CORDEL DO CAFÉ
Me deu vontade tão grande
Tão grande nem sei contar
Escrever este cordel
Somente pra me lembrar
Que tocasse no café
Pois então vou já falar.
O café me faz tão bem
Tanto que nem sei dizer
Só sei que tomar café
Me dá na vida prazer
Quando tomo de manhã
Posso sim, satisfazer.
Satisfaço meu gostar
E tudo posso sentir
Entrando pela garganta
Deixo logo permitir
Me fazer tanta bondade
Pra poder eu refletir.
Refletir sobre viver
É saudade que dá dó
Fico só querendo mais
Para lembrar da vovó
Naquele tempo passado
A cabeça vai dá nó.
Um café com tapioca
Numa nobre tardezinha
Meu preto é tão gostoso
Que provo pela noitinha
Dar um gole bem tragado
Pra começar a ladainha.
Eu só queria saber
Quanto tempo já se faz?
Que gosto desse café
Se menino, se rapaz?
Eu nem sei dizer direito
Só sei que tão bem me faz.
Já recebi tanta bronca
Por tomar tanto café
Mas, eu nem faço pantim
Eu digo que boto fé
E tô tomando bem mais
Depois de pôr meu boné.
Meu boné dá segurança
Como também proteção
Me protegendo dos olhado
E café sem condição
Gosto de dele bem doce
Pra me dá mais devoção.
Sou devoto de café
Eu fiz dele companheiro
Quando não tomo bixim
Sinto falta do parceiro
Não me deixe faltar mais
O pretinho brasileiro.
Eu nem penso se tem gente
Que deixa café de lado
É porque nunca provou
Sei que é tudo coitado
Prove todo paladar
Mas, porém tenha cuidado.
Não se vicie como gente
Que gosta de ler cordel
Gente que você convida
Do bom papo ver plantel
Quando senta quer café
Tímido pede pastel.
Se você se viciar
É negócio sem ter jeito
Em qualquer lugar do mundo
Tu bota logo defeito
Só porque falta café
E dá uma dor no peito.
Certa feita no sertão
Num tremendo recital
Bem antes de declamar
Me senti que tava mal
Faltava tomar café
Pois faltava capital.
Sem ter dinheiro no bolso
Só cartão tava comigo
Nesses instantes se ver
Quem de fato tem amigo
Um dono duma tal venda
Me deixou foi de castigo.
Me dizendo satisfeito
O café vai ser servido
Espere mais dez minutos
O gosto já tinha sumido
É que não me sinto bem
Tomando café fervido.
Café fervido faz mal
Mas tomei dessa maneira
Depressa pro recital
Já na reta derradeira
O bucho veio tremer
As tripas na zoadeira.
Recitando com a dor
Que vinha pela barriga
Fazendo todo serviço
Sem papel, fiel espiga
Passei pelo fraseado
Isso nem faz intriga.
Com tudo que já passei
Por causa desse pretinho
Dores, cólicas, moído
Tenho por ele carinho
Nada me faz empecilho
Tomo depois com jeitinho.
Se tem jeito para tudo
Já falava meu doutor
Não precisa de ter pressa
Fiz dele meu tradutor
Eu tomo bem devagar
Meu nego, meu protetor.
A saúde é importante
Falam os livros da vida
Nós somos o que comemos
Depois é só despedida
Tudo que nos dá sabor
Pode também dá ferida.
Me fale sinceramente
Se café digo ser certo?
Quem nunca foi provar dele
É que não tem ele por perto
Se beber não deixa mais
O corpo vai ficar aberto.
Toda casa que visito
Tem que ter café na mesa
Na minha é mesma coisa
Depois tem a sobremesa
Um café com chocolate
Ou com canela chinesa.
É café pra todo gosto
Desse que te faz tão bem
Tomar com bolo baeta
Que bom sabor ele tem?
Eu já sei do que pergunto
Já tomei pra mais de cem.
Numa chuva bem fininha
Ah! Como me dá vontade
Esse frio que na gente
Só me persegue bondade
Qualquer jaquetão bem quente
Um café traz liberdade.
Só Deus sabe do que falo
Frases da consciência
Abordar sobre café
Tenho toda paciência
É que ficamos agitados
Num fluir dessa ciência.
Lá em casa já lhe conto
Tinha moça trabalhando
A cabeça melhorava
Quando café ia tomando
Pense numa viciada
Fico só imaginando.
Eu não conheço ninguém
Que fala que tô mentindo
Pois sabe tranquilamente
Que pro café vou sorrindo
Os invejosos me criticam
Desses vou logo fugindo.
Eu corro também ligeiro
E faço logo pedido
Me traga meu café forte
Com um biscoito sortido
É de dar água na boca
Meu prazer tem consentido.
Nos brejeiros certa vez
Eu, como bom sertanejo
Levei foi minha garrafa
Pro bicho que só desejo
Quase que fico sem copo
Disse: - Que coisa me vejo!
Tive que fazer café
Para montar meu barraco
Se não tivesse tomado
Nem coçava mais o saco
Naquela distância tremenda
Até me chamaram “Baco”.
Quem não sabe ver café
Comete tanta loucura
Quem bebe tenha cuidado
No tanto que tem doçura
Tome delicadamente
No calor ou na frescura.
No momento me despeço
Querendo voltar pra casa
Já pensando num café
Feitinho dentro da brasa
Se chegue tomar comigo
Gente boa num atrasa.