CORDEL MONETÁRIO
CORDEL MONETÁRIO
Ouvidos de mercador
Escutam quando convém:
Fale o freguês com desdém
Do produto ou seu valor
E o vendeiro, sonso ou pior,
Fingindo que nada escuta,
Força cara de paisagem…
Se pechincham por vantagem,
Ignore qualquer disputa
Quem vive de porcentagem!
Eis um homem muito humano…
Atento às necessidades
— E sobretudo às vontades! —
Dos que buscam, salvo engano,
O interesse quotidiano.
Vem como quem não quer nada,
Sondar alheios desejos
Com regalos e gracejos
Enquanto varria a entrada
Ou esfregava os azulejos.
Pelo sim; pelo não, solta
Um sorriso obsequioso,
De que, gaiato, faz gozo
A quem lhe sorri de volta,
Mostrando-se curioso.
Logo um mundo de vantagens
Desfila diante dos olhos
Do incauto posto de antolhos
Qual cavalos de carruagens
Ao pastar entre restolhos.
Não perde por esperar…
Com verde colhe maduro
No sentimento inseguro,
Que faz o mundo girar
E viver só no futuro.
Mas, ironias à parte,
A oculta mão do mercado,
Desde o varejo ao atacado,
É quem reduz engenho e arte
Ao vil metal dourado!
Betim - 28 06 2023