Nunca vi nenhum homem ser valente

MOTE

Nunca vi nenhum homem ser valente

Quando é pego no anzol da caganeira

Tem uns cabra que ostenta de bonzão

que quando fala, ganha ares de grandeza.

Se assemelha ao furor que a natureza

nos revela quando vem de sopetão

É vistoso, é mais forte que um canhão

Que só de vê-lo bate aquela tremedeira.

Mas tem coisa 'inda mais morteira

Que Lampião contra ela foi impotente

Nunca vi nenhum homem ser valente

Quando é pego no anzol da caganeira

Se em Canudos, Conselheiro fez história,

enfrentando os soldados que acossavam

se seu ânimo e sua fé não se abalavam

Que até hoje os de lá guardam memória

Se as balas lhe erravam a trajetória

feito escudo em sua volta beira a beira

Cagou tanto que sua morte foi certeira

E agachado se acabou, rangendo os dente

Nunca vi nenhum homem ser valente

Quando é pego no anzol da caganeira

Deputado, que exibe autoridade

que ao pobre olha com desprezo

em sua fala revela o menosprezo

Fala bonito, chega evoca dignidade

Mas teve um, que pego na maldade

Se borrou que foi aquela bagaceira

E o dinheiro se melou, feito lameira

E nunca se viu tão coitado depoente

Nunca vi nenhum homem ser valente

Quando é pego no anzol da caganeira

Senador corrupto e armamentista,

que é contrário a tudo isso daí!

É destemido, brabo que nem siri

pra metralhar a corja esquerdista!

Mas na TV, no meio da entrevista,

pensa tu numa cena mais fuleira,

ficou branco, parecendo véu de freira,

e lá detrás o estrago foi evidente

Nunca vi nenhum homem ser valente

Quando é pego no anzol da caganeira