Poetas de Bananeiras

Descrevo neste cordel

A história verdadeira

Desses dois grandes poetas

Nascidos nesta ribeira:

O poeta Ismael Freire

E João Melchíades Ferreira

Ismael Freire da Silva

Um vate que idolatro

Nasceu em 30 de julho

Do ano de 24

Sua vida dá um filme

Ou uma peça de teatro

No ano dois mil e vinte

Se deu o falecimento

Desse artista celebrado

Pelo versátil talento

Viveu 96 anos

Transformou-se em monumento

Foi poeta cordelista

E um mestre violeiro

Como xilogravurista

Dominou o seu terreiro

Como editor/produtor

Deste cordel brasileiro

O filho de Zé Belmiro

E Josefa Conceição

Desde cedo demonstrava

Sua forte vocação

Antes de aprender a ler

Já inventava canção

De infância muito pobre

Sem ajuda de ninguém

Mudou-se de Bananeiras

Foi trabalhar em Belém

Aos 15 anos de idade

Servente de armazém

De Belém, Ismael Silva

Foi para Campina Grande

A arte gráfica aprendeu

Sua competência expande

Procurou uma cidade

Onde sua arte demande

Foi no ano de quarenta

Habilitado na lira

Ismael se instalou

Na cidade Guarabira

Onde passou sua vida

Tendo a arte como mira

Nesta cidade casou-se

Com dona Maria Santos

Com quem teve nove filhos

E apesar dos encantos

Para sustentar a prole

Foi muito suor e prantos

Teve várias profissões:

Agricultor e ferreiro

Como xilogravurista

Trabalhou de funileiro

Foi poeta repentista

E exímio fogueteiro

Depois que aprendeu a ler

Com pouca orientação

Passou a fazer cordel

Vendendo de mão em mão

Nas feiras e nos botecos

Toda sua produção

No ano 52

Sai seu primeiro folheto

“A profecia do velho”

Um importante livreto

Daí seguiu-se uma série

Falando sobre seu gueto

“Terra da Luz, Guarabira”

Falava dessa cidade

Que tão bem o acolheu

Mesmo sentindo saudade

Da amada Bananeiras

Lugar de sua irmandade

“A verdadeira história

Do santo Frei Damião”

Um folheto de sucesso

Com metro, rima e oração

Conforme pede o cordel

Numa quase perfeição

“O que se vê hoje em dia”

Outro folheto arretado

Do poeta Ismael Freire

Que também dava seu brado

De protesto, como neste:

“O Brasil escaveirado”

“O diabo solto no mundo

Montado na besta fera”

Outro trabalho manhoso

Onde o poeta reitera

A posição social

Circulando nesta esfera

Em 2017

93 de idade

Ismael Freire recebe

Da adotiva cidade

Título de Cidadão

Por seu dom e qualidade

Sua terra Bananeiras

Fica devendo homenagem

Mesmo depois que o poeta

Fez sua grande viagem

Resgatando a memória

Do bardo e sua imagem

De Bananeiras também

É João Melchíades Ferreira

“Cantador da Borborema”

Foi da geração primeira

De poetas cordelistas

Com grandiosa carreira

Em um 7 de setembro

Do ano sessenta e nove

Nasceu o mestre João

No século dezenove

Durante sua carreira

Grande produção promove

Tinha 19 anos

Quando virou militar

No tempo da Monarquia

Foi para a guerra brigar

No confronto de Canudos

Para morrer ou matar

Mil novecentos e três

Serviu na guerra do Acre

Defendendo o território

Até que o acordo se lacre

Combateu com heroísmo

Naquele cruel massacre

Contraiu a beribéri

Perdeu sua audição

Voltou para a Paraíba

Depois de uma promoção

Virou sargento de tropa

Mas se afastou da ação

Pediu baixa da sua tropa

Reserva remunerada

Mil novecentos e quatro

A reforma efetivada

Foi morar em João Pessoa

Na Paraíba amada

Pra complementar a renda

Foi viver de cantoria

E da venda de folhetos

Invenções de fantasia

A produção avultava

E sua fama crescia

O sargento João Melchíades

Brigava em outra batalha

A poesia era a arma

Viola sua medalha

Rima era munição

Enquanto o sonho metralha

Com “A Guerra de Canudos”

Um folheto de guerreiro

Foi o primeiro cordel

Sobre Antonio Conselheiro

O beato de Canudos

E seu bando de romeiro

Há uma grande discussão

Assunto ainda brumoso

Sobre a veraz autoria

Do “Pavão Misterioso”

Quem realmente é o dono

Desse folheto famoso

Uns dizem que João Melchíades

Plagiou José Camelo

Mas existe outra versão

Em adverso modelo

Esse confronto ainda hoje

É tema de muito apelo

Ariano Suassuna

Foi grande admirador

De João Melchíades Ferreira

O poeta cantador

É citado em muitos livros

Do genial escritor

Esses dois grandes poetas

Nascidos em Bananeiras

Até hoje são lembrados

Nos rincões, confins e feiras

Na memória coletiva

Das populações brejeiras

Melchíades é meu patrono

Entre marcas altaneiras

Na Academia de Letras

Fundada em Bananeiras

Sendo esta distinção

Uma das mais lisonjeiras

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 26/12/2023
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