo
O vaqueiro nordestino
É um herói inconteste.
Desbrava seu solo Agreste,
Faz da labuta seu hino.
Um guerreiro genuíno
Do Nordeste brasileiro.
Nem nas terras do estrangeiro
Tem homem tão destemido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
O nosso herói campesino
Sai muito cedo pra lida.
O vaqueiro passa a vida
Junto ao rebanho bovino,
Enfrenta frio, sol a pino
Pisa em areal, lameiro
Mas encontra o paradeiro
De um boi doente, ferido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
Quando há seca no sertão,
Das plantas secam seus galhos,
Vaqueiros guardam os chocalhos
Das vacas e criação
Que morrem de inanição,
Devido ao forte braseiro
Do sol que seca o barreiro
E deixa o chão ressequido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
Os momentos de lazer
Dos vaqueiros são bem raros.
Não têm objetos caros,
Nunca aprenderam ler.
E não podem adoecer
Pois passam o dia inteiro
Zelando o gado leiteiro
Que no curral é mantido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
Quando um vaqueiro se ausenta
Do trabalho por doença,
Sua esposa fica tensa,
Sofre terrível tormenta.
O gado não se alimenta,
Com fome abre o berreiro,
Já o rico fazendeiro
Censura o fato ocorrido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
O vaqueiro zela e cura
Animal fraco, doente.
Faz dele seu paciente,
Trata o bicho com candura.
Faz isso, pois tem postura
De médico, de curandeiro
E ao vê-lo forte e altaneiro
Chega a ficar comovido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
O bom vaqueiro apascenta
Com muito carinho o gado.
Cria bezerro enjeitado,
Quando a vaca o afugenta.
Ele o zela, o alimenta.
E o bichinho cresce ordeiro
Correndo pelo terreiro.
Soltando alegre bramido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
Vaqueiro sai pra labuta
Bem vestido, encouraçado.
Porque pra tanger o gado
Adentra em carrascais, gruta
E de forma resoluta,
Enfrenta boi mandingueiro.
Transpõe mofumbo, facheiro,
Mas, por Deus é protegido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
Há boi perverso e valente
Que enfrenta a vaqueirama.
Alguns até ganham fama
No sertão, rústico ambiente.
O vaqueiro veemente
Desbrava esse chão brejeiro.
É um legítimo guerreiro
Mas, morre desassistido.
Ouvi do gado o mugido
Agradecendo ao vaqueiro.
Alto Santo- CE 10/11/ 2023