A SERPENTE E A CURANDEIRA
Foi numa estrada de terra
La no bairro são João
Que aconteceu este fato
De grande repercussão
Que assustou moradores
Aguçando seus temores
Causando medo e aflição
Era uma estrada de areia
Pouco usada no sertão
Ali só passava pedestre
Caboclo de pé no chão
Acostumados a passar
Sem jamais se deparar
Com qualquer aparição
Foi aí que o tonho quinca
Quis bancar o inteligente
Inventou rastros na areia
Pra assustar aquela gente
Diz que uma surucucu
Foi vista no itapocu
Era terrível a serpente
No entanto com o vento
O rastro desaparecia
Os caboclos se acalmavam
Quando era no outro dia
O rastro havia voltado
Com um bambu torneado
Tonho Quinca refazia
Quando foi uma certa noite
Eles já haviam esquecido
Quando um caboclo gritou
Socorro que eu fui mordido
Todo mundo apavorado
Deixaram o pobre coitado
Sozinho no chão caído
Só depois de umas pingas
Que sacudiram a poeira
E voltaram pra socorrer
O amigo zé pereira
Que assustado desmaiou
E o Tonho Quincas levou
Pra casa da benzedeira
Com galhinhos de arruda
E também manjericão
Umbigo de bananeira
E casca de jacatirão
Isso era café pequeno
Como não tinha veneno
Foi como tirar com a mão
E aumentaram os casos
Em todo aquele rincão
Tinha até fila de vítimas
Pra comprar aquela poção
E tanto aumentou a crença
Que até pra outra doença
Ali tinha a solução
O Quincas era o ajudante
Da famosa benzedeira
Ele anunciava milagres
Da Rosinha trambiqueira
E arrumava os pacientes
Cada vez vinha mais gente
Procurando a curandeira
Uma queixada de gambá
Com dois dentes afiados
Cravava na panturrilha
Dos cabras desavisados
Atacava em noite escura
E sempre naquela altura
Os caboclos eram picados
E em todos os acidentes
Algo chamava a atenção
Tonho Quinca tava perto
Para dar a orientação
Levar para a benzedeira
Sua sócia trambiqueira
Que ministrava a poção
Ganharam muito dinheiro
As custas da ignorância
Tinham fazendas de gado
Em tudo quanto é instância
E o casal caras de pau
Usavam a rede social
E exibiam a extravagância
E todo mal dura pouco
Já diz o velho ditado
Eles ganhariam mais
Ficando de bico fechado
Mas por ficar ostentando
Acabaram foi alertando
O mais novo delegado
Que disse é um absurdo
Vou lhe passar uma peia
Chega de trapacear
Brincar com a saúde alheia
Vão passar uns doze anos
Lavando e passando panos
Nas latrinas da cadeia