INSIGNIFICÂNCIA
Escrevo para os pássaros, as borboletas e todos os demais seres que não me entendem nem se importam com minha existência ou dão qualquer mínima atenção às pobres digressoes de que me valho para caracterizar as ideias. Indiferentes, essas criaturas passam longe das tantas utopias literárias que ouso expor aos olhos públicos.
Como devo me sentir diante do fato incontestável deixando clara a minha insignificância? Distante, simplesmente alheio às críticas e pensamentos de outrem, e como poderia ser diferente? Se há unanimidade e consenso geral até mesmo entre os irracionais em não valorizar o vão esforço do escriba desprovido de atrativos, então melhor aceitar e ocultar para deleite próprio o produto vazio da minha imaginação.
Os confetes não são jogados por asas, patas nem bicos, são necessários dedos de mãos guiadas por corações fraternos e gentis. Todavia eles esvoaçam e são levados a longínquos horizontes, espalham-se, caem e são pisoteados por pés apressados. Pior, são esquecidos, jogados no lixo. Infelizmente não raro damos muita importância a tão pequeninas e fragmentadas circunferências multicoloridas.
Afagam nosso ego ansioso por cafuné. São o combustível essencial à vaidade, precioso alimento da volúpia humana por elogios. Quando nunca chegam aos nossos olhos e ouvidos, por amor ao dom persistimos na arte de escrever para os que voam e se arrastam, malgrado sua inconsciência. Vem a desilusão? Por óbvio sim!