A Verônica( boneca, como era conhecida) minha cunhada, por sua súbita passagem para 

À VERÔNICA IN MEMORIAN 


Cumpriu com o seu destino
Foi uma sina pesada
Foi como cair da escada
Ao pó sempre seu declínio

Nos pés trazia o sinal
Como seria o futuro
Vivia em cima do muro
A queda seria fatal

Quase ninguém percebia
Que outros sinais surgiam
Aos poucos todos veriam
Ninguém ficou em vigília

Seus passos em bambeio
Dificuldades nas mãos
Eu prestava atenção
Alertei entre rodeios

Fizeram uma cirurgia
Para os seus pés reparar
Mas nada de melhorar
Veio a tal melancolia

Com os sinais evidentes
Abriu-se então, as visões
Buscou-se outras soluções
Vãos esforços renitentes

De origem hereditária
Doença degenerativa
Sem nenhuma espectativa
Não cabia represália

Charcot-Marie-Tooth
Do descobridor - o nome
Esse o lindo codinome
Do mal que provocou tudo

Foram tantas agonias
Tanta dor e sofrimentos
Uma vida de tormentos
Devorou as alegrias

Valha-nos Deus e Maria!
Outros membros nessa vida
Não sejam do mal guarida
Nos conceda essa valia!

Te pergunto, ó meu Deus!
Por que tanto sofrimento,
Uma vida em desalento,
Aurora e ocaso em adeus?

Dificil era aceitar
A dura realidade
No decorrer da idade
Sozinha sempre a chorar

Muitas outras decepções
No seio matrimonial
Um baita baque abissal
Difíceis situações

Bem no meio do caminho
Haviam anjos presentes
Duas filhas, conscientes
Aquecendo-a no seu ninho

Divino presente em vida
Pra ela puros ungüentos
Do casamento, rebentos
As suas filhas queridas

Gabriela e Isabela
Pra elas dorida missão
De segurar o bastão
Não deixar cair peteca

Sem voz e sem consciência
Nas duas semanas finais
Com os seus sinais vitais
Desafiou a ciência

Eles não sabiam a causa
Da demência que a afetava
Charcot Marie não bastava
Devia haver outro trauma

Após uma ressonância
Que acusou uma metástase
Para os médicos o impasse
Onde? - Havia uma ânsia

Nem deu tempo descobrir
Manhã seguinte o desfecho
Deu azo ao seu adejo
Verônica eu vi subir...