Lembrança da Retirada
Eu nasci na terra bruta
Lá nas bandas do sertão
Vi o sol secar lavoura
Queimar toda plantação,
E o matuto se arribar
Pra longe do seu Rincão!
Nos meus contos de verão,
Nossos rios por lá secava
Não tinha peixe para pescar
Nem passarinho que avoava,
Alimento era repartido
Na região q'eu morava.
Duas tragedias se contava,
Na lida do fazendeiro
O castigo do verão
E enchente em janeiro,
Trovoadas e relâmpagos
Transborda açudes primeiro!
É como navio negreiro
Roda terra, balança mar
É assim a vida sertaneja
O Olimpo mudou-se p'ra cá,
Ralampagos nas Baraúnas,
Arrepia o pescoço ao cacanhar!
Os rios dão varzantes por lá,
O povo diz: - chuva abençoa,
Nossa gente sofrida,
E o grito de saudação ecoa,
Borboletas no campo verde
Sertão esmeralda a lagoa!
O vaqueiro um aboio entoa,
Aos santos agradecendo,
Mas a chuva passageira,
Logo vem o sol ardendo
A brisa vem mareando,
Um crisma no ar, noiz vendo!
E vamos a vida colhendo,
No sertão que já foi mar,
Me valha o pé de serra,
No lagedo há água a jorrar,
Se torra o chão, rezo aos meus,
Não percamos a fé em Deus,
Ser forte é acreditar!