O LEGADO DO PROFESSOR IVAN
Todo adulto brasileiro
que um dia foi estudante
carrega na sua memória
O seu lembrete marcante
De um Grande Professor
que outrora lhe ensinou
com alegria no semblante.
No meu caso esse Grande foi
um Professor de Matemática
que me ensinou conceitos
da geometria à álgebra
a sua paixão pelo ensino
envolvia os meninos
Ao longo da sua aula.
nos meus tempos de colegial
Ivan foi o único Professor
cujas aulas os estudantes
viam ele como um pastor
que conduzia suas ovelhas
para um mundo libertador.
Nas aulas do professor Ivan
matemática não era abstrata
mas criadora da realidade
que só veio ao mundo graças
a grandes gênios da história
como o filósofo Pitágoras.
Por meio do Professor Ivan
essa área do conhecimento
era absorvido pelo alunos
porque a todo momento
nosso tutor explicava
usando geniais metáforas
com claro discernimento.
Dois pontos viravam duas estrelas
a lonjura delas uma linha reta
E o ângulo de noventa graus
onde muro e chão se intercepta
A lousa de tom esverdeado
é exemplo de quadrilátero:
quatro lados e quatro arestas.
Era impossível não aprender
os saberes do professor Ivan
que além de exímio professor
dizia coisas nas aulas da manhã
como: “aprender a se amar hoje
é aprender a não sofrer amanhã”
Ivan tinha quase dois de altura
um grão perante sua humanidade
ele nunca abria a sua boca
pra vomitar rasas futilidades
a sua única preocupação
era espalhar luz por toda parte.
Assim como Srinivasa Ramanujan
o professor Ivan acreditava
que os padrões existentes
na natureza expressava
Os pensamentos do Criador
que esse mundo criou
por meio da matemática.
Ivan tinha uma filhinha e era
casado com uma bela mulher
todo domingo era comum
vê-los exercendo a sua fé
na igreja da cidade
onde Ivan ficava à vontade
com sua essência abaeté.
Eu só ia pra escola pra bagunçar
merendar era parte do pacote
e pra ver a aulas do Ivan
que me era como norte
e a quarta sorte surgia
quando coisas Ele dizia
no formato de aporte.
Apesar dos Professores
aqui serem desvalorizados
isso nem de longe parecia
deixar o Ivan incomodado
que dava aulas como se
Ele fosse o mais felizardo.
Nesses tempos de colegial
Eu via a todo instante
professores desrespeitado
por mal-polidos estudantes
mas o heroi desse cordel
com aureolado pelo céu
Atraia uma estima abundante.
O Professor Ivan se preocupava
com o desempenho dos alunos
mas não adulava quem
agisse como vagabundo
Ivan fazia a sua parte
mas quem não colaborasse
tirava um zero bem rotundo.
Esse seu lado caiu sobre mim
no dia que fui suspenso
após ser pego no refeitório
atirando bolinhos denso
de cuscuz num moleque
magrin como um incenso.
A diretora me pegou no flagra
fui levado pra secretária
e me deu uma suspensão
equivalente a cinco dias
entrei na sala chorando
na lousa o Ivan escrevia.
Enquanto eu saia de mochila
Ivan olhou na minha direção
vendo o meu chororô
fez uma cara de frustração
e com a voz exaltada
disse: “Você vai levar falta
e perder pontuação!”
Quase que eu fui reprovado
devido ao vacilo tremendo
e teria me lascado até o rabo
senão fosse o crescimento
vindo do ímpeto desejoso
de deixar o Ivan orgulhoso
superando o acontecimento.
As provas que o Ivan passava
transcendia a racionalidade
exigia insights intuitivos
e muitíssima habilidade
mas ia bem quem usasse
A sua criatividade.
Ele era como aquele professor
Da Sociedade dos Poetas Mortos
Só que ao invés de literatura
era através dos princípios lógicos
que o Ivan nos transportava
para um mundo além do óbvio.
O Ivan havia começado
como os peripatéticos
a dar aula pra gente
No pátio do colégio
rodeados pela matas
Vimos que a matemática
pro mundo é egrégio.
O padrão do Fibonacci, Ivan
nos ensinou com perspicácia
usando como exemplo
as folhas de uma galha
mostrando qu’essa sequência
muito antes da ciência
presente no mundo tava.
Outro dia Ivan nos ensinou a fazer
um foguete de garrafa d’água
que ao ser lançado Ele disse:
“esse trajeto é uma parábola:
filha da equação resolvida
pelo método de bhaskara.”
No final d’uma aula, os moleque
deram risada até mudar de cor
quando o Professor Ivan disse:
“amanhã tragam transferidor
acharão o tamãe de vocês
sem precisar dum medidor.”
Para todos os pivetes da sala
as palavras soaram estranha
Sorrindo um aluno até disse:
“duvido fazer essa façanha”
e o Ivan disse empolgado:
“a magia dos matemático
Tá nas suas artimanha.”
No dia seguinte os alunos
ficaram bem estupefatos
quando Ivan fez a mágica
ao achar o valor exato
Ele nos deu a explicação
da trilha até a resolução
após ser questionado.
“Usando um fio que vai
da sua cabeça até o chão
e sabendo o tamãe do fio
e seu ângulo de inclinação
basta usar a trigonometria
pra achar sua medição.”
Foi assim que aprendemos a lei
do seno, cosseno e da tangente
e também a ver a trigonometria
sendo aplicada na vida da gente
A cada aula do professor Ivan
eu me sentia mais inteligente.
O Ivan exalava um bálsamo
que ampliava nosso intelecto
A cada aula sua os alunos
se sentia bem mais perto
Da verdade definitória
que pros filósofos da história
ela sempre foi um mistério.
Essa luz não se apagou do Ivan
nem no dia que ficamos fervendo
de indignação ao ser proibido
do professor seguir oferecendo
aulas no pátio muito arboral
“São nas salas de aula afinal
o local dos ensinamentos.”
Esse lalaiá da diretora
provém de um mindset fraco
comum a todos aqueles
responsáveis por de fato
manter as escolas do Brasil
em condição de paralisado.
Voltamos pra sala de aula onde
não nos sentíamos na gaiola
porque a utópica liberdade
brotava na nossa cachola:
Solo onde o Professor Ivan
plantava a sua aurora.
Uma vez na sala Ele pediu
para um aluno se animar
E percebeu que o estudante
continuava a se desanimar
como um escurecimento
diante dum alumbramento
resistindo sem se findar.
“Sempre que tiverem tristes
lembrem do gênio enigmático
Leonard Euler era o seu nome
Que se manteve apaixonado
mesmo após a perda visão
produziu Teoremas que então
fez dele um Grande Matemático.”
Havia um boato no Texeira
bem comum se ouvir por lá:
O Professor Ivan foi o único
brasileiro que veio a ajudar
o matemático inglês Andrew
a resolver o Teorema de Fermat.
Quando perguntei ao Ivan
se esse boato pertencia
ao campo da verdade
ele sorriu com simpatia
dando sinais de inverdade
por meio de frases ambíguas.
Cheguei no ensino médio
no Brasil sendo exceção
Sabendo ler e dominando
todas as quatro operação
graças a esse Professor
que tijolões adicionou
na minha construção.
Só que no ensino médio
Tive uma angústia abissal
devido a criação
do ensino integral
Passava o dia na escola
e diferente de outrora
ver aula não era legal.
O argumento do governo
para essa modalidade
de ensino era que os jovens
que viviam nas cidades
se ficassem pelas ruas
se perderia nas drogage.
E pra evitar isso
o ensino integral foi criado
e vi com os meus olhos
nesse plano dá tudo errado
porque drogas e sacanage
pra escola os aluno levaro.
Eu estudava matemática com Ivan
e acho qu’Ele tinha reparado
que o brilho no meu olhar
muito havia se dissipado
da angústia de estar na prisão
foi que me veio a motivação
pra se libertar do Estado.
Eu deixei de ir pras aulas
Disse pra minha mãe aflito
que só voltaria pra escola
se eu fosse transferido
senão a minha educação forjada
se tornaria autodidata
independente dos perigos.
Enquanto Mãe corria pra
me transferir pro anoitecer
um colega me disse que Ivan
lhe indaga afim de saber
porque parei de ir pra aula
e o que veio acontecer.
Eu dei ao meu ex-Professor
O merecidíssimo explicamento
no dia que O encontrei
quando tava anoitecendo
Eu tava indo pra escola
após passar o dia lendo.
Eu apenas disse ao Ivan
sem expor a minha revolta
que apenas me transferi
pois passar o dia na escola
foi inadaptável
e o melhor a se fazer de fato
foi me mudar pra outra hora.
Havendo Ivan dito:” boa sorte”
Entre ele e Eu teve a despedida
Levando sua pasta de Professor
Ele seguiu a sua Vida
Lembrando Dele anos mais tarde
E vendo o quanto Ele faz parte
Nas conquistas da minha Vida
Isso logo me fez perceber a
Luz que Ele plantou no meu Ser:
Semente que enjardinhou a minha Vida
O Professor Ivan cumpriu sua parte
Na sua função de me preparar pra Vida!
Santo André, 12 de Julho de 2024