LEIA PARA UMA CRIANÇA
LEIA PARA UMA CRIANÇA
JOEL MARINHO
O acaso é um caso
Que ninguém pode prever
Surge do meio do nada
Nasce onde quer nascer
Tem sua própria vontade
E o que digo é verdade
Posso provar a você.
Eu sou o fruto do acaso
Venho de família pobre
Nunca tive privilégios
Não sei o que é ser nobre
Sou filho de carpinteiro
Mamãe fazia paneiro
Uns desvalidos de “cobres”.
Mas uma grande façanha
O velho Chico me fez
Comprava cordéis e lia
Um a um de cada vez
Lendo e criando metas
Foi me fazendo poeta
Por isso estou com vocês.
E o sonho da minha vida
Nos primórdios da infância
Era aprender ler cordel
Nisso criei esperança
Hoje eu tenho a certeza
É como ter pão na mesa
Ler para uma criança.
Da maneira que crescia
Crescia a minha leitura
Passei comprar meus cordéis
Naquela situação dura
Trabalho duro na roça
Fui ficando casca grossa
No final da ditadura.
Na adolescência perdi
Toda a vontade de ler
Naquele tempo de fome
Nada me dava prazer,
Mas o mundo foi mudando
E foi aos poucos voltando
A vontade pelo saber.
Porém eu fui mais além
Depois do segundo grau
Comecei a fazer rimas
Aqui ali, bem banal
Vez ou outra alguém gostava
E aquilo alimentava
O ego desse mortal.
Quando entrei na faculdade
Já de idade avançada
No meu curso de História
Não sabia quase nada
Logo nos primeiros dias
Toda ideia que surgia
Era o cordel camarada.
É tanto que o TCC
O tal trabalho final
Eu fui estudar cordel
Que prazer descomunal
Baseei minha pesquisa
De forma muito concisa
E o cordel foi crucial.
Peguei o rumo da rima
Comecei a fazer versos
Sei que não são os melhores
Não me envergonho, confesso,
Pois estou sempre aprendendo
À humildade me rendo
Aprender é um processo.
Sou um poeta amador
Que gosta de poesia
Escrever é o meu hobby
Eu escrevo todo dia
Se um dia eu encontrar
Quem queira me patrocinar
Darei vivas de alegria.
Vou construindo histórias
Talvez levando esperança
Escrevendo minhas rimas
Sem pretensão de bonança
Mas digo sinceramente
Se quiser plantar semente
Leia para uma criança.