DEPOIS DOS 70...

DEPOIS DOS 70...

I

Desde quando a gente nasce

vai tateando no escuro...

ainda que o Tempo passe

não se sabe o Futuro

e a Vida segue seu rumo

por vezes sem base, prumo,

num viver fácil ou duro.

I I

Se alguns nascem em favela,

outros no campo, cidade,

vivendo infância bela,

vencendo dificuldades...

com saúde e alegrias

ou tendo mil alergias

e lutando de verdade.

I I I

Mas, se uns findam doutores,

a maior parte é comum

feita de trabalhadores

com ou sem ganho nenhum.

Sem sequer 1 pão na mesa,

sem no Amanhã ter certezas...

sem charque nem jerimum !

I V

Sem chances, algum trabalho,

vivendo de "ponta", "bico"

e arrumando "quebra-galho"

sob a sombra de algum rico.

O tempo assim vai passando...

cada um filhos criando,

"pulando" qual tico-tico !

V

Uns ficam pelo caminho,

outros seguem vida a fora

entre risadas e espinhos

enquanto a Morte demora.

Lá se vão 70 ANOS

entre fracassos e enganos,

coisas que a gente deplora.

V I

Há também poucas vitórias,

que a Vida sempre as tem...

belos momentos de glória

entre os que nos querem bem !

Cada qual faz o seu nome

-- seja-se mulher ou homem --

e os anjos dizem "AMÉM" !

V I I

Tais fatos ficam na História

mantida pela família

e se tornam a MEMÓRIA

dos que lhe seguem a trilha...

orgulho dos filhos, netos

e dos amigos diletos

do antepassado que brilha.

V I I I

Sem ter feito grandes cousas

eu já passei dos 70...

no tempo do giz e lousa

fui aluno a contento.

Não tive nenhum revés,

tirei 8, 9, 10

e mostrei algum talento.

I X

Pude ser padre, doutor,

mas acabei operário.

Militar ou vereador...

segui outro itinerário:

sem rumo, alvo nem meta

eu findei mesmo POETA

e cumpro, assim, meu fadário.

X

Pois é, DEPOIS DOS 70

tudo falta, tudo "desce"...

fardo de dores aumenta

e o vigor desaparece !

É "a idade do CONDOR"... (*1)

não se sai mais do Doutor,

nem adianta "reza" ou prece.

X I

COM DOR aqui, dor ali,

desde que a gente levanta

se pula feito Saci,

nem "simpatia" adianta.

Passei noite em "rezadeira"...

depois de tanta canseira

eu chorei feito uma anta !

X I I

Mas não posso reclamar

por Deus me dar MAIS 1 DIA

de uma vida salutar

com amigos e POESIA...

até ir pro necrotério

e, depois, ao cemitério,

quando "chegar o meu dia" !

"NATO" AZEVEDO

(19/jul. 2023, 6hs)

OBS: (*1) - em Belém falam

(e leem) CÔNDOR... não se

sabe bem porquê !