MEU CORDEL - PARTE - 02 - (MEMÓRIA E SABEDORIA DE BIU DOIDO)

MEU CORDEL – PARTE - 02 - (MEMÓRIA E SABEDORIA DE BIU DOIDO, O GÊNIO DA POESIA DO SERTÃO) - João Nunes Ventura-08/2023

Na arte de Biu Doido

Logo eu me apaixonei,

E jovem eu o conheci

E dele me aproximei,

Não ofendia a ninguém

Lá no sertão também

Seus versos eu cantei.

Foi batizado o Severino

Cassiano de Taperoá,

Na roça trabalhador

Se doido era destruidor,

Dos frutos que plantou

Andava pelas cidades

Cantava versos de amor.

Improvisava suas piadas

Na resposta a sabedoria,

Por todos respeitados

No lugar que ele vivia,

Dançava pelas calçadas

Até altas madrugadas

Era tudo que ele queria.

Que seu irmão Joaquim

Homem bom de coração,

Fez um acordo com Biu

Para dividir a plantação,

Se você não me aperreia

A safra lhe dou de meia

Da colheita de algodão.

Biu ficou muito contente

Para a roça foi trabalhar,

Colhia a carreira inteira

Que a outra deixava ficar,

Logo Biu então imaginou

Cavalo sua prenda levou

E logo lucrou sem plantar.

Seu irmão lhe perguntou

Quando você vai terminar,

O nosso plantio de meia

E Biu lhe falou vai olhar,

Minha parte já colhi agora

Corre vai lá sem demora

Que a sua parte deixei lá.

Biu doido sempre gostou

De multidão ao seu lado,

Que lá na roça ele ficava

Bastante tempo isolado,

E não gostava de solidão

Para assim sentir louvado

Botou fogo na plantação.

Muita gente foi chegando

Querendo o fogo apagar,

Os familiares e amigos

Se todos queriam ajudar,

E alguém lhe perguntou

Por que você fogo tocou

Queria ver gente chegar.

Biu de uma ponte saltou

Seu tornozelo logo ferido

Por toda vida foi dolorido

Fala alguém se ele gostou

Decolagem foi uma beleza

E a chegada uma tristeza

Muito gritei de tanta dor.

Certa vez entrou num bar

Alguém foi lhe perguntou,

Com um ar de fanfarrão

De sua inocente cultura,

E assim para o Biu falou

Você mesmo se aleijou

Para criar a sua loucura.

Biu se dirigiu ao invejoso

A terra é seca mais é boa,

Chega assim gritando atoa

Assim querendo ser herói,

Fala tolice e não sabe ler

E tem que ouvir para crer

Meu dom ninguém destrói.

No seu sertão foi um poeta

No mundo dos loucos foi rei.

Na sua história e mergulhei

E dele na infância recordei,

Hoje repousa na eternidade

Quanta alegria e a saudade

No meu coração eu guardei.

Severino Cassiano - Viveu 91 anos, nasceu em 15/05/1910 e faleceu em 19/08/2001) - Não é comum minha inspiração para a literatura de cordel, apesar de gostar muito, das publicações dos outros poetas, então perdoe-me algumas falhas, mas todos os versos foram baseados em fatos verídicos, também fiz pesquisa na leitura do cordista Arlindo Lopes, que conheceu muito bem, os caminhos que Biu andou, tenho guardado comigo, uma riqueza dos pensamentos dele em forma de perguntas e respostas, que lhe faziam e ele na hora respondia, em toda sua vida nunca disse um palavrão, Deus o tenha, dele no meu coração só alegria e emoção.

João Nunes Ventura
Enviado por João Nunes Ventura em 11/09/2023
Reeditado em 12/09/2023
Código do texto: T7882952
Classificação de conteúdo: seguro