Recortes da Escravidão

Já fui do Egito, o faraó,

Um negro forte e bonito.

Da minha tribo, sei o grito,

Numa terra longínqua e só.

Um espírito guerreiro maior,

Com o meu tambor faço meu rito.

Invoco do antepassado o espírito,

Vejo pelos olhos da natureza, suor.

Mitologia da minha humanidade,

Africanidade, matrimônio infinito.

Minha religiosidade é mais que mito,

Meu amor não morreu na maldade.

Convivo com a natureza em lealdade,

Tua marcha com ela é meu conflito.

Queres destruir o lugar onde habito,

Não conheces da alma a efemeridade?

Quando vejo meu amor passar no tempo,

Meu tambor chora numa canção.

Aumentando ainda mais minha solidão,

Morro, revivo para lutar em meu rebento.

Baobá, raiz no meu coração,

Esperança em fogo queima em mim.

Minha espada corta cores assim,

Era das luzes, não floresceu a razão.

Ao anoitecer, navego no céu estrelado,

No mar, figuro de monstro encantado.

Misto do mundo negro em drama,

De quem é esse negão, e sua fama?

Na jangada, vou pescar no mar,

Encontrar a paz na imensidão.

Fugir da cidade, da sua ilusão,

Vagar nas ondas, retirante a levar.

Com força e labor pela liberdade,

Pátria africana independente.

É vingador, pela morte da mãe doente,

Filhos do éden, pinturas de identidade.

Mesclagem da primeira prostituição,

União das tribos com os ingleses.

Contra os irmãos em favor de franceses,

Formando uma nova irmanação.

A escravidão, sabe como aconteceu?

Escambo religioso, muçulmano.

Filhos de outras tribos, não é mano.

Na história antiga, escravidão surgiu,

Um triste capítulo que o mundo viveu.

No escambo religioso, um comércio cruel,

Muçulmanos envolvidos, um triste papel.

Filhos de tribos diversas, sem escolha, sem voz,

Arrancados de suas terras, um destino atroz.

Nas mãos dos senhores, sofriam a opressão,

A liberdade negada, uma triste condição.

Negros vendidos como mercadoria,

Desumanizados, perdiam a alegria.

Em correntes acorrentados, sem esperança,

Lutavam por dias melhores, por uma mudança.

Na senzala, a cultura resistia,

Cantos, danças, histórias, poesia.

A força dos ancestrais, presente no ar,

A escravidão não podia calar.

Valorizar a liberdade, a igualdade de direitos,

Combater o preconceito, os estereótipos estreitos.

Honrar a luta dos que vieram antes de nós,

Erguer a voz contra qualquer ato atroz.

Que esse cordel seja um lembrete constante,

De que a escravidão foi um mal relevante.

E que nunca mais se repita, em nenhum canto

A liberdade é um direito sagrado, encanto.

No sertão nordestino, um lavrador,

Retirante ruralista, de luta e suor.

Lampião, o cangaceiro, era seu nome,

Salvador das terras, defensor do seu povo, homem.

Canudos, pátria sertaneja independente,

Antônio Conselheiro, líder transcendente.

Comandou o exército de ideais,

Libertador da opressão, nos sertões desiguais.

Zumbi, em Alagoas, mostrou sua bravura,

Comandou um exército, com garra e ternura.

Lutando por liberdade, como um leão,

Negro guerreiro, símbolo de resistência, nação.

Mandinga, balaiada, forças a se unir,

Malê, búzios, revoltas a surgir.

Arerê, o som que ecoa no ar,

Revolução nas veias, a liberdade a conquistar.

Corisco, Maria Bonita mandou te chamar,

No cangaço, a história a se revelar.

O vingador de Lampião, com coragem e destreza,

Cabra da peste, na luta, nunca fraqueza.

No sertão, a saga desses heróis,

Cordéis ecoam suas histórias, seus feitos e seus nós.

Com rimas que se entrelaçam, de ponta a ponta,

Enaltecem a força do povo, a resistência que encanta.

