gota serena

                                 
"Estou virado na gota serena no carbúnculo da peste não me venham com esquadro que estou com minha trena!”. Foi assim que o Diabo se apresentou lá na novena. As beatas rezadeiras caíram logo a rezar e a dizer "Cruz Credo Ave Maria, sai pra lá coisas ruim larga esse porfiar e não venha maldizer a quem só é bendito.”
Soltando fogo pelas ventas - uma fumaça ocre fedorenta a besta-fera acabou por afastar os que estavam na novena. Eis que chega ali o beato Dagoberto com cabelo e barba feitos e levou em oferecimento o coisa ruim, os restos dos cabelos que o barbeiro Idelfonso Acabou de cortar. Quando a besta-fera parou de fumegar e disse “és tu que eu estou à procura, esperei sete noites e sete dias na encruzilhada da cacimba dos jumentos e nenhum dia o vi passar, achas que pode me enganar? trazendo-me essa barba velha cheirando a merda remelenta?”
O beato Dagoberto falou assim para a besta travestida de qualquer coisa horrível:” Príncipe das Trevas não queira me carregar para o lugar donde nenhum cristão deseja ir, sou um beato errante, trago em mim as chagas do redentor, que me confiou arrebanhar essa gente que agora está a novenar, em nome do senhor Jesus Cristo se afaste desse lugar, pois não vou dizer que não o temo; mas diante do criador tu também és criatura... "
Ao que o diabo replicou:” não me venha com conversa mole seu cachorro lambarento, mandei a morte te pegar e tu acabou fugindo que nem jumento; mas já mandei encomendar a sua morte a todos os meus assistentes Zé Pilintra, Exu Caveira, Maria Padilha inclusive ficou a te esperar enquanto to se arrebatou até o firmamento indo conversar com os anjos de luz; agora não tem porfia, do teu corpo arrancarei a alma e a levarei como troféu pro Palácio das Trevas... "
Era quaresma e Dagoberto sentido que levava a pior, pois o diabo queria lhe carregar e ele não sabia o motivo. Na praça principal na porta da igreja que dava para a feira começou a cantar, um canto triste e profundo: “... Ó Deus dos arcanjos e anjos, serafins, dos cabras bons e ruins, dos seres que  andam, nadam, rastejam e voam dono do chão e do firmamento, faz-me acabar com esse tormento, livre-me da hora má, afasta esse príncipe do mal de mim e a sentença que ele professa. (...).

 

 
Labareda
Enviado por Labareda em 24/12/2007
Reeditado em 16/10/2019
Código do texto: T790365
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