TERESA

Eita que esse sol a pino

dificulta meu raciocínio

E essa terra rachada

Deixa minha boiada magra

Aqui não chove desde de Agosto

Ontem fui puxar água na cisterna

Mais só enchi o balde de terra

O meu menino , de uma passada

na mercearia

pegue banha de porco e , uma saca de farinha

peça para o seu Justino pendurar , ele sabe que eu não sou de trambique

ahn, traga também fumo de rolo

e uma pinga de alambique

Maria vem cá, preciso me consolar

Muié, tu sabe o quanto

sou um devoto fervoroso

Mais às veiz , não acredito em Deus não!

Que maldição sofri quem

mora aqui no meu sertão

Às veiz bem que eu queria

dar um conforto pra ocê , e nossas cria

Ah , Maria que falta sinto de Teresa

E pensar que tivemos de dar nossa filha

por causa dessa maldita pobreza

Lembro das tuas , tetas secas

Era de doer a`alma

Ter que dar pra ela , água, farinha e palma...

Ai tava aqui aquela senhora de Sum Paulo

que veio fazer um tar de doutorado

sobre a mizeria no sertão

Lembra ela ainda nos deu umas quirelas

pra nois , posa de artista

dando até uma entrevista

ai ela viu a condição de nossa filha

ela falou que não tinha útero,

culpa de um tar de mioma

Ela jurou cuidar de Teresa

como se fosse cria dela

Às vezes me pergunto será que fizemos o certo?

Será que um dia voltaremos a ver nossa fia ?

Não chora Muié...

porque eu sou cabra do nordeste

e choro não é coisa de cabra da peste

Deus e Nossa Senhora de Aparecida, Padim Cícero , perdoe esse filho do sertão

O padre disse que até Paulo

antes do galo cantar negou Cristo três vezes , mas tive que abrir mão de Teresa

por farta de comida na mesa

então às vezes , isso enfraqueci minha fé

Mas sinto uma saudade bubônica da minha caçula, mi pergunto , o que faz ela , trabalha , estuda , só queria vê ela antes de morrer

Pedi descurpa, pela farta de chuva , pela seca

pela minha mizeria

Veja Muié, ocê chora , eu também choro

Mas nossas lágrimas não fertiliza esse solo

Ele continua rachado e seco...

O meu menino chegastes com a mercadoria

Seu Justino é um homi justo

Tem um bom coração

Muié meta a banha no feijão

Precisamos crer que Deus existe

Não fique triste...

Teresa está viva , deve estar bunita corada

e estudada

Muleque traga a pinga de alambique,

quero dar uma boa tragada

Quando a chuva voltar a cair nesse solo

Ela traz Teresa com ela

Ai será uma alegria em dobro

Essas voltas secaria as lágrimas

dos nossos olhos

Vamo Muié bote o feijão no fogo

Muleque pegue a sanfona pro teu pai

Quero minha família com esperança e alegria

a chuva vai molhar esse chão rachado

Teresa vai voltar pro sertão

e ela vai voltar de diploma na mão

nessa casa , vai acabar a fome e , a sede

Vou deitar nessa rede

vou tocar Asa Branca

E vou sonhar

esperando Teresa e a chuva voltar

NEREU AIRTO AMANCIO FILHO
Enviado por NEREU AIRTO AMANCIO FILHO em 14/02/2024
Reeditado em 14/02/2024
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