Na grandeza do negro, um grito infinito ecoou

O muçulmanismo contagiou, como religião se firmou

Ilê-Aiyê revela verdades ao povo Fulani

No Senegal, fronteiras com Mauritânia e Mali

A tribo primeira, símbolo de força e união

Salum, Gâmbia, Casamance, rios a desaguar

Mandigno, Tukuler, Uolof, povos negros em ação

Dakar, uma capital linda a brilhar

No cordel das raízes africanas, vamos adentrar

Cantando versos que rimam, canção a soar

A história do negro, sua cultura a celebrar

Com rimas e versos, vamos nos encantar

No continente africano, berço da humanidade

O negro resplandece, em sua diversidade

Cantemos sua grandeza, sua luta e liberdade

Com rimas que ecoam, com toda intensidade

Do grito infinito, nasceu a resistência

O negro se orgulha, de sua existência

No muçulmanismo, encontra sua crença

Elevando sua fé, com toda sua essência

Ilê-Aiyê, mensageiro de verdades ancestrais

Canta a história dos Fulani, seus rituais

Na dança e na música, ecoam os sinais

Da cultura negra, em seus detalhes especiais

Senegal, terra de belezas sem igual

Com fronteiras que unem, num abraço fraternal

Mauritânia e Mali, vizinhos de igualdade real

No continente africano, um tesouro sem igual

Compondo este cordel, exaltamos a beleza

Da cultura negra, que brilha com destreza

As estrofes que rimam, com toda sutileza

Celebrando a grandeza do negro, com certeza

Em uma terra de sol escaldante,

Onde o suor era constante,

Em Salvador, cidade bela,

Aconteceu uma história singela.

Eram tempos de escravidão,

Onde a liberdade era ilusão,

Os escravos Melé, valentes,

Sonhavam com dias mais contentes.

Trabalhavam nas plantações,

Sob as chibatas e opressões,

Mas a chama da resistência,

Crescia em seus corações com insistência.

Um dia, cansados de tanto sofrer,

Decidiram se unir e lutar para vencer,

Na noite escura, silenciosos,

Eles planejaram seus atos corajosos.

Com lanças, enxadas e coragem,

Marcharam contra a escravidão selvagem,

Gritando liberdade e igualdade,

Enfrentaram a opressão com valentia.

Nas ruas de Salvador, a revolta se espalhou,

Os escravos Melé, bravos, se mostraram,

Lutaram contra a injustiça,

Pela sua liberdade e justiça.

A cidade viu sua força e coragem,

E o medo tomou conta da paisagem,

Mas os Melé não desistiram,

Pela sua liberdade, persistiram.

A batalha foi dura e sangrenta,

Mas os Melé não se deram por vencidos um só momento,

Até que finalmente, a vitória chegou,

E a liberdade enfim se mostrou.

E assim, os escravos Melé,

Deixaram sua marca na história de Salvador,

Enfrentaram a opressão com bravura,

E conquistaram sua liberdade com ternura.

Que essa história nos faça refletir,

Sobre a luta e a resistência a persistir,

Para que nunca esqueçamos,

Do valor da liberdade que tanto prezamos.

No Maranhão, terra de encantos mil,

Vou contar a história de Ana Joaquina Jansen Pereira,

Uma mulher de personalidade forte e sutil,

Que deixou sua marca, uma verdadeira bandeira.

Ana Joaquina, mulher destemida,

Nasceu em uma época de escravidão,

Mas ela não se deixou ser oprimida,

Lutou por direitos e igualdade com determinação.

Era conhecida por sua riqueza e poder,

Uma mulher de negócios e empreendedora,

Com sua força, ela soube vencer,

Desafiando as normas da sociedade opressora.

No comando de grandes fazendas e engenhos,

Ana Joaquina mostrou sua habilidade,

Gerenciando com mãos firmes e bons acenos,

Conquistando respeito e admirabilidade.

