CANDEEIRO
CANDEEIRO
LITERATURA DE CORDEL -
abril 11, 2015
Valdi Rangel
No sitio que eu morava
Era assim todos os dias
As seis horas da noite
Papai sempre acendia
O pavio do candeeiro
Que claridade trazia
O café coado na mesa
Com cheiro de torrado
Mamãe e as meninas
Trabalhavam um bocado
Serviam cuscuz e macaxeira
Com porco bem guisado
Papai agradecia o alimento
Por nosso senhor ofertado
Agente rezava ave-maria
Pedia perdão dos pecados
Ausentava-se somente da mesa
Quando todos tinham jantado
O divertimento depois dali
Era conversar no terreiro
Para iluminar o nosso pátio
Papai levava o candeeiro
E a fumaça do querosene
Trazia irritante cheiro
Não se falava em poupança
Ninguém tinha dinheiro
Só rolavam nas conversas
Os assuntos costumeiros
Amansar o boi malhado
Consertar o galinheiro
Tirar leite da vaca
Fazer manteiga e queijo
Botar um grande roçado
Que pode chover mais cedo
Falar com Judite rezadeira
Para ela pedir a São Pedro
A noite escurecia ligeiro
O candeeiro iluminando
Vezes em quando um carão
Papai ia nos dando
Quando na conversa dos adultos
A gente ia entrando
Que saudade eu sinto hoje
Da luz do candeeiro
Das estrelas lá do céu
Que iluminavam o terreiro
É um tempo que não volta
Já que o tempo é passageiro
Há quem chame candeeiro
E quem chame lampião
Ambos são a mesma coisa
Só depende da região
Para mim os dois são iguais
Trazem muita recordação
No meu tempo de menino
A luz elétrica era pra rico
O pobre não podia
Ter em casa um só bico
E acendia o candeeiro
Ainda com sacrifício
O candeeiro clareava
Quarto sala e cozinha
O cheiro forte do querosene
Durava a noite inteirinha
E papai contava historias
Porque televisão não tinha
Na luz do candeeiro
Se reunia a vizinhança
Os meninos de seu José
As meninas do seu França
Não havia nenhuma maldade
Entre os adultos e as crianças
Que saudade eu sinto hoje
Da época do candeeiro
Agente escovava os dentes
Com a baje do juazeiro
Para se ter a felicidade
Não carecia ter dinheiro
O candeeiro iluminava
Os caminhos da pureza
Longe dessa maldade
A vida era uma beleza
Não havia nenhum luxo
Mais se vivia com certeza
O cheiro forte do querosene
Invadia todo ambiente
Aquela fumaça escura
Entranhava a alma da gente
Era lindo aquele passado
E me marcou para sempre
Cadê os candeeiros
Apagaram a sua luz
Só agora é que eu sinto
O quanto feliz eu fui
Mamãe contando no quarto
As historias de Jesus
Eu sei que o progresso
Algum tempo tem que vir
Mas apagar o candeeiro
Vou sempre repetir
Foi algo muito triste
Que eu vou sempre repelir
O candeeiro proporcionava
Uma família reunida
Que toda noite conversando
Fazia as coisas devidas
Transmitindo a verdade
Ensinava a ter paz na vida
Ninguém tinha medo
Desse famoso apagão
O candeeiro e as estrelas
Clareavam a escuridão
E a bela luz da lua
Aumentava a claridão
Valdir Rangel
LIVRO LITERATURA DE CORDEL -CANDEEIRO- PUBLICADO EM ABRIL/2015- ESSE É O PRIMEIRO LIVRO DE CORDEL QUE EU ESCREVI. ONDE TENHO O OBJETIVO DE MOSTRAR A UNIÃO E A DISCIPLINA QUE EXISTIA NAS FAMÍLIAS. E QUE PARA SER FELIZ NÃO ERA NECESSÁRIO POSSUIR MUITOS BENS.