OS CANHÕES DE BELO MONTE 2
Abertura
No sertão chegou canhões,
como boca de vulcão,
sem convite, sem avisar;
Conselheiro já falecido,
o povo a perguntar;
prá que serve essa coisa?
será que é prá matar!
o povo sofre com fome
sem comida prá mastiga
pé descalço com rachadura
o solo a imitar,
a vergonha vem de lá
matar um povo tão pobre
sem esperança de melhorar,
lembrando o grande erro
registrado com sangue e azar;
por Euclides sertanejo
viu quem matou e fez chorar,
embrenhado em espinho,
num caderno anotar
rasgando a própria pele
na escrita a sangrar,
Homens, velhos, doentes, mulheres e crianças
cabeças decapitadas, olhos perfurados, humilhação
generalizada, corpos sem alma!
ninguém escapou, da fúria federal!
Cordel
do nada surgiu o poder,
armado sem compaixão;
de um lado soldados nutridos
do outro jagunços sem pão!
porque tudo começou?
na fé da construção,
a igreja sem terminar
dinheiro pago na mão!
então vamos nós lá buscar,
trazer no braço ou na mão;
ouviu-se então ameaça
lá vem eles com foice e facão!
mande soldado pra cá
pra ser nossa proteção;
jagunços vindo de lá
isso já é invasão!
como ninguém chegou,
vamos então avançar;
chegando lá antes deles,
a gente começa atirar!
poucos soldado sem plano,
sem lider para comandar,
caiu um a um na trincheira,
Euclides ainda vai chegar!
o alarme foi dado sem dó,
vamos nos organizar;
fazer um novo ataque
jagunços prá exterminar!
segunda chegada na fronte,
também sem direção,
morreu cada soldado
na bala, na foicec e facão!
terceira chegada na fronte,
milhares de soldados a machar;
achavam que iam vencer
cabeças cortadas no ar!
cabeças cortadas expostas,
balançando naquele lugar
trilhas com corpos mutilados,
soldados querendo voltar!
quarta expedição na fronte,
Moreira Cezar na frente guiou,
soldados armados tremeram,
Moreira cezar tombou!
Artur Oscar tremeu,
não tinha como lutar
preparem canhões potentes;
a gente vai lá massacrar!
canhões soltando fogo,
cortando todo lugar,
casebres vindo abaixo,
sem reza para salvar!
jagunços de peito aberto,
terço preso no pescoço
a fé estava presente,
caiu um a um cada corpo!
o cerco estava fechado,
não tinha como escapara
crianças, mulheres, idosos;
norreram no mesmo lugar!
cabeças foram cortadas,
sem olho naquele olhar
sem piedade eterna,
nem alma ficou a penar!
nada ficou no lugar
Euclides foi registrar
Sertões registrado em livro
lágrimas a derramar!
Euclides da Cunha chorou,
sentiu a dor no sertão,
inocentes sendo massacrados;
sem causa, motivo e razao!
a morte chegou devorando,
a tumba a esperar,
de boca aberta pro céu;
o corpo jogado prá jantar!
Conselheiro partiu sem lutar,
morreu antes de falar
não viu o tiro de canhão;
matando todo o sonhar!
sem ter o que dizer
nem como justificar;
a água cobriu Belo Monte
sem prova para deixar!
Vaza Barris está hoje,
na história daquele lugar;
servindo a tantos turistas
que se banham sem lamentar!
debaixo das água do Açude,
tem resto de gente sem falar;
porque tanta gente morreu?
sem culpa para pagar!
o ódio venceu a história,
sem ninguém para propagar,
o povo morrendo de fome;
a fome matando sem parar!
um vulto ali permanece,
erguido sem respirar
estátua serve de enfeite;
daquele que quiz libertar!
muitos que hoje estão vivos,
morando naquele lugar
perderam seus entes do passado;
sem fotos para se lembrar!
o Brasil passou vergonha,
sem mesmo se desculpar,
o poder domina o povo;
fazendo pobres prá esmolar!
a pobreza daquele momento,
num vale com casas sem lar
o povo com prato vazio
ainda hoje sem alimentar!
de lá prá cá tudo igual,
a dor continua assolar;
o poder persegue o povo
Conselheiro precisa voltar!
DIÓGENES Oliveira
Enviado por DIÓGENES Oliveira