Mas além de sua fama como senhora poderosa,

Ana Joaquina também é lembrada por uma lenda,

Dizem que ela possuía poderes misteriosos,

E que sua casa era assombrada por histórias horrendas.

Conta-se que à noite, a mansão se transformava,

Em um lugar de mistérios e aparições,

Espíritos vingativos por lá passeavam,

Causando arrepios e aflições.

Ana Joaquina, corajosa e destemida,

Enfrentava os fantasmas com valentia,

Desafiando as forças sobrenaturais da vida,

Mostrando que a coragem é a melhor companhia.

Essa lenda envolve o Maranhão até hoje,

E Ana Joaquina é lembrada com respeito,

Uma mulher que deixou seu legado,

Na história e no imaginário desse lugar tão perfeito.

Que a história de Ana Joaquina nos inspire,

A lutar por nossos sonhos e direitos,

Assim como ela, não nos deixemos oprimir,

E sigamos em frente, sempre de peito aberto.

Nos mares revoltos, tristes lamentos se ouviam,

Nas rotas dos navios negreiros que partiam,

Escravos arrancados de suas terras sagradas,

Com corações pesados e almas despedaçadas.

A bordo dessas embarcações malditas,

A crueldade e a desumanidade eram infinitas,

Homens, mulheres e crianças amontoados,

Como mercadorias, tratados como seres desprezados.

Nas senzalas flutuantes, o ar era denso,

O cheiro do medo e do sofrimento intenso,

As correntes apertadas, feridas na carne,

Escravos acorrentados, sem liberdade, sem alarme.

As lágrimas rolavam pelos rostos sofridos,

Enquanto as almas clamavam por seus destinos perdidos,

No porão escuro, a esperança ia se esvaindo,

Enquanto a morte, impiedosa, ia surgindo.

As doenças se espalhavam pela embarcação,

A falta de higiene, a fome, a desolação,

A febre amarela, a disenteria, a varíola,

Ceifando vidas, trazendo a dor e a viola.

Os corpos sem vida eram lançados ao mar,

Sem sepultura digna, sem direito a chorar,

E o oceano se enchia de tristeza e lamento,

Pelas vidas perdidas, pelo sofrimento.

O mar se tornou testemunha silenciosa,

Dessa tragédia humana, tão espantosa,

Os gritos de dor ecoavam nas ondas revoltas,

Enquanto a ganância do homem se solta.

Mas mesmo diante de tanta dor e opressão,

A chama da resistência não se apagou, não,

Os escravos lutaram, perseveraram na esperança,

De um dia alcançarem a tão sonhada bonança.

Essa história triste, repleta de dor,

Nos lembra da necessidade de lutar por amor,

Pela igualdade, pela liberdade, pelos direitos,

Para que nunca mais se repitam esses tristes feitos.

Que as memórias desses navios negreiros,

Nos ensinem a valorizar os laços verdadeiros,

A respeitar todas as vidas, sem distinção,

E a nunca esquecer a força da nossa união.

Na vastidão das fazendas brasileiras, um personagem sombrio surgia,

O Capitão do Mato, figura temida, que a liberdade alheia negava,

Com açoite na mão e olhar frio, ele se tornava o algoz do seu povo,

Um negro escravo, aprisionado pelo sistema que o oprimia e sufocava.

Nas senzalas, era comum ouvir o ecoar do seu nome,

O Capitão do Mato, um ser tão contraditório e infame,

Pois nas suas veias corria o sangue do mesmo sofrimento,

Mas a mão que chicoteava, era a mesma que sentia o momento.

Comandado pelos senhores, o Capitão do Mato se tornou,

O executor das vontades cruéis, daqueles que o escravizaram,

Caçava seus irmãos de pele, traído pela sua própria condição,

Amando odiar, lutando contra a própria liberdade que almejaram.

Nas matas escuras, o Capitão do Mato se embrenhava,

Seguindo os rastros dos fugitivos, negros corajosos e valentes,

Mas cada captura era uma ferida aberta, um grito sufocado,

Pois ele sabia que, um dia, poderia ser ele o prisioneiro, carente.

