MEU PAI: ATÉ O DIA DA DESPEDIDA
De Seu Zezin era conhecido
O José Martins de Oliveira
Qu’era o nome do meu Pai
Nascido e criado no Teixeira
Ele vivia pra sua família
Enquanto lutava todo dia
Ao longo das trincheiras...
...da vida onde o inimigo era
A fome e seca nordestina
Foi superano essas barreiras
Qu’ele forjou sua própria sina
Desde os seis anos de idade
Labutou na roça e no motor de agave
Até conhecer sua menina.
Esta sendo minha futura mãe
Com quem meu Pai se casou
Ainda no botão da juventude
Juntos os dois se mudou
Pra Vazante qu’era um sítio
Que ao pai de mãe meu Pai comprou...
...fiado enquanto criava os Filho
Vendeno carne de bode e cabra
A casinha era o matadouro
Onde próprio Pai os matava
Pra vender a carne na feira
Onde seus clientes comprava.
Apesar de jovem Pai já tinha
As mãos bem calejadas
Marcas da infância sofrida
Vindas do cabo da enxada
Num sol quente da paste
Que castiga o peão no agreste
Onde a chuva é bem escarça.
Mãe e Pai já tinham uns filhos
Com quem viviam na casinha
Do sitiozinho onde eles
Criavam galos e galinhas
Além da pequena plantação
De hortaliças e feijão
E dum pomar qu’eles tinha.
Até que uma seca braba chegou
Matano as planta e o ganha pão
Do meu Pai que se agoniou
Com a aquela difícil situação
E Valdeci (Seu irmão) disse:
“Calma, eu tenho a solução!
“Consigo arrumar pr’ocê um trabáio
Lá em São Paulo capital
Que tá se tornano
Um grande centro comercial
É pra labutar na construção
Me diga se quer afinal. ”
Ao pensar na família Pai disse sim
E isso sem pestanejar
Viajaru no pau-de-arara
Após uns dias chegaram lá
Pai, seus filho e a mulher
Sem grana mas cheios de fé
E com ímpeto pra trabaiá.
Lá eles se assustou com
A enormez da cidade grande
S’instalaram numa favela
E Pai soou o seu semblante
Desde os primeiros momentos
Da sua chegada como jumento
Ele labutou todo instante.
Mãe ficava em casa
Cuidano dos filho o dia inteiro
Enquanto Pai arranhava os céus
Com sua colher de pedreiro
Construino os prédio de SP
Que seduzia os sertanejo...
...a irem pro sul buscarem a riqueza
Que a seca nordestina lhes roubava
Sem conhecerem São Paulo
Iam sonhando no pau-de-arara
Mas ao desembarcarem lá
Vendavais de desilusão chegava.
Um desses atingiu meu Pai
Minha mãe e meus irmãos
Que com o passar do tempo
Piorou a situação
De toda a minha família
E do meu Pai que parecia
O homi da Música “Construção”.
Meu Pai ( um jovem moço)
Cum quatro filhos pra criar
Ganhava o seu salário
Que desaparecia no ar
Porque o aluguel e a feira
E outras caras despesas
Pesava na sua lombar.
Maria (a Filha mais véa)
Se condoeu com o cenário
E disse a mãe e Pai:
“Não fiquem agoniado
Vou ajudar aqui em casa
Arranjando um trabáio.”
Ela arranjou um emprego
Na casa dum povo bem de vida
Arrumano a residência deles
Durante a maior parte do dia
E cum dinheiro que ganhava
Ajudava sua família.
Até que um dia minha mãe
Novamente ficou buchuda
E decidiu junto com pai
Voltarem pra Terra sua
Aquela vida em Sã Paulo
Tava deixano eles cansado
Muito pesada era a labuta.
Todos subiram no pau-de-arara
Mas Maria não quis voltar
Preferia continuar em SP
Por não conseguir enxergar
Um futuro no interior
Por isso em SP ela ficou
E seguiu em frente lá.
A família voltou pra roça
E lá mãe pariu outro bebê
Foi teno um filho atrás d’outro
Sendo que uns chegou a morrer
E dum total de dezessete
Só dez chegaram a sobreviver.
