ANTITÉTICO VERSEJAR OU O POETA
Quero escrever versos
Que falem da nossa gente...
Versos incertos, versos ausentes
In(versos) pensares, sementes
Quero escrever as dores e sonhos
O passado, o futuro e o presente.
Quero escrever o café,
O poca zói e o cuscuz
Escrever sobre a fé
Sobre a escuridão e a luz
Sobre a liberdade e a gaiola
Sobre a perdição e a cruz
Quero escrever sobre tudo
Que a minha mente vier
Deixo minha mente livre
Para pensar o que quiser
Vou rabiscando e tomando
Meu poca zói com café
Não vou me prender a regras
Vou escrever livremente
Falar do fuxico, do povo
Nem descrever, tão somente
O perfeito, o citadino
Poetizarei do ateu ao crente
Mas quero enfatizar
O meu velho torrão
Não se avexe se em meus versos
Prevalecer o sertão
É que a meta é descrever
Também meu pedaço de chão
É que o poeta transita
Sobre a roça e a cidade
A enxada é caneta
Mas na universidade
O poeta digita versos
Usando a tal modernidade
No sertão ele improvisa
Versos para o vento levar
Ouvindo os passarinhos
Ele aprende a versejar
Mas dentro da universidade
Ele pensa em publicar
O mesmo que improvisa
É o mesmo que escreve
Às vezes ele vive
Outras vezes ele véve
E nos versejares da vida
O poeta se atreve
Se atreve a escrever
Aquilo que ele pensa
Em sua mente, um turbilhão de ideias
E nada ele dispensa
Sem esperar muita coisa
O verso é sua recompensa
Ele rima feito besta
Do verso ele é refém
Às vezes a mente trava
Mas é para seu próprio bem
Afinal, o poeta
Ele é gente também
Ele é de carne e osso
Não vamos romantizar
Quando morre, assim como os outros
Os vermes vêm consumar
O corpo do poeta
Até se desconfigurar
Logo, logo em breve
Esses vermes se tornarão
Em nobres e humildes poetas
E logo, poetizarão
O cemitério e demais mortos
E logo eles reviverão
É que a poesia tem dessas
O poder de reviver
Ainda que mortos estejamos
Ou até prestes a morrer
A poesia me permite
A eternamente viver
E se vivos estaremos
Vamos então poetizar
As pessoas são poesias
A rua, o céu, o luar
As calçadas, o sertão
Nessa vida a amar
Já cansei de fazer versos
Vou por aqui ficando
Às vezes a mente cansa
De ficar também versejando
É que fazer rima exige muito
Ao contrário do que vivem falando
E, para calar as más línguas,
Vou viver poetizando
E com poca zoio com café
Fico aqui me alimentando.
Dezembro 2023