A BAHIA LIBERTOU O BRASIL DE PORTUGAL!
Vovô Luis me contou
Uma história bem legal
De um povo que se uniu
Contra o rei de Portugal
Que dominava o Brasil
A terra de povos mil
Com herança ancestral.
Na ânsia de ter o mundo
Sob seus pés sem critério
Portugueses navegaram
Explorando o planisfério
Invadindo terra alheia
Por onde a morte campeia
Criaram um grande império.
Matavam sem piedade
Escravizavam também
Indígenas e africanos
Não perdoavam ninguém
Estupravam e degolavam
Se ajoelhavam e rezavam
Pra Cristo dizendo amém.
No ano mil quinhentos
Aportaram no Brasil
Conquistaram os nativos
Matando bem mais que mil
Exploraram as riquezas
Destruíram a natureza
Transformando-o num covil.
Dom Manuel o venturoso
Era o grande reinante
Mas João III piedoso
Pensando um pé adiante
Enviou um governador
Fundou a São Salvador
Pra colônia ter mandante.
A capital do Brasil
Era uma fortaleza
Contra a pirataria
Francesa e holandesa
Até que perdeu um dia
Por conta de covardia
Toda a sua realeza.
Ao fugir de uma invasão
Francesa em seu terreiro
Dom João VI o clemente
Trouxe o seu reino inteiro
E levou a capital
Do Brasil colonial
Para o Rio de Janeiro.
A Bahia que era centro
Virou a periferia
Isolada do governo
Ficou sem autonomia
Recebeu algumas obras
Ficou com algumas sobras
Mas perdeu a fidalguia.
E para o Sul do país
A corte se dirigiu
Tomando casa do povo
Para o príncipe que fugiu
Com a mãe rainha louca
Que tinha a cabeça oca
Dona Maria a senil.
Lá na nova capital
Instalou o seu monarcado
Quando acabou a guerra
Retornou pro seu reinado
Mas o seu filho ficou
Dom Pedro imperador
O primeiro potentado.
Herdou do pai as revoltas
de Minas e da Bahia
Também a pernambucana
E as que em seu tempo havia
Por pressão da resistência
Proclamou a “Independência”
Criando outra monarquia.
Dizem que foi dia 7
De Setembro em 22
Ano Mil e Oitocentos
Mas garanto que não foi
Na Bahia os portugueses
Nos faziam de fregueses
Do bacalhau com arroz.
Pois no Sete de Setembro
Não houve Independência
Dom Pedro apenas gritou
E cuidou da adjacência
Com a ocupação da Bahia
Portugal ainda queria
Manter sua influência.
No ano de 23
Tomaram São Salvador
Um tal Madeira de Melo
Se tornou um ditador
Mandou invadir convento
Matou uma freira o nojento
E um padre em seu labor.
Morreu Joana Angélica
Lá no convento da Lapa
E o pior veio depois
Atacando de solapa
Atingiram Cachoeira
Usando uma canhoneira
Para tirá-la do mapa.
Contra uma canhoneira
Cachoeira rebelou-se
Juntamente com São Félix
Da escuna ocupou-se
Dando início à grande guerra
Pra libertar nossa terra
Que o português apossou-se.
Foi preciso que os baianos
Negros e indígenas natos
Brancos pardos portugueses
Que não aceitavam os atos
Do reino de Portugal
Que só nos fazia o mal
Dessem o seu ultimato.
Poderosos e humildes
Cada qual como convém
Queriam a Independência
Sem depender de ninguém.
Dom Pedro o ‘Defensor’
Santo Amaro o declarou
E Cachoeira também.
As mulheres inda eram
Reféns do patriarcado
Temiam pais e maridos
Sentimento intoxicado
Mas sempre que uma surgia
Um reboliço fazia
De deixar homem arretado.
Maria Felipa a mulher
Que não viveu na moleza
Deu surra de cansanção
Na Esquadra Portuguesa
Mulheres de Itaparica
Que bebiam água da bica
Combateram com esperteza.
Atraíram os portugueses
Para a beira do mar
Lá na praia os atacaram
Com uma surra de matar
Deixaram eles moídos
Com o moral decaído
Fugiram pro além mar.
Encourados de Pedrão
Com cavalo em seu ofício
Cruzaram léguas inteiras
Mas valeu o sacrifício
Vieram lutar na baía
Com garra e sabedoria
Pra acabar o malefício.
Escravizados africanos
Lutaram por liberdade
De si próprios ou parentes
Com força e sagacidade
E os libertos soldados
Trouxeram um ótimo saldo
Para as tropas da cidade.
Quando soube da notícia
Quitéria se alistou
Era preciso impedir
A ação do invasor
Pois a terra brasileira
Não seria estrangeira
Nem entregue ao opressor.
Dom Pedro a condecorou
Cavaleiro do Cruzeiro
Uma honra muito grande
Para qualquer brasileiro
Provando que a mulher pode
Mesmo sem barba e bigode
Ser incansável guerreiro.
Campinas de Pirajá
Foi reduto dos baianos
Impedindo os alimentos
De chegarem aos lusitanos.
As tropas de prontidão
Aguardavam a decisão
Para atacar os tiranos.
O corneteiro da tropa
Atrapalhou-se ao tocar
A retirada da guerra
Tocou foi o Atacar!
Os soldados comandados
Atacaram animados
Inimigos do Além-mar.
O Caboclo e a Cabocla
Representando o povo
Negro, indígena e branco
Misturados em sangue novo
Se juntaram aos soldados
Guerreando lado a lado
Uma atitude que louvo.
A tropa vinda do Sul
Por ordem do Imperador
Veio para ajudar
Mas o que aqui encontrou
Foi o povo todo unido
Lutando contra o inimigo
Sem preguiça e sem temor.
Dois de julho o sol nasceu
Brilhante e resplandecente
Iluminando a Bahia
Que era livre novamente
E com ela o Brasil
Nossa terra varonil
A mais bela do ocidente.
Salvador, 20 de junho de 2023. Cordel do Bicentenário da Independência na Bahia - 1823 - 20223