O ciclo cruel da escravidão transformava o Capitão do Mato,

Em um instrumento de opressão, uma marionete do poder,

Era obrigado a trair os seus, a subjugar a própria identidade,

Um triste paradoxo, em que a dor e a esperança se entrelaçavam, a viver.

Mas nem todo Capitão do Mato se curvava à maldade imposta,

Alguns, no íntimo, nutriam a semente da rebeldia e da libertação,

Era uma pequena chama que ardia, uma centelha de resistência,

Lutavam em segredo, protegendo os fugitivos, com devoção.

O Capitão do Mato, representação de uma época sombria,

Nos lembra que nem sempre a cor da pele define o caráter,

O sistema escravocrata distorceu a essência de muitos,

Transformando-os em algozes, mas a resistência não pôde apagar.

Que a memória do Capitão do Mato nos faça refletir,

Sobre a complexidade humana e sua capacidade de se reinventar,

Que nunca mais se repita a opressão que rasgou corações,

E que a liberdade seja conquistada por todos, sem se calar.

Nas terras distantes, onde a dor ecoava,

Os donos de escravos, com crueldade, planejavam,

Usavam os corpos dos negros, sem piedade,

Escravos reprodutores, vítimas da atrocidade.

Homens e mulheres, negros fortes e valentes,

Eram selecionados para cumprir tal destino,

Seus corpos explorados, sem consentimento,

Eram usados como máquinas de procriação, sem tino.

Nas senzalas escuras, a tristeza pairava,

O cheiro de desespero no ar se espalhava,

Escravos reprodutores, marcados pela opressão,

Viviam a angústia de serem apenas instrumentos, sem razão.

Unidos em matrimônio forçado, sem amor,

Eram obrigados a gerar filhos, sem escolha,

Seus laços familiares despedaçados na dor,

Enfrentando a violência que a escravidão brocha.

Era uma forma perversa de aumentar a lavoura,

Os donos de escravos viam nos filhos uma riqueza,

Mas não enxergavam a dor que causavam,

Ao submeter os escravos a essa tristeza.

Nascer escravo, carregar esse fardo,

Era o destino imposto aos filhos dessa união,

Cresciam na senzala, sem liberdade ou resguardo,

Condenados a uma vida de opressão.

Mas mesmo em meio à escuridão, havia resistência,

Escravos reprodutores, valentes e corajosos,

No silêncio das noites, sonhavam com a liberdade,

E nutriam a esperança de dias mais gloriosos.

A história cruel dos escravos reprodutores,

Nos lembra da luta incessante pela igualdade,

De que cada ser humano possui sua dignidade,

E que a opressão não pode ter continuidade.

Que a memória desses escravos nos inspire,

A lutar contra qualquer forma de exploração,

A valorizar a liberdade e a igualdade,

E a construir um mundo de justiça e união.

Nos versos do cordel, vou contar a triste sina,

Dos escravos que sofreram, na terra brasileira,

Submetidos a tormentos, numa era cruel e sombria,

Viveram a escravidão, uma história derradeira.

No tronco, açoitados, sentiam a dor lancinante,

Chicotes cortavam suas carnes, sem piedade,

Marcas profundas, cicatrizes para sempre constantes,

Sofriam nas mãos dos senhores, naquela atrocidade.

As palmatórias, instrumentos de punição,

Escravos ajoelhados, mãos estendidas em aflição,

Cada golpe, uma dor, uma humilhação,

Marcas na pele, marcas na alma, sem perdão.

O ferro em brasa, símbolo de tortura ardente,

Aplicado nos corpos, causando dor e lamento,

Queimaduras profundas, marcas eternas, indeléveis,

Escravos sofriam, desumanizados, sem alento.

Nas senzalas escuras, os troncos de castigo,

Onde os escravos eram amarrados, presos à dor,

Ali, a espera de punições, num triste abrigo,

A angústia e o medo presentes, a cada torpor.