Dos sete filhos que morreram
Uns morreram de enfermidade
E os outro já nasceram
Sem o pulsar do coração que bate
Meu Pai acumulou traumas
Mas não perdeu a humanidade.
Dos dez filhos do meu pai,
Três foram pro mundão
Ficou eu qu’era o caçula
Morano com seis irmãos
Numa casa grande na rua
Que pai comprou as custa
Da labuta na plantação.
Meu Pai não tinha estudo
Mas nós qu’era moleque
Ia pra escola de bucho chei
Graças a ele a ao jegue
Que desde a compra da casa
Trabalhava vendeno água
Naquele canto do Nordeste....
...que frequentemente era
Chicoteada pela estiage
Que torturava sua beleza
Preenchendo a Paisage
Com ossadas e galhos podres
Poeira e seca folhage.
No Texeira só tinha o chafariz
E um profundo cacimbão:
Qu’era o olho d’água donde
Meu Pai tirava o ganha pão
Trabalhando de carroceiro
Pra sustentar seu familhão.
Se a carroça de jegue fosse um corpo
O tambor seria sua pança
Onde Pai enchia d’água
Após puxar a caçamba
Cheia d’água do cacimbão
Depositava e repetia a ação
Até enchê-lo por completança.
As vezes eu acompanhava Pai
Na sua labuta com o jeguin
Se quiser saber mais leia
O cordel “O jumento Roxin”
Nesse cordel que escrevi
Falo dessas horas que vivi
Seguidas dum triste fim.
Pouco antes do sol subir
Pai ia na padaria do Severino
Todos os dias comprar pães
Pra sua reca de meninos
E após o café nos levava
Pra escola no Roxinho.
Quando o inverno era próspero
Eu e mais dois irmãos Pai levava
De bicicleta todos os dias
Pra plantar feijão, milho e fava
Nó sítio que pela a Vazante
A vô meu Pai trocara.
Eu ia sentado no varal,
Os dois iam no bagageiro
Até que na subida da ladeira
Eles desciam insatisfeito
E bodejavam inconformados
Por Pai me deixar sentado
E tirá-los do banco traseiro.
Pai dizia que por eu ser o caçula
Não tinha a obrigação
De descer da bicicleta
Mas meus dois irmão
Tinham que desce dela
Porque já velhos era
Pr'aquela confortação.
Desde o meu nascimento
Pai não vendia carne de porco
Mas labutava de carroceiro
E no sábado servia ao povo
Cachaça e pão com picado
Na budega do irmão mais novo.
O pão com picado que Pai fazia
Um grande sucesso era
Um dos melhores tira-gosto
Dos boêmios daquela Terra
Que nos dias de feira lotava
Aquela humilde budega.
Num dia eu tinha ido dormir
Com Pai e meus dois irmão
No sítio e a nossa janta
Foi uma farta refeição:
Pão com picado e buchada
Comemos e na madrugada
Acordamos cum cú na mão.
Fumos cagar no mato
Pra se livrar da diarreia
Tirei o mato pra me limpar
Pai viu e nada dissera:
Sem sabe cum que mexia
Me limpei c’um urtiga
E berrei feito uma égua.
Outro berro se misturou ao meu
Ouvi um bodejar agonioso
Do meu outro irmão gritano:
“Meu cú tá pegano fogo!”
E chorou como se tivesse
Sido violado pelo capirito.
Pai ferveu umas erva no fogo
E lavou o rabo dos dois azarado,
O outro ria de nós dois
Se achando um abençoado
Porque diferente de nós
Ele se limpou com outro mato.
Num dia pai comprou
Três cabeças de gado gordo
Ficou feliz mas logo
Veio a maldição do capiroto
Quando um surto de carrapato
S’instalaram nos seus gados
Deixando desnutrido todos.
Pai vendeu por um terço do valor
Saindo a assim no prejuízo
Noutro dia ele desbulhano feijão
Vi atrás dele algo sinistro
Era uma grande caranguejeira
Que só podia ser de tão feia
Uma imperfeição de Cristo.
