O tempo é um algoz
Tempo seu cruel algoz
Você roubou-me as lembranças
Mas foram tantas mudanças
Você ficou tão veloz
A tecnologia atroz
Deixo-lhe bem disparado
São dados pra todo lado
A memória está no fim
O tempo levou de mim
As coisas do meu passado.
Antes era bem melhor
Notícias num cordel
Desenhava no papel
Tabuada era de cor
Agonia era menor
Tinha sonho bem sonhado
O meu cavalo era alado
Gostava de ler Pasquim
O tempo levou de mim
As coisas do meu passado.
Hoje a guerra está nas telas
Naufrago na informação
Me oprime a televisão
Aliena-me as novelas
As tvs são tal qual celas
Fico manso e aprisionado
Com consumo exagerado
Zumbi ouvindo plimplim
O tempo levou de mim
As coisas do meu passado.
Vejo Pasárgada em sonho
Sem bandeira e com Bandeira
Só com penas na algibeira
Sem o missal enfadonho
Novos versos eu componho
Circular, não mais quadrado
E sem ser sacralizado
Voo com Pirlimpimpim
O tempo levou de mim
As coisas do meu passado.
Salvador, 3/6/24,