Capoeira
Chegando em navios
negreiros aqui chegou,
o porão com sua boca aberta
choro, lágrimas e dor.
Bahia, Rio, Pernambuco
foi o primeiro lugar,
chegou os navios negreiros
começou descarregar.
deixados aqui no mato
nessas bandas do além,
trazidos de lá da África
vendidos por um vitém.
que terra estranha é essa
alguém ali contextou,
o dono ouviu o falar
e o falador apanhou.
escravo particular
espalhados no Pau Brasil,
marcados na sua pele
por um povo varonil.
trazidos para trabalhar
sem roupa prá proteger,
água nem se pensar
o dia inteiro sem beber.
liberdade nem pensar
o engenho escravizou,
o servo servia o dono
lhe chamava de doutor.
e nesse ambiente
de luta e solidão,
a cultura resgatada
descalço com pé no chão.
remanescentes da tradição
atuando nesse lugar,
são os filhos do passado
rubricando o lutar.
cicatrizes muito profundas
deixadas sem compaixão,
canavial rasgado no meio
calcanhar enterrado no chão
o dia ali trabalhado
sem um pedaço de pão,
o sol sapecando o rosto
queimando o coração.
capoeira foi tocada
a brincadeira começou,
no entardecer do dia
a expressão se ajuntou.
o tempo que foi passado
a capoeira acompanhou,
passando de geração
do neto daquele avô.
de lá prá cá, tudo igual
quase nada se mudou,
a batida é a mesma
a rasteira derrubou.
instrumentos fazem parte
na batida do agogô,
berimbau maior de todos
o povo se encantou.
atabaques, e ganzá
pandeiro e caxixi,
compõem a brincadeira
tem beleza no ouvir.
paranauê muito famoso
tocado na rimação,
perna jogada livre
palmas em comunhão.
colorido especial
calça branca abadá,
uma fita colorida amarrada
bailando voando no ar
o verde que vem da pedra
do limo que se criou,
trazendo a natureza
muita força e pudor.
conhecimento e brincadeira
no azul representado,
temperança e equilibrio
se abraçando lado a lado.
primeira etapa em ação
buscando desenvolver,
energia positiva é gratidão
o roxo prá convencer
chutes, rasteira e cabeçadas
compõem toda ação,
cada um no seu estilo
uma dança sem abrassação.
joelhadas, acrobacias
espetáculo livre no ar,
assim como borboletas
ziguezagando no voar.
a beleza envolvente
meia-lua, martelo no chão,
uma ginga envolvente
beleza e emoção.
rabo de arraia, chapa, aú
rasteira prá se livrar,
uma perna vinda daqui
outra perna vinda de lá.
tesoura também faz parte
da ginga e do dançar,
a roda está formada
quem quiser pode entrar.
e o toque especial
esse não pode faltar,
são Bento grande, está presente
a bengala a musicar.
no toque tem Idalina
cavalaria sem montar,
Amazonas não é selva
do sertão a beira mar.
que encanto é capoeira
quatro luas a passar,
Lúna é toque sem retoque
atabaque a soar.
Berimbau é um encanto
colorido na produção,
cabaça ecoa o som
no toque da vibração.
viva essa tradição
vinda do muito além,
dum passado tão distante
capoeira é de bem.
mão no chão, perna no ar
definindo a formação,
um se joga prá um lado
o outro em comunhão.
tem trança embelezado
mostrado o seu poder,
cada um de uma forma
cada um sabe fazer.
o codel aqui rimado
produzido no sertão,
resgatando a beleza
dessa gente em união.
a roda chama atenção
de quem passa no lugar,
todo mundo se ajunta
e começa a cantar.
paranauê, Paraná
paranauê!