A INVENÇÃO DO XADREZ
ADENDO AO POEMA - houve tempo em que CITAR trechos de algum livro gerava agradecimentos do Autor... hoje pode render processos. A obra na qual me baseei traz perto de 70 CITAÇÕES, quando isso era permitido ! O fato é que as Editoras ficam DONAS não apenas do SEU TEXTO (mediante contrato de impressão), mas também DO AUTOR e de todos os seus futuros DIREITOS, sejam eles diretos, conexos e/ou "desconexos". É UM ESPANTO ! E chamam a isso... "COPYRIGHT", direitos autorais. Me lembra pirataria... lhes damos direitos DE EDIÇÃO (e venda, claro) da obra e a Editora -- qual Medusa ou polvo assassino -- se "apossa" de TUDO o mais ! (NATOAZEVEDO)
A INVENÇÃO DO XADREZ
I
Desde as mais antigas eras
tem o Homem necessidade
de viver suas quimeras,
se divertir de verdade:
não bastam trabalho, pão...
as alegrias serão
da Vida a finalidade.
I I
Seres fazem da invenção
o mais criativo recurso
pra simplificar ação
e a Vida seguir seu curso.
"Inventa" portas, janelas,
paredes, teto sobre elas
pra se proteger dos ursos.
I I I
Cria rodas e machados,
facas, foices, até lanças...
sítios de muro cercados,
brinquedos para crianças.
Assim se chega ao Futuro
de "games" de muito apuro
e a Ciência mais avança.
I V
Foi-se o tempo da inocência
e das bonecas de pano;
de viver na indolência
numa rede, sem mais planos.
De carrinhos de madeira,
de rolar na pissarreira,
de "pelada" e de piano.
V
Hoje o jogo é virtual,
passatempo eletrônico
mas há diversão normal,
sem deixar ninguém atônito:
baralho, dama, XADREZ
e o "pingue-pongue" tem vez
entre quem não é "biônico" !
V I
O XADREZ foi inventado
por jovem do povo hindu
que, num distante Passado,
soube do combate cru
vencido por IADAVA...
enquanto o sangue jorrava
enchendo o rio Sadhu. (*1)
V I I
Lá, nos campos de Dacsina
-- província de Talibana --
perde o Rei (que triste sina !)
o seu filho mais bacana.
Para vencer a batalha
Adjamir, contra a canalha,
se lança com toda a gana. (*1)
V I I I
O Rei-pai é só tristeza,
passa chorando seus dias !
Lamenta toda a nobreza
aquela melancolia.
Nada anima o velho nobre...
tudo lembra ao Rei sobre
seu filho, sua alegria.
I X
Eis que o jovem LAHUR SESSA
-- lá da aldeia de Namir --
num belo sonho processa
o jogo que há de vir.
Vai chamá-lo SHATURANGA...
passa semanas de tanga
belas peças a esculpir. (*1)
X
Terminado o tabuleiro,
ele procura o palácio...
quer ver o Rei tão guerreiro,
replicam que é muita audácia.
Após de-mais insistir,
ao "vairka" de Namir
põem os guardas no real Paço.
X I
Era o Rei bem curioso,
se interessa pelo jogo...
sendo muito estudioso
evita cair no logro.
Depressa aprende os macetes,
não tem par no palacete,
quem o enfrenta é só malogro !
X I I
Lahur informa que as peças
representam a batalha:
os cavalos, elefantes,
os vizires com as malhas. (*2)
Porta o Rei vistosa adarga
e -- co'a Rainha -- faz carga
num ataque que estraçalha.
X I I I
Por todo canto circula
a Rainha, corajosa...
sua valentia anula
o inimigo, em polvorosa.
Defende o Rei -- com afinco --
e, sem perder nenhum brinco,
liquida vários, bem prosa.
X I V
Representa bem seu povo
lutando como leoa...
vem e vai, volta de novo,
não se movimenta à toa.
Ataca, também defende...
aos vizires ela atende,
protege Rei e coroa !
X V
Eis que, assim, se desenrola
a "guerra" -- num TABULEIRO --
e da Índia, "em marolas",
se espraia pro Mundo inteiro.
Toma a Pérsia, as Arábias,
a Europa e, mui sábia,
chega ao solo brasileiro.
X V I
Aqui tivemos "MEQUINHO",
um dos gênios do Xadrez...
Rui Lopes, também pertinho,
escreveu -- vejam vocês --
livros com mil Aberturas,
verdadeiras formosuras
que lá na Argentina fez.
X V I I
Teve Fischer, Kasparov,
a enfrentar computadores...
e o Anatoly Karpov
figura entre os cem melhores.
Alekhine e Capablanca:
essa "dupla" até desbanca
muita gente, entre doutores !
X V I I I
MALBA TAHAN conta o fim
que o jovem Lahur ganhou: (*1)
"O Rei Iadava, enfim,
riquezas mil lhe ofertou...
-- "Quero apenas grãos de arroz
ou trigo (assim dispoz)
sobre as "casinhas"!, falou.
X I X
Todos riram da inocência
do rapaz descerebrado,
pois não viram a ciência
por trás do pedido azado.
Trouxeram 3 contadores
que, horas depois, os valores
lhes revelam, assustados.
X X
DUPLICANDO, triplicando
os grãos da primeira "raia"
na linha se iniciando,
enchia -- oh, Deusa MAYA --
todo o palácio do Rei.
As 8 "linhas", por lei,
davam outro Himalaia !
X X I
Lahur Sessa dispensou
da promessa IADAVA
e, pra todos, comentou
sobre a lição que lhes dava.
Do jovem lá de Namir
fez o Rei seu GRÃO-VIZIR"...
assim a Lenda narrava ! (*2)
X X I I
-- "Olhem aquele garoto,
virou até referência !
Deixou de ser mau, maroto
e largou toda violência.
Foi aprendendo XADREZ
que o menino se refez...
mostrou grande competência !
"NATO" AZEVEDO
(26/maio 2023, 9hs)
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OBS: (*1) - elefantes viraram
TORRES e os vizires BISPOS.
"Vairka" é trabalhador braçal,
peão, servo, "sudra".
(*2) - baseado em trechos da
obra "O HOMEM QUE CALCULAVA",
37ª edição, edit. RECORD, 1990/SP,
cap. XVI, pags 85 a 92.