E não bastava a violência física, crueldade sem fim,

A tortura psicológica também fazia parte,

Humilhações constantes, insultos sem pudor,

A escravidão deixava marcas na mente, na arte.

A separação das famílias, um tormento a mais,

Filhos arrancados dos braços de suas mães,

O coração partido, a dor que jamais se desfaz,

O amor despedaçado, nas correntes que os apraz.

Mas mesmo em meio à dor, surgia a resistência,

Escravos que lutavam, que não se curvavam,

Sonhavam com a liberdade, com a independência,

Era a chama da esperança que nunca apagavam.

Que esses versos nos façam refletir, óh leitores,

Sobre a crueldade que permeou nossa história,

Que a memória dos escravos seja um clamor,

Por justiça e igualdade, por uma nova glória.

Que nunca nos esqueçamos das dores do passado,

E que lutemos por um mundo mais justo e humano,

Onde a liberdade seja um direito sagrado,

E onde a escravidão seja apenas um triste engano.

Nos versos do cordel, vou contar uma história sombria,

Dos senhores e senhoras que mancharam a escravidão,

Deitavam-se com os escravos, numa triste desarmonia,

Causando dor e sofrimento, sem compaixão.

Os senhores, com seu poder, abusavam do seu domínio,

Forçavam as escravas, sem consentimento,

Violavam seus corpos, num ato de vil desatino,

Um crime sem perdão, um triste tormento.

E as senhoras, também cúmplices dessa desventura,

Deitavam-se com os escravos, num segredo obscuro,

Porém, quando a verdade vazava, sem ternura,

Matavam os amantes, num gesto mais duro.

Os filhos ilegítimos, frutos desse pecado,

Eram tomados das mães, num ato de crueldade,

Arrancados dos braços, num destino amargurado,

A dor da separação, sem piedade.

Quantos segredos escondidos nessas senzalas,

Quantas vidas perdidas, num silêncio profundo,

A escravidão manchada por histórias tão macabras,

Um capítulo sombrio, que não tem segundo.

Que esses versos nos façam refletir, óh leitores,

Sobre as atrocidades que nossa história carrega,

Que nunca mais se repitam esses terríveis horrores,

Que a liberdade e o respeito sejam a regra.

Que nunca esqueçamos o sofrimento dos escravos,

E lutemos por um mundo mais justo e humano,

Onde o amor e a igualdade sejam os verdadeiros bravos,

E onde o passado não seja um fardo insano.

Que essas palavras sejam um grito de resistência,

Contra a opressão e a violência sem razão,

Por uma sociedade livre de todo tipo de carência,

Onde todos tenham direito à sua própria canção.

No Brasil, terra de misturas e encontros,

Chegaram escravos de diferentes cantos,

Vieram da África, berço de tantas raças,

Com suas culturas, línguas e esperanças.

Bantos, yorubás e jejes, com seu axé,

Trouxeram a força e a fé,

Falavam línguas como o quimbundo e o iorubá,

E mantinham viva a tradição ancestral.

Os minas, vindos da Costa da Mina,

Com sua língua e cultura tão genuína,

Com seus rituais e crenças sagradas,

Enriqueceram as terras brasileiras.

Nagôs, haussás e fulanis também chegaram,

Com suas línguas e histórias que nos marcam,

A iorubá e o haussá ecoavam nas senzalas,

Preservando suas raízes ancestrais.

E como lidavam com quem falava outra língua,

Para evitar fugas e desavenças,

Muitas vezes, eram separados e misturados,

Para que entre si se entendessem, ajustados.

Criou-se um idioma, o crioulo,

Uma mistura de línguas e sotaques,

Era um jeito de se comunicar,

Sem que os senhores pudessem decifrar.

Mas mesmo diante de tantas adversidades,

As diferentes etnias mantiveram suas identidades,

Preservaram suas culturas com bravura,

E ergueram-se com força e ternura.

Hoje, suas contribuições são lembradas,

No samba, no maracatu e nas danças animadas,

Na culinária, na religião, nas tradições,

As heranças africanas são nossas emoções.

