O MAGO DO SERIDÓZ

Cidade de Jaçanã,

Sítio Chã da Bolandeira.

Morava uma linda jovem,

Numa vida rotineira.

Com seu tio e sua tia

E uma cadela que latia,

Por qualquer uma besteira.

Eles tinham um roçado

De onde vinha o alimento.

Jerimum, milho e feijão,

Pra irrigar? Cata-vento.

Tinham frutas variadas,

Faziam até cocadas,

Todos eram pro sustento.

Certo dia um “ridimui”

Trouxe muita agitação.

Que a jovem Dorotéia

Ficou com preocupação.

Logo chamou sua Mel,

Amiguinha mais fiel,

Cadela de estimação.

Seu tio José Antônio,

Foi dizendo assim pra ela:

- Corra pra dentro de casa,

Feche a porta e a janela.

E se pegue com Jesus,

Repetindo o nome cruz

É assim que a gente apela.

- E onde está tia Maria?

Ela logo perguntou.

Ele foi lhe respondendo:

- No roçado ela ficou.

Eu vou lá pra buscar ela,

Você mantenha cautela,

Que de volta logo estou.

Depois qu’ela fechou tudo,

Começou a barulheira.

A casa ficou tremendo,

Ela teve uma tonteira.

Com a casa ela voou,

E depois que aterrissou,

Foi coberta por poeira.

Com a Mel ela saiu,

Pois estava preocupada,

Quando chegaram lá fora

Uma cena inesperada.

O cangaceiro do Leste

Lá das bandas do agreste

Tentou dar-lhe uma agarrada.

Antes dele chegar perto,

Certo alguém intercedeu.

Lhe deu uma bela surra

Qu’ele jamais esqueceu.

A mulher de pulso forte,

Era Rendeira do Norte

Que a menina protegeu.

Falou pra tomar cuidado,

E lhe deu belo presente.

Lindo par de alpercatas

De renda bem reluzente.

Dorotéia perguntou:

- Por favor, onde eu estou,

Tudo aqui tá diferente!

- Este mundo é Saruê

Uma terra abençoada.

Se acabastes de chegar,

Podes cá fazer morada!

Ela disse: - Nem pensar,

Pra casa quero voltar.

Pode indicar a estrada?

- Pra voltar à sua casa

É somente caminhar.

Pela estrada de barro

Que no SeridÓZ vai dar.

Pois é lá nessa cidade,

Que tem na realidade,

Alguém que vai te ajudar.

Quando você chegar lá,

Busque pelo poderoso.

O Mago do SeridÓZ

Ele é bem virtuoso!

Dorotéia então saiu,

Com a Mel que lhe seguiu,

Pelo caminho barroso.

Mais na frente ela encontrou

Um belíssimo roçado,

Percebeu que numa pedra

Havia um senhor sentado.

Ela então se aproximou

E pra ele perguntou:

- Você está chateado?

Ele então lhe respondeu:

- Eu sou um Poeta triste.

Que queria fazer versos,

Mas a minha mente insiste

Em não ter inspiração.

Queria uma solução.

Mas será que ela existe?

Ela disse: Tenha calma,

Que eu tenho a solução.

Te convido a vir comigo

Cumprirmos essa missão.

O Mago do SeridÓZ,

Vai ouvir a sua voz

E trazer inspiração.

E assim foram seguindo

Na estrada caminhando.

Dorotéia e o Poeta

Iam sempre conversando.

Quando a Mel com sua pata,

Bateu num gibão de lata,

Que foi se movimentando.

Pois era um grande vaqueiro,

Só que estava deprimido.

Dorotéia perguntou

O que tinha acontecido.

- Eu perdi meu coração.

Por conta duma ilusão,

O meu peito está ferido!

- Venhas cá. Vamos conosco,

Pra sarar essa ferida.

O Mago do SeridÓZ

Essa dor, ele liquida.

Ele tem muitos poderes

E, também, muitos saberes,

Pois disso ninguém duvida.

O vaqueiro decidiu

Com o grupo se juntar.

Caminharam algum tempo

Depois foram descansar.

Mas a Mel na retaguarda,

Avistando a onça parda.

Quis no bicho avançar.

A onça partiu pra cima,

Mas, quando escutou o grito

Da pequena Dorotéia,

Berrou igual a cabrito.

Dizendo: - Por gentileza,

Não consigo ter brabeza,

Sua ajuda solicito.