Eu disse ao meu pai
E de um salto ele pulou
Pegou a sua enxada
E uma lapada disparou
Nas costas da garanguejeira
Que como uma corda se torou.
Caranguejeira e cobra cascavel
Cobra coral e cobra jararaca
Eram bichos bem venenosos
Que sem hesitar pai matava
Movido por um nojo
Estampado na sua cara.
Moeda pra comprar besteira
Era comum a Pai noiz pedir
E quando ele não dava
Começávamos a chorar ali
Bateno a cabeça na parede
E só parava quando ele
Cedia ao nosso mimimi.
Desses meus seis irmãos, só
Os pivete usavam essa técnica:
Eu o Edilson e o William
(Que foi quem criou ela)
Eu e o Edilson aprendemos
Após ver o outro bateno
A nuca na parede amarela...
...enquanto exclamava
A cada batida na parede
“Quero cinquenta centavo!”
Pai dizia não e ele
Continuava até Pai
Pôr a moeda na mão dele.
As vezes Pai chegava
Bebo d’algum canto da rua
E de fininho eu tirava
Moedas do bolso da calça sua
Quando ele caia no sono
Dentro da rede de macaúba.
Só o que fazia meu Pai sorrir
Era a série mexicana Chaves
Que na TV preto e branco
Nós assistia nas tarde
De tanto ri com as piada
Pai quase que chorava
Ficando cheio de vivace.
De trampar no bar do irmão
Um dia o meu Pai deixou
E arrumou outro emprego
Onde nesse ele começou
A vender jogo do bicho
E nesse novo serviço
Um bom tempo ele passou
Ele andava cum bloco do jogo do bicho
Dentro da sua camiseta
Enquanto guiava a carroça
Pelas ruas do Teixeira
Vez e outra alguém lhe parava
E uma aposta era feita...
...num dos vinte e cinco animais
Por motivos bem variados
Já vi apostarem no burro
Porque nele tinha sonhado
E outro apostar no veado
Porque sua idade era 24.
O meu Pai era contratado
Nos dias sete de setembro
Pra decorar a sua carroça
E também o seu jumento
Nesse dia não corriqueiro
Ele e muitos carroceiros
Faziam o desfilamento....
....pelas ruas do Teixeira
Numa imensa fila indiana
Teno em cada carroceria
Um lorde casal de criança
Ambos vestidos de realiza
O príncipe e a princesa
Sentados numa poltrona.
Na imensa fila indiana
Além das carroças decoradas
Tinham as bandas marciais
Que representavam
As escola que naquela data
Os seus alunos marchavam....
...vestidos com a farda da escola
Formando várias fileiras
Agrupadas num retângulo
Pelas as ruas Teixeira
Ao som das bandas marciais
Em sincronia perfeita.
Havia também o tempo do São João
E o meu Pai fazia uma fogueira
Lenhas postas de frente de casa
Em plena noite de lua cheia
Nisso Pai acendia o fogo
I ficava assistindo noiz todo
Lazeano envolta do fogaréu
Só cuns fogos de artifício
Os acendíamos e nisso
Novos brilhos surgiam no céu.
Mas Pai também pescava
Assim então ele me levava
Rente a si na sua mornark
Teno também sua tarrafa
Iamos pra Poços e Bastiana
Nisso lá muita piraputanga
Sendo aos montes ele pescava.
Pai já tinha deixado de trabalhar
No jogo do bicho e de carroceiro
Porque Valdeci (seu irmão)
Lhe arrumou um emprego
Que valeria pelos dois
Lá na EMBRAPA do Governo.
Um dia sim e um dia não
O meu Pai ia pra lá
As vezes me levava
Pra passar a noite lá
Onde ele vestia uma farda
E começava a rondar...
...os arredores da EMBRAPA
Cum revólver calibre 38
Que ficava na sua cintura
Presa numa cinta de couro
Meu Pai era bom na enxada
Mas não sei se c’uma arma
Ele era talentoso.
