Não vejo como narrar / O fim do nosso chamego
Cordel em parceria com o poeta Ansilgus, sobre o mote de sua autoria:
"Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego"
Poema em oitavas de sete sílabas poéticas, com rimas em ABABCDCD
Glosas de Edmilton Torres
Sempre que sou perguntado
Sobre a nossa relação
Ter, tão cedo, terminado
Depois de tanta paixão
Também fico a meditar
E à conclusão eu não chego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Eu me sentia tão bem
Enquanto estava ao seu lado
Não pensava em mais ninguém
Porque me sentia amado
Nos momentos de pesar
Você era o aconchego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Nos seus lábios eu bebia
O doce néctar do amor
No seu corpo eu me aquecia
Ao lembrar sinto um rubor
Quando fico a recordar
Me vem um desassossego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Nos amávamos sem medo
Sem preconceito ou pudor
E escondemos segredos
Debaixo do cobertor
Com você a delirar
Me chamando de "meu nego"
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
De fato, a nossa paixão
Era quente e fervorosa
Eu sempre fui um vulcão
E você muito fogosa
Mas, depois de tanto amar
Começou o desapego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Um dia você surtou
Numa crise de ciúme
Só porque desconfiou
Do cheiro do meu perfume
Passou a me vigiar
E eu fui perdendo o apego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Ciúme na relação
É o início do fracasso
E, assim, nossa paixão
Foi seguindo em contrapasso
Começamos a brigar
E acabou o sossego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Seu ciúme doentio
Era uma coisa sem nexo
E lhe deixou em fastio
Sem apetite pro sexo
Eu não podia ficar
Mansinho como um borrego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Então, com muita frequência
Tinha desentendimento
Um dia, com insistência
Você propôs casamento
Não podia me casar
Porque estava sem emprego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Disse que seu pai bancava
As despesas da família
Tudo que eu quisesse, dava
Comprava até a mobília
Eu não podia aceitar
Esse "presente de grego"
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Quando eu lhe telefonava
Você era indiferente
Quando a gente se encontrava
Era fria e exigente
Com você a me esnobar
Não ia pedir arrego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Nós fomos muito felizes
Por isso sinto saudade
Eu perdoo seus deslizes
E digo com humildade
Se você me perdoar
É só me chamar que eu chego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Edmilton Torres
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Glosas do poeta Ansilgus
É difícil de dizer
O que conosco passou
Quando vim te conhecer
Foi que tudo se acabou
Ficou difícil contar
Pois foi problema não nego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
No começo, tudo bem
Nada para reclamar
Tu foste até muito além
Nos carinhos pra me dar
Podes até me gozar
Cruz nenhuma aqui carrego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Eu sempre tive cuidado
De não te prejudicar
Eu era um pobre, coitado
Era magro de lascar
Não cansava de te olhar
Demoro, mas sempre chego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Decerto tu bem gulosa
Querias sempre e demais
Antes do gozo uma glosa
Sendo algumas imortais
Isso nem é bom lembrar
Ganhavas meu aconchego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Nosso carinho seguro
Causava mesmo o ciúme
Mas depois ficou maduro
E tu subias ao cume
E ficava a navegar
No colo pedindo arrego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Davas uma, duas, três
Montando no seu cavalo
Não havia os porquês
Era tudo muito embalo
E na hora de gozar
Tu não davas sossego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Eu segurava o tesão
Esperando os teus feitios
Tu parecias trovão
E eu sempre com os meus brios
Tudo para te aguentar
Mamavas como morcego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
Muita gente enfurecida
Tinha despeito danado
Eu que dou casa e comida
Não posso ficar de lado
Nosso negócio era amar
Lindo demais nosso achego
Não vejo como narrar
O fim do nosso aconchego
Todo dia é bom demais
Porém fiquei abatido
Para segurar teus ais
Fiquei magro, envelhecido
Pois tu entras pra bailar
E de mim tiveste apego
Não vejo como narrar
O fim do nosso chamego
As coisas num mar de rosas
Na vida que Deus nos deu
São por demais saborosas
Isso que recusa o ateu
Lá na área do pomar
Grudado com seu Diego
Um cara pode narrar
Sobre o final do chamego
SilvaGusmão