- Mas você é uma onça!

Dorotéia afirmou.

A onça lhe respondeu:

- A coragem me faltou.

Me ajude a ser corajoso,

Que te arranjo um esposo,

Como nunca imaginou.

Ela disse: - Eu ajudo,

Mas esposo eu não quero.

Apenas voltar pra casa

É o que eu considero.

Vamos o Mago encontrar,

Pra ele nos ajudar,

É somente o que eu espero.

Vários dias viajaram,

Até que um certo dia,

Chegaram lá na fazenda,

Onde o Mago residia.

Eles foram recebidos

E fizeram seus pedidos,

Todos com muita alegria.

- Realizo os seus pedidos,

Mas tem uma condição.

O cangaceiro do Oeste

Quero vê-lo na prisão.

Prendam ele, que eu pago!

Assim disse o grande Mago,

Depois saiu do salão.

Ao deixarem a fazenda,

Seguiram pra uma cidade,

Que ouviram alguns relatos

De pura perversidade.

- Temos que capturar,

Pra o Mago realizar,

Disse a onça com vontade.

Mas, no meio do caminho,

Caíram numa emboscada,

Do cangaceiro feroz,

De nome Chico Coalhada.

O Cangaceiro do Oeste,

Era um “cabra rim” da peste,

Não tinha medo de nada.

Dorotéia era menina,

Qu’era muito da teimosa.

Se soltando das amarras

Foi de forma vagarosa,

Pegando desprevenido,

O cangaceiro atrevido.

Esta sim, é corajosa.

Conseguindo derrubar,

Amarrou ele bem forte.

Libertou os seus amigos,

Pois eram o seu suporte.

Pra fazenda retornaram

E para o Mago mostraram,

O cangaceiro sem sorte.

- Mas, agora nós queremos,

Sua retribuição.

Pro poeta, nós pedimos

Que te dê inspiração.

O Mago foi respondendo:

- Já está acontecendo.

Escute seu coração!

De repente uma estrofe

Veio de forma completa:

- Eu não sou verso jogado,

Sou poesia seleta.

Eu afirmo com respeito,

Que jamais este sujeito,

Vai deixar de ser Poeta.

Todos eles aplaudiram,

O poeta inspirado.

Que falou logo em seguida

Pro vaqueiro magoado:

- Aproveita, meu irmão,

Pede um novo coração,

Mas, qu’esse seja blindado!

- Isso não será preciso!

Disse o Mago, afirmando.

Entregando um espelho

Que o vaqueiro foi olhando.

- Agora qu’eu percebi,

O coração, tá aqui,

Eu qu’estava desprezando.

A onça por sua vez

Foi usando a sua voz:

- Por favor, me dê coragem

Óh! Mago do SeridÓZ.

- A coragem você tem,

É só chamar qu’ela vem,

No seu rugido feroz.

- Eu sou a Suçuarana!

Disse a onça num rugido.

Foi tão forte que o povo

Teve que tampar o ouvido.

Ela foi agradecendo

E finalizou dizendo:

- Dorotéia! O seu pedido?

Mas o Mago interrompeu

E falou: - Infelizmente,

Seu pedido Dorotéia,

Vai ter que ficar pendente.

Pois terei que pesquisar,

Para você ajudar.

Ela ficou descontente.

Em seguida a raizeira,

Lá do sul de Saruê,

Escutou essa conversa,

E chamou o seu sofrê.

Pediu para o passarinho,

Trazer um abre-caminho.

- Eu vou ajudar você!

Pegando as alpercatas,

Ela fez um movimento,

Junto com umas palavras

Era mesmo encantamento.

Elas ficaram brilhando.

- Calce elas já pensando

Onde ir nesse momento.

Ela então fechou os olhos,

A Mel no colo pulou,

E calçando as alpercatas,

Em seus tios ela pensou.

Escutou um forte vento,

Mas manteve o pensamento

Ela não desconcentrou.

Quando, então abriu os olhos,

Viu ali o seu roçado.

Foi pulando de alegria,

Pra casa tinha voltado.

Aos tios foi abraçar,

Ela também foi contar,

O qu’eles tinham passado.

Esse conto eu finalizo,

Com grande satisfação,

Pois o autor do cordel,

É Mago por profissão.

Quero deixar meu abraço,

Do tamanho do espaço.

E a minha gratidão!

Leidson Macedo Felix

(Capitão Jack)

02/06/2021