Montanha
Pulmões sem oxigênio, ar rarefeito,
Frio implacável sem dó, sem manha,
Extremidades dormentes por efeito,
Da hipotermia... tudo que se ganha;
Lábios sangrando e unhas roxeadas,
A pele gélida, as orelhas congeladas,
Ainda assim desejo subir montanha.
Ser tomado por forças do universo,
Alcançar o cume tal qual um condor,
Tocar no céu azul, imenso e diverso,
Olhar o infinito em pleno esplendor,
Reflexão e elevação do pensamento,
Onde os anjos brincam com o vento,
Do alto da montanha com o Criador.
O mundo de cima mítico encantado,
Onde o pequeno se sente poderoso,
E o forte, tímido, sente-se acanhado,
Homem e a natureza em pleno gozo,
Diz que Maomé não foi a montanha,
Talvez quisesse sua maior artimanha,
Ser lembrado por simples ato jocoso.
Um dia hei de alcançar aquele topo,
Libertar-me de todas maledicências,
Braços abertos atirar-me ao escopo,
Matéria a se desprender da essência,
Minha alma leve e livre a sobrevoar,
Do alto da montanha até o além-mar,
Assim será minha última experiência.