A CASA DA BELA MOÇA
Agora preste atenção
Em tudo que vou frisar
Suportando consequência
Deixe tudo pesquisar
Permanecemos mudando
Não queira n`outro pisar.
Leitor, vou contar um fato
Deus, senhor dos pecadores
Trata-se de Constantino
O melhor dos nadadores
Na paixão por Carmelita
Quis curar todas as dores.
Na Fazenda são Tomé
No Distrito Quixadá
É preciso descrever
Perto de Jacarandá
Constantino de riqueza
Filho de Maracajá.
Num lugarejo distante
Pertinho de Palafita
Lá morava tão feliz
Professora Carmelita
A filha dos espanhóis
Toni Salles e Devita.
Na casa da bela moça
Fagulhas do redentor
Carmelita é princesa
Dada por Nosso Senhor
Chamada Misteriosa
Pela pureza da flor.
Dos canhões, metralhadoras
Certo dia, Constantino
Doze horas de peleja
Por buscar o seu destino
E pelo sentir da fé
Foi visto por clandestino.
Ficaram ares perdidos
Nos caminhos duma serra
Pensou sorrateiramente
Poder voltar para terra
Quis, logo conseguiu
Resolver fugir da guerra.
Ir por onde planejou
O ser não se contradiz
lhe mandaram apressado
Pra fonte do chafariz:
- Se decida bem ligeiro
Como faz a meretriz!
Céleres nuvens caíam
Feito gigante trovão
Um zéfiro vento vindo
Mas dava passos em vão
Os rochedos brilhavam
Feito plumas de pavão.
Os trovões tudo batendo
Cada vez mais aumentando
Raios soltos faiscavam
Pra ver quem tava matando
Naquela sociedade
Das armas e contrabando.
A mesma chuva terrível
Num fortíssimo nevoeiro
A pintura duma rosa
Naquele marzão traiçoeiro
Embarcação se perdendo
Com tudo que foi parceiro.
Pro tempo se permitir
Nas mórbidas intenções
Lajedos transbordavam
De más realizações
Trovoada que perturba
Faz parte das tradições.
Como fosse tempestade
Que nunca formou levante
O nadador quis dizer:
- Dum pulo vem o gigante!
Com total simplicidade
O nadar lhe fez calmante.
Era grande novidade
Um barco sem ter seu dono
Nadador que tinha fama
Monta metido num trono
Nunca ninguém enfrentou
Embarcar depois do sono.
Voam aves protegidas
Postando toda beleza:
És a vossa majestade
De raríssima nobreza!
Constantino bem servido
Porém, finge ter pobreza.
As frágeis águas dos mares
Se ligam com nossa morte
Ou quando não suportam
São segredos que dão sorte
A grande força das ondas
Daquelas vistas do Forte.
Porém, chegando na praia
Suspirou dando seu grito
Sertanejo Constantino
Desprezou fiel apito
Olhou pra toda paisagem
E selou todo conflito.
As três léguas fizeram
À sua casa voltar
Até medalha ganhou
E jamais tentou pautar
Depois montou nas carroças
Veloz no ritmo do altar.
Constantino é herdeiro
Na força, na valentia
Neste céu de sentimentos
Ele jamais debatia
Cada braçada que dava
E pra mais longe partia.
O nadador se retira
Tanto bem foram passando
Pra conquistar quem se quer
Cabeças vão trabalhando
Pois, Constantino sem ela
Seu gostar vai maltratando.
Constantino repensando
E nada de ser na tora
Falar com a Dona Santa
Aquela meiga senhora
Pra ter Carmelita bela
Não tarda chegar a hora.
Constantino pôde ver
Gente sem ter maldição
A jovem misteriosa
Viver prum só coração
Fizera todo percurso
Cantando linda canção.
Quisera casar com ela
Em cima dum arvoredo
Carmelita sem demora
Fez disto seu bom enredo
Constantino com aquilo
Guardou consigo segredo.
Bem trancadas entre chaves
Frases vão se declarar
Já é hora decisiva
Ambos terão que topar
A buscarem as respostas
num verso de declamar:
- Carmelita, tu bem sabes
Sou nadador caminhante
Junto de nobre mulher
Não serei gente pedante
Nesses sertões ou na guerra
Dinheiro não é bastante!
- Oh! Nadador Constantino
Tenhas por mim compaixão
Se és o dono de mim
Me mostra toda paixão
Pra não queimarem teu lenço
Nem te botar num caixão!
Como foi seu casamento
Só para conhecimento
Que vemos na mocidade
Em qualquer padecimento
Em duas horas se alcança
As perguntas de momento.
Há tempo se deu no Norte
Perto da propriedade
Da Fazenda São Tomé
Do jardim só de bondade
Carmelita, Constantino
É dupla que dá saudade.
O casal faz a justiça
Do mundo de quem não tem
Deus determinando tudo
Onde tantos se dão bem
Pro covarde ficar mudo
No saber que nunca vem.
Uns a chamavam de lenda
Histórias desse sertão
Já outros, de personagem
Do filósofo Gastão
Mas, no fundo dessa trama
Esta não é a questão.
A lei da simplicidade
É o bem vencendo mal
Constantino se perdeu
Na guerra do capital
Do lado de Carmelita
Encontrou o seu final.
Meu senhor onipotente
Facho de luz com mais brilho
Farol que gira nos mares
Dono desse longo trilho
Alegria dos lugares
Faz desse cordel meu filho.