Que o cordel sirva de homenagem,

Aos escravos e suas coragens,

E que nunca esqueçamos a importância,

Da diversidade e da valorização da herança.

No sertão nordestino,

O cordel vou narrar,

Sobre a Lei do Ventre Livre,

Que veio nos libertar.

No ano de 1871,

Essa lei foi promulgada,

Dando liberdade aos filhos,

Dos escravos de madrugada.

A Lei do Ventre Livre,

Com seu brilho e esplendor,

Garantiu aos pequeninos,

O direito à liberdade e ao amor.

Mas a luta ainda continuou,

E em 1885 aconteceu,

A Lei do Sexagenário,

Que aos mais velhos socorreu.

A partir dos 60 anos,

Os escravos seriam livres,

Uma esperança de dias melhores,

Para quem sofreu tantos fardos e privações.

E as compras da liberdade,

Foram a redenção,

Para muitos escravos,

Que sonharam com a libertação.

Os alforriados juntavam dinheiro,

Para comprar sua própria liberdade,

E assim, aos poucos, conquistavam,

Uma vida de dignidade.

Essas leis marcaram o fim,

Do sistema escravocrata,

Mas a luta pela igualdade,

Continua até hoje, sem pausa nem trégua.

Que o cordel sirva de lembrança,

Da nossa história e resistência,

Para que nunca esqueçamos,

Da importância da liberdade e da persistência.

Dos descendentes de escravos, vamos falar agora,

No Brasil e no mundo, como vivem, como estão agora.

Na moradia, muitos ainda lutam por dignidade,

Em favelas e periferias, enfrentando a desigualdade.

A educação é um caminho desafiador,

Acesso igualitário ainda é um clamor.

Mas muitos se dedicam, buscam superação,

Provando que conhecimento é libertação.

Na saúde, a luta é diária e persistente,

Para acabar com o tratamento indiferente.

Acesso igualitário aos serviços é uma demanda,

Para que todos tenham qualidade de vida e esperança.

A expectativa de vida é uma triste realidade,

Pois ainda há desigualdade na sociedade.

Mas a resistência e a força são evidentes,

Pois a vida é luta constante e persistente.

Preconceito e discriminação ainda persistem,

Mas os descendentes de escravos resistem.

Com orgulho de suas raízes e história,

Enfrentam o preconceito com força e glória.

No Brasil e no mundo, a luta é coletiva,

Por igualdade, justiça e uma sociedade inclusiva.

Os descendentes de escravos são protagonistas,

Na busca por um mundo mais justo e igualitário.

Que o cordel sirva de inspiração e reflexão,

Sobre a realidade dos descendentes de escravos na nação.

Que todos possam lutar e se unir,

Para construir um futuro onde todos possam sorrir.

Em terras distantes, no solo brasileiro,

A escravidão marcou uma triste história.

Do continente africano, vieram cativos,

Arrancados de suas terras, em um destino esquivo.

Nas senzalas, sofreram inúmeras agruras,

Açoitados, humilhados, sem nenhuma ternura.

Seus corpos marcados pelo peso da corrente,

Enfrentaram o horror, a dor, a descrença latente.

Nas plantações, o suor escorria incessante,

Cultivando a riqueza, sem ver vantagem adiante.

Canaviais e cafezais, campos de exploração,

O trabalho forçado, a vida em submissão.

Mas no íntimo, a chama da resistência ardia,

A luta pela liberdade, a busca pela alegria.

Nas senzalas, surgiram quilombos e fugas,

Um grito de esperança, em meio às rugas.

Zumbi, Dandara, Palmares e tantos outros,

Heróis da resistência, verdadeiros souros.

E mesmo com a abolição, a luta não cessou,

Ainda hoje, buscamos a igualdade que nos foi negada.

Que esse sonho estrambótico esteja no lembrete,

Da história que não pode ser esquecida, nem omitida.

Para que o passado não se repita, é preciso aprender,

Valorizar a diversidade e a justiça, é o que devemos fazer.