A JUMENTA DE CAETÉS

Dois jumentos se encontraram

Lá no sertão de Caetés

Um macho e uma fêmea

Ele mal ficava em pé

Com dois caçuás nas costas

Parecia dançar balé

Sentindo ser ele fraco

Ela partiu pra comê-lo

Com mordidas na barriga

Dele arrancava os pelos

Mas depois de muita luta

Ele saiu do pesadelo

Fugiu numa disparada

Pelas ruas da sua cidade

Isso foi suficiente

Pra surgiram as maldades

Vindas de seus arredores

E doutras localidades

Uns achavam que o jumento

Era bem frouxo, medroso

E da jumenta teve medo

Por ser bastante idoso

Outros falavam que ele

Não era macho fogoso.

Envergonhado o jumento

Mudou daquela cidade

E em outras paragens

Buscou mais tranquilidade

Onde ninguém questionasse

A sua masculinidade

Essa foi a primeira vez

Que em toda sua história

Este animal tão forte

Perdeu os seus dias de glória

E saiu de cabeça baixa

Em situação vexatória.

E o jumento nordestino

Pra São Paulo foi embora

Pra esquecer o passado

Buscando a sua melhora

Mas se meteu na cachaça

E foi mentir mundo afora.

De tanto contar lorota,

Convenceu muitos jumentos

Que cumpria, cegamente,

As orientações do nojento

Que naquele curral mandou,

Causou grande sofrimento.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, JULHO/2024