Dando voz ao passarinho
Liberte seu passarinho
É gravemente brutal
E moralmente imoral
Prender o pobre bichinho
A prisão lhe é espinho
Traz desgosto e agonia
Pois sua grande alegria
É cantar sem uma argola
Destrua essa gaiola
Dê-le carta de alforria.
Qual crime que cometeu
A pequena criatura
Que caiu na desventura
De cantar um verso seu?
Veja o que lhe aconteceu
Seu estado é deprimente
Analise, friamente
E num gesto de grandeza
Devolva pra natureza
Solte logo esse inocente!
Causa, sim, imensa dor
Naquele ser tão pequeno
Mas o seu canto sereno
Se eleva ao Criador.
A Jesus, Nosso Senhor
Pede ali, por caridade
Que não negue a bondade
Pois seu desgosto é profundo
O seu verdadeiro mundo
É cantar em liberdade.
Se pergunta olhando o chão
"Qual foi mesmo o meu crime?
Pois esse homem me oprime
Me mantendo na prisão.
Eu não sou nem um ladrão
Para viver condenado
Neste espaço gradilhado
Agora não tem mais jeito
Reivindico o meu direito
Quero um bom advogado.
Sonho viver pendurado
Num galho da quixabeira
Cantando na arueira
Não vivendo amargurado
Num lugar todo fechado
Onde não tenho grandeza
Pois pro homem, a beleza
É eu cantar na prisão
Mas não quero isso não
Pois enfeito a natureza!
Não, não quero mendigar
Seu alpiste na gaiola
Vá pra lá com sua esmola
Não suporto mais chorar.
Eu quero me libertar
Desse seu ego nojento
Coração sem sentimento
Vou voar com beija-flor
Acompanhar um condor
Fugir desse sofrimento.
Quero cruzar oceanos
Feito gaivota, andorinha
Não preso nesta cozinha
Onde amargo desenganos.
Penso em fazer uns planos
Pra fuga espetacular
Indo pra outro lugar
Não nasci pra ser assim
Pois nada é mais ruim
Que viver sem respirar.
Aqui perdi meu voar
Meu viver, minha razão
As partes de meu refrão
Nem consigo assobiar
Mas sei que posso cantar
Uns versos feitos por mim
Que juntando, diz assim:
'Adeus homem desalmado
Coração petrificado
Cabra do sangue ruim!'"
Em 13/14 de junho de 2022
Versos de...