QUER SABER QUEM É O SER DÊ A ELE PODER
Os ditados são jargões
Que as vezes beira a maldade,
Mas se forem analisados
Traz um fundo de verdade
“Se quer alguém conhecer
Dê para ele poder”
E verás quem é de verdade.
O velho jegue Kabrunko
Trabalhou a vida inteira
Todos os bichos conheciam
Carregava fruta na feira
Era um poço de humildade
Nele não tinha maldade
Nunca fez uma besteira.
Porém com sessenta anos
Chamaram ele com jeito
Reuniram-se os bichos
Para realizar o pleito
Com grande contentamento
Apontaram o jumento
A concorrer à prefeito.
Ele ainda disse não!
No entanto, foi convencido
Para seguir na disputa,
Pois era muito querido
Contra o bode de chiqueiro
Com fama de desordeiro
O bode “véi” foi vencido.
Foi uma festa danada,
Pois grande foi a vitória
A bicharada gritando
E dando vivas de glória
Com um discurso bonito
O boi disse eu acredito
Teremos uma nova história.
Kabrunko esperou o dia
De assumir a prefeitura
Já comprou um belo terno
Nos cascos ele fez pintura
Com a crina prateada
E uma calça engomada
Uma nova criatura.
Nomeou o boi Zangão
Pra chefe segurança
O cavalo Brutus ganhou
Um cargo de confiança
Juntou só os bichos fortes
Não quis mais brincar com a sorte
Quando tivesse de andança.
Depois que assumiu o cargo
O velho jegue sumiu
Deixou de andar com os pobres
Não foi mais banhar no rio
Na feira onde trabalhava
Se por ele alguém perguntava
Ninguém sabe, ninguém viu.
Para falar com o prefeito
Só marcando audiência
E quando ele se zangava
Vinha logo dando prensa
Falava ao secretário
Dispensa esses bichos otários
Aqui não é lugar de benção.
Aquele “novo” Kabrunko
Estava muito mudado
Não tinha nem um restinho
Do que fora no passado
Toda aquela humildade
Transformou-se em maldade
Depois que foi empossado.
Já se falava em impeachment
Por parte da oposição
O bode velho berrava
Chamava ele de ladrão
Um dia o jegue enfezado
Escreveu ao delegado
Jogaram o bode na prisão.
A palavra de Kabrunko
Era a lei na cidade
Não tinha mais por favor
Ele era a autoridade
Sempre cheio de razão
“Rasgou” a constituição
Virou um rei de verdade.
Ninguém podia falar,
Pois só ele que falava
Com coices e palavrões
Assim aos outros tratava
E os bichos arrependidos
Diziam, jegue bandido!
Por essa ninguém esperava.
E no final do mandato
Veio pra reeleição
Ficou novamente humilde
Falando em renovação
Mas veio o cavalo Bento
Derrotando o jumento
E aquela corrupção.
Já havia um inquérito
Na Polícia Federal
Investigando o Kabrunko,
Mas ele não se deu mal
Fugiu no fim de semana
Num jatinho de bacana
Desapareceu total.
Porém tinha feito um rombo
De no mínimo um bilhão
Todos aqueles comparsas
Ganharam o seu quinhão
Do juiz ao delegado
Ganharam os seus trocados
Na grande corrupção.
Ficou ali um alerta
Pra toda aquela cidade
Escute os velhos ditados
Mesmo contendo maldades
Se alguém quer conhecer
Dê para ele poder
E verás quem é de verdade.
JOEL MARINHO