COISAS DOS ANOS 90
Quem é observador
E já viveu um bocado
Sabe que o mundo de hoje
É meio desanimado
E quanto mais o tempo passa
Fica ainda mais sem graça,
Do que em tempos passados.
Ao contrário do passado,
Hoje é difícil de achar
Uma pessoa que não tenha
Aparelho celular.
Seja doutor ou peão
O cabra tem um à mão
Para se conectar.
Na década de 90,
Lembro que não existia
Tanto negócio viciante
De alta tecnologia.
Todo mundo era real,
Por que o meio virtual
Pouca gente conhecia.
Se você é desse tempo
Com certeza está lembrado
Que as pessoas recebiam
E mandavam seus recados
Através de um portador
Que em forma de favor
Transmitia o enuciado.
Se a distância era longa
A única solução
Era pegar a caneta
E escrever uma carta
Quando
Era
Era também outro meio
Mandar carta pelos correios
De se manter conectado.
O telefone já existia,
Mas só rico telefonava.
Era um bem muito caro
Que pobre não comprava.
Já havia o orelhão,
Para telecomunicação,
Mas matuto não procurava.
Alguns tinham radiola,
Nova ou de segunda mão,
Uma dúzia de LPs,
Aquele disco pretão,
Que girava no ponto
E sempre dava espanto
Com um chiado do cão.
A TV era uma atração
Que nunca sai da lembrança,
Pois prendia a atenção
De adulto e de criança.
Quem não podia comprar
À noite ia procurar
Uma pela vizinhança.
Programa bom, era o Chavez,
O Topa tudo por Dinheiro,
O Bom dia e companhia,
O Show do Beto Carreiro,
O Passa ou Repassa,
Carlos Alberto e a Praça
Fazendo humor verdadeiro.
Passavam "Os Trapalhões",
Sempre muito engraçados,
"Cruj", "TV Colosso"
Com desenhos animados,
O "Cassete e Planeta"
E "A Hora do Capeta"
Com a porta dos desesperados.
Tinha novela porreta,
Que dava gosto de olhar:
"Renascer", "A viagem",
A novela do Sassá,
"Tieta", "Sonho meu",
Outra do Jorge Tadeu
E aquela do Revengar.
E todas tinham temas
Com cantores de talento,
Fagner, José Augusto,
Sandy, Milton Nascimento,
Djavan, Sandra de Sá,
Ana Carolina e Fafá
Cantavam nesse momento.
Também faziam sucesso
E estavam nesse rank,
Netinho, Banda Eva,
Kid Abelha e Skank,
A Simone, a Daniela...
Já existia favela,
Mas tocava pouco funk.
Esta foi a época quente
Do ritmo da lambada,
Do flech back romântico,
De inesquecíveis baladas
Do som do forró bodó,
Do merengue e do carimbó
No sucesso das paradas.
Nesta época era melhor,
Ninguém pode negar,
Inclusive o modismo
Estava noutro patamar,
Não havia estas danças
Que eu vejo as crianças
De hoje em dia dançar.
Nesta época, uma criança
Aínda era inocente.
Havia muitas músicas,
Consideradas decentes.
O grupo "Trem da alegria"
E Xuxa Meneguel fazia
A criançada contente.
Toda menina queria
Ser uma bela paquita,
Ficar perto da Xuxa
Com aquela roupa bonita,
Ser inteligente e bela,
Igual atriz de novela
E ficar bem na fita.
Já todo menino crescido
Queria mesmo era ser
Lutador de Kung fu,
Capoeira, caráter.
Quem não era fã
De Jiraya, Jaspion e Jiban
Não assistia à TV.
O mundo era diferente,
Tudo tinha outro jeito,
Usava-se calça jeans
Lá próximo do peito,
Tênis da marca conga,
Camisa da manga longa
E tudo ficava perfeito.
Alisante, nesse tempo
Não havia no mercado,
As mulheres conservavam
Um topete engraçado,
Os homens sem noção,
Corte estilo sorvetão,
Para ficar invocado.
À noite os jovens gostavam
De beijar num beco escuro,
Atrás duma parede,
Ocultos atrás dum muro...
Havia, sim, marginal,
Mas era difícil um casal
Ser visto em apuros.
A droga que circulava
No território brasileiro,
Nesse tempo, era a diamba,
Usada pelo diambeiro,
Mas este não se atrevia
Desfruta-la a luz do dia
E perto do povo ordeiro.
Nesse tempo, já havia
Um monte de vadiagem,
Mas só Hulk era bombado,
Só hiper tinha tatuagem,
Piercing ningém colocava
E gay não se declarava,
Porque não tinha coragem.
Nada era tão descartável
Como é hoje em dia:
Consertava-se chinelo;
Uma roupa, se cosia;
O sapato, a gente colava;
A calça, se amarrava
Um cordão quando caia.
Para a feira se levava,
Nunca se trazia sacola,
Quando ficava velha,
A meia virava bola.
Tudo isto acontecia
E ninguém aprendia
Estas coisas na escola.
Assim eram as coisas,
O mundo e a cultura,
Naqueles anos saudosos,
De encanto e aventura,
Depois tudo mudou
E a vida se tornou
Essa enorme loucura.