SÚPLICA DE SERTANEJO

MEU SINHÔ ME DÊ LICENÇA

PRA EU CÁ DESABAFÁ

É QUE POBRE NUM TEM VEIS

NEM AQUI NEM ACULÁ

SÓ DEUS SABE O QUE SINTO

PROSANDO CUM SEU DOTÔ

NEM EU MERMO ACREDITO

SE EU CONTÁ DIZEM QUE MINTO

MAS CUMA TAVA DIZENDO

POBRE PENA DE QUANDO NASCE

E ASSIM VAMO VIVENDO

INTÉ DA MORTE VÊ A FACE

EU TINHA UMA ROCINHA

PRANTAVA MIO E MANDIOCA

PRA MATÁ A FOME DA FAMIA

QUE TOMBÉM ME AJUDAVA

MAS NEM CONTO PATRÃOZINHO

NO CÉU, O SOL ARDENTE BRIOU

QUEIMANDO DO MIO TODO GRÃOZINHO

E A MANDIOCA ARRASÔ

AH, MEU SINHÔ

SE VOSMECÊ PUDESSE VÊ

CUMA TERRINHA FICÔ...

NUM DÁ PRA ESQUECÊ

AS CRIANCINHA DE FOME CHORAVA

E AS VEIS ME PREGUNTAVA

PRU QUE O BUCHO RONCAVA

E SEM RESPOSTA EU FICAVA

A SECA DANADA CASTIGAVA

MATANDO PRANTA E BICHO, SEM DÓ

E EU JÁ NÃO MAIS GUENTAVA

QUANDO UM FIO FOI AO PÓ

A MUIÉ, TADINHA DELA

JÁ AFINAVA AS CANELA

DE CARREGÁ LATA D'ÁGUA

SEM RECLAMÁ DAS MAGUA

REVORTADO, SIM SINHÔ

VENDO MEUS FIO MORRÊ

VEIO A IDEIA NO QUENGO

A TERRA SECA VENDÊ

JUNTEI O RESTO DA FAMIA

CHORANDO VIMO PRA CAPITÁ

PRA DÁ ESTUDO PRAS CRIA

E TOMBÉM PRA TRABAIÁ

SINTO MUITO SEU DOTÔ

A ISTORA NÃO É PRA AFROXÁ

SÓ PEÇO, PRO FAVÔ ...

DEIXE ESSE POBRE TRABAIÁ.