A Verdadeira História do Monstruoso Acidente ocorrido em Curais Novos
Oh! Jesus sacramentado
Dai-me força e pensamento,
Para eu traçar em versos
A dor, o pranto, o lamento
Do desastre mais tremendo,
Tristonho e sanguinolento!
Que entre os tempos
Já passou em Currais Novos,
E entre todos os dados
De fatos velhos e novos,
Nunca registrou-se em mortos
Tão grande número de povos...
Setenta e quatro é um ano
Cheio de Temeridade,
Há algos fenomenais
No seio da humanidade
Dar-se um desastre agora
Vem outro pior mais tarde.
Porém tudo é decidido
Dos planetas governantes,
Que são de caráter maus,
Malignos e inconstantes,
E todo terráqueo sofre
Quando eles são reinantes.
Uns acabam nas águas
Outros morrem incendiados,
É inúmera a quantidade
Dos que morrem atropelados,
Desta maneira na Terra
Estamos vilipendiados!
É desastre nunca visto
Na água, no ar, na terra!
São chuvas diluvianas
Desabando montes e serras,
Só sendo nossos pecados
Que estão nos fazendo guerra.
Nove dias se passavam
Do ocorrido acidente,
Que deu-se em Cerro Corá
Que abalou muita gente,
E Currais Novos já tão próximo
De um pranto tão grande e quente.
Na noite 13 de maio
Nesta cidade princesa,
Chamada do Seridó
Rebanhava com franqueza,
Uma procissão de fiéis
De amor a Deus e fineza.
Que todo ano acontece
Nessa data com valor,
Sai da igreja matriz
Esta Santa no andor,
Os fiéis em procissão
Cantando hino de amor.
Padre Ausônio de Araújo
Tem grande satisfação,
Em rebanhar os fiéis
De sua religião,
A capelinha de Fátima
Todo ano em procissão.
No sistema acostumado
Cantando hinos e louvores...
Grande número de fiéis
Cristãos acompanhadores,
Quando foram abscindados
Transformados em prantos e dores.
Quando um ônibus em disparada
Penetrou na procissão,
Rompeu mais de 15 metros
Só em cima de cristãos!
A gente escreve, porém
Martiriza o coração...
Com pouco ali retumbava
A notícia com franqueza,
Da mortandade de gente
Numa ligeira surpresa
E um grito de socorro
Entoava com tristeza...
Logo a Rádio Brejuí
Agiu com amplicidade
Pedindo socorro urgente
De qualquer outra cidade,
Pedindo ajuda de médicos
Com ligeira atividade!
No local do acidente
Que triste lamentação
Um dizia: morreu mamãe!
Outro: morreu meu irmão!
O trecho superlotado
De gente morta no chão.
Padre Cortez pedia
Socorro com muita urgência
Para as cidades vizinhas
Com ligeira inteligência,
E todos ligeiramente
Prestaram amável assistência.
O pessoal do acidente
Foram logo transportados
Por diversos motoristas
Para o hospital levados...
Foram mortos e vivos
Pelos médicos examinados.
O Dr. Antônio Othon Filho
Por Dr. Nithon conhecido,
No local do acidente
Ficou logo falecido,
Seus traços fisionômicos
Tinham desaparecido.
Dezessete mortos instantâneos
No local do acidente,
Com suas caixas ossárias
Tudo estranguladamente...
Nunca se viu tanta dor,
Tanto choro, em tanta gente!
Deram entrada no hospital
Uns mortos e outros morrendo,
Uns gritando agonizantes
Outros chorando e gemendo
A grande equipe médica
Urgentemente atendendo.
Um chamava por seu pai,
Outro por seu irmãozinho,
Outro gritando alarmado:
Meu Deus, morreu meu filhinho!
Muitas mães ali sem vida,
Oh, que momento mesquinho!
E a Rádio em som tristonho
Pedindo socorro urgente,
Anunciando as famílias
Que não sofreram acidentes,
Para minorar os cuidados
Dos familiares ausentes.
Do monstruoso desastre
Que deu-se em nossa cidade,
Um espetáculo funério
Da mão da fatalidade,
Veio enlutando as famílias
Deixando pranto e saudade!
Muitos filhos viram os pais
Se acabarem num flagrante,
Por monstruoso vampiro
De sistema extravagante,
Oh, que momento tristonho!
Oh, que hora delirante!
Padre Ausônio de Araújo
Escapou milagrosamente,
Ia bem próximo ao andor
Quando deu-se o acidente,
Ficou em estado de choque
Mas foi socorrido urgente.
Passarei a dar os nomes
Do pessoal falecido
No monstruoso desastre
Que jamais fica esquecido,
Onde morreu pai e filhos,
Mãe, mulher e marido!
Morreu Dona Aristel Dantas,
Morreu Maria Agostinho,
Francisca Dantas de Medeiros
Morreu neste desalinho,
E Maria Luiza, sua neta
De onze anos justinho!
Morreu Brígida de Araújo,
Morreu Francisca de Lima
E Lenice com dez anos
Criança de muita estima,
Tereza Medeiros e Rosa Amélia
O ônibus passou por cima.
Severino Alves da Costa,
João Batista de Oliveira
E Aureliana Pinheiro
Nessa tragédia traiçoeira,
Também Maria Luiz
Sua morte foi ligeira.
Maria Francisca de Jesus
Uma mamãe de estima,
Francisca Damião das Chagas,
Francisco Isidoro de Lima
E uma Rita de tal
Morreu nesta mesma esgrima.
Elionete, uma garota
Com oito anos de idade,
Esta foi pisoteada
Pelos pés da maioridade,
Morreu sem defesa alguma
Na triste fatalidade.
Severina Maria da Silva
E Severino Vicente,
Ambos esposa e esposo
Morreram instantaneamente,
Dona Edilvina Cardoso
Morreu no mesmo acidente!
Maria Antônia de Moura
E Leoniza de Macedo,
Dr. Antônio Othon Filho
Nosso ilustre amigo ledo,
Ninguém esperava este povo
Se acabarem assim tão cedo.
Foi triste profundamente
A noite da segunda-feira
Do monstruoso ocorrido
Chorava a cidade inteira,
Desde velho a criancinha
Do padre, o doutor, a freira.
Bila faz na Telern
Uma completa ligação,
Em pouco tempo a notícia
Estava em toda nação,
Até mesmo a Rádio Globo
Já fazia transmissão!
Eliel na locução
Fez ligação com Natal,
Tivemos logo socorro
Lá de nossa capital,
De carro e de avião
E de médico especial.
Dona Aída Ramalho
Agiu com bem brevidade,
Veio assistir os enterros
A triste solenidade,
E sentir o tristonho silêncio
Que reinava na cidade.
No Rio Grande do Norte
Até a data presente,
Recordei Dix-sept Rosado
Um monstruoso acidente,
Para Currais Novos agora
Vejo este mais recente.
É de arrepiar os cabelos
De toda a humanidade
Os telegramas de condolências
De pêsames e de saudades
Que de todos os estados
Chegam em nossa cidade.
Escrevo para deixar
O caso imortalizado,
O poeta é um repórter
De tudo que é passado,
E nas gavetas do tempo
Deixa um arquivo guardado!
1ª edição - Maio de 1974
Poeta Cordelista José Saldanha M.Sobrinho (Zé Saldanha)
Conhecido por Reporter da Rimas, por produzir cordéis em tempo real sobre fatos e acontecimentos da região, em uma época que no interior do RN, poucas pessoas tinham acesso a Comunicação, então o CORDEL circulava como noticiário!