ODE À ANGOLA

 

Deus tem misericórdia do teu povo
Angola pranteia toda dor e flagelo
Cantar bem alto, sua sangria,anelo
Por meus irmãos, filhos deste estorvo

As mãos secas cavam o chão duro
Por cacos e latas,alguns tostões
Que vale no findo dia, dois pães
Meu pai, que presente obscuro...!

Se chove não há teto sobre seus filhos
Correm de lá prá cá, mortos de frio
Que vida é esta que causa arrepio
Destruíram suas casas, caminham sem trilhos.

Por ventura também não são filhos seus?
Estes meus irmãos, da mama África?
Então porque o punhal no seu peito infinca?
Perdoe-me o queixume dos brados meus.

É que o choro deles cá em mim chegaram
Vieram na força da águia,seu grasnar
Disse -me sobre homens de almas negras
Que escravizam o povo sem pestanejar!

Levanta-te óh Deus, do teu trono sagrado
Faz justiça nesta terra bendita
Terra de fartos minérios, de matas bonitas
Pisa aos teus pés este tirano malvado!

Que águas cristalinas voltem à correr
Lavando o sangue dos teus guerreiros
Devolva às crianças o passo ligeiro
E que o trigo e o milho volte à crescer!

Sou filha longínqua deste continente
Sou mama de alma, letras e coração
Mas meu íntimo urge por redenção
Aceitem-me, filhos junto à tua gente!

Ergo também minha voz à vossa voz
Ainda que não sinta na carne a vossa dor
Choro o vosso choro em único clamor
Acaso não somos filhos Dele,todos nós?

Haja esperança para Angola, hoje sim!
Hajam sonhos de dias de alegria
Não matem seus moços por causa da poesia
Um dia de sol fulgurante, reluzente e sem fim.