Um dia pedi a Pai
Pra pegar no revólver
Ele o pôs na minha mão
E senti um peso forte
A arma era tão pesada
Qu’ela quase desabava
Das mãos do meninote.
Quando eu ia com Pai pra EMBRAPA
Era comum a sequência de atos:
A gente pegava carona
Do Teixeira até Patos
E de lá de bicicleta
Seguíamos pelo asfalto....
... a caminho do trabalho
Qu'era uma grande aventura
Me levando no bagageiro
Pai conduzia a sua
Bicicleta monark
Pelas turbulentas ruas....
...que o oposto a Teixeira tinha
Mais carros que jumentos
Pelas avenidas patoense
Sem congestionamento
Meu Pai no meio deles
Pedalava a monark dele
E íamos cidade adentro.
Passávamos pelo Estádio José Cavalcanti
E pela Feira da Troca
Depois pela Cruz da Menina
E por fim uma bela obra:
Uma fazenda lotada
De avestruzes que encantava
Aqueles que vem da roça.
Nas noites quentes
Na EMBRAPA de Patos
A sopa que Pai fazia eu
Comia até ficar entalado
Era uma sopa de arroz
Cum suculento caldo.
Cum salário do fim do mês
Pai ia no marcadin de Zito
Na carroça de jumento
E lá fazia pros filhos
Uma feira bem grandiosa
Que me enchia de regozijo....
...Quando noiz via ele vino
Lá no balde do açude novo
Cum a carroça chei de caixas
Corríamos ansioso
Subíamos na carroça
Abríamos uma caixa na hora
E tirávamos os breboto.
Nos fumo cresceno sadio
A casa foi se esvaziano
Dos seis irmão em casa
Só com Melancia eu tava morano
Os outros já bem crescidos
De casa já tinham partido
Pra viverem n’outros cantos.
Nos dois já éramos adultos
Vivendo sob as asas do paizão
Ele tava envelhecendo
E com a velhice vinha então
As vicissitudes que macula:
A cansada alma dos ancião.
O meu pai se aposentou
E deixou de trabalhar
Na EMBRAPA e então
Começou a ficar
A maior parte do dia
No seu preferido lugar
Qu’era o sítio onde ele
Sempre arranjava algo pra fazer
Como limpar mato e catar castanhas
Plantar legumes e colher
Feijão, milho e mandioca
E na seca armava sua carroça
Pra ir no sítio de vô encher...
...o tambor da carroça com água
Na grande barrage que tinha lá
Repleta de garças a jaçanas
Com suas patas a caminhar
Por cima das vitórias régias
Pelos singônios e ninfeias
Que esbeltavam o lugar.
Antes de pai adquirir o costume
De cozinhar no sítio dele
Eu levava a sua comida
Que mãe fazia pra ele
Eu chegava lá de bicicleta
E via sempre aquele...
...senhor qu’era o meu pai
Trabalhando sem parar
Debaixo do sol quente
Com o suor a desabar
Da sua cabeça coberta
Por um chapéu de palha circular.
Pai desamarrava a trouxa de pano
Da marmita de comida
E assim que abria a tampa
Um vapor dela saia
Sentado na cadeira de balanço
Ele comida contemplano
O sítio onde regia.,..
...uma atmosfera de simplicidade
Cheia de serenidade
Pai almoçava ouvino no rádio
As notícias da cidade
Após a refeição
Ele tirava um cochilo então
No início da tarde...
...na sua rede de algodão
Debaixo do cajueiro
E depois ele acordava
Com seu espírito cheio
De energia e continuava
A fazer o que tinha que ser feito.
Uma vez minha irmã Lena
Tinha vindo de Brasília
E ajeitou com Tia Mara
Pra irem ambas as família
Passarem dois dias em Triunfo
Curtino o que lá oferecia.
Ficaram de irem dali a quinze dias
E disseram que não ia dá
Pra Pai ir junto com eles
Porque capacidade não há
No carro da minha Tia
Pr’outro membro da família
Pai teria que ficar.
Pai só bebia nos fins de semana
Mas durante esse intervalo
Ele começou