“CORDEL CAIPIRA”

"O Miro e a Onça”

É que eu estava na vanguarda

Sem jeito pra trabalhar.

Eu peguei minha espingarda,

Fui pra selva caçar,

A linda onça enorme e parda.

No caminho foi deitar.

Subi numa sucupira

Fiquei ali bem de butuca,

A tal da onça nem respira

E foi me fundindo a cuca,

Firmei meu rifle na mira

Já atirei atrás da nuca.

Tal onça nem se moveu

E desci me sentindo home,

Cutuquei nem se mexeu,

Eu vou fazer o meu nome,

Digo quem matou fui eu

Azar se morreu de fome.

Cortei uma boa forquia,

Fiz a corda de timbó

Amarrei como devia,

Eu dei bem uns trinta nó,

Sei lá se a onça revivia,

E torava o tal cipó?

Fui andado bem lampeiro

E cantando uma modinha.

Passei a meio do terreiro.

De uma linda fazendinha.

Veio um gordo fazendeiro,

Saber da coragem minha.

Perguntou bem curioso,

Moço ocê é caçador?

Respondi, eu sou corajoso.

Dou serviço ao senhor,

Pra caçar o onço tinhoso

Que me comeu um tralhador.

Pois sendo assim ta fechado

Trago o bicho morto ou vivo,

Pra mim já tá combinado,

Mas só trabalho no crivo,

O meu troco adiantado.

Se não pagar não lhe sirvo,

Jantei e dormi na fazenda,

Cedo fui despedir.

Já vou enfrentar a contenda,

Chefe diz, se vai partir,

Precisa de ajuda entenda.

Nós ajuda, só pedir.

Digo, não meu sinhozinho,

Não fique preocupado,

Gosto de caçar sozinho

Inté a volta e obrigado,

Eu pensava no caminho

Eu vou é para outro estado.

Tô no mato a convencer,

Da coragem do Mendonça,

Mas na trilha deu pra ver

A praga da bicha sonsa,

O bravo danou a correr,

Morrendo de medo da onça.

Corria dentro do mato,

No meu último suspiro

Eu perdi um pé de sapato,

Caiu meu trem de dar tiro,

Já subi num pé de pau

Digo aqui não pega o Miro.

O medo me deu a destreza

Subi no pau me lanhando,

Mas onça de malvadeza

Subia só gatinhando,

Minhas pernas deu bambeza.

No oco do pau deslizando.

Quando cheguei bem no pé

Já virou caverna funda,

Filhos faziam banzé,

Arranhando minha bunda,

Onça vem de marcha ré,

Causa agonia profunda.

Eu tomei uma decisão

Pra sair da tal enrascada,

Logo já estiquei a mão,

Peguei o rabo da pintada.

Gritei vai bicho do cão

Subiu desembestada.

Cai numa moita de urtiga,

Tive o corpo sapecado,

Sorte era minha inimiga,

A onça caiu do meu lado,

Subi a serra na fadiga

Só correndo apavorado.

De longe avistei a fazenda,

Pensei ali será meu fim,

Povo tava na merenda,

Café com bolo de aipim

Cheguei sem marcar agenda

A onça bem atrás de mim.

Entrei numa porta aberta,

Fiz maior dos desarruma,

Sai na outra porta e alerta,

Fechei não deixei verruma,

Tirem o couro da esperta

Que vou lá buscar mais uma.

Logo sumi no cerrado,

Corri como caminhão,

Meu rastro ficou apagado,

Pois choveu e deu serração

Com dinheiro bem folgado,

Onça vê Miro mais não.

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 28/10/2023
Reeditado em 28/10/2023
Código do texto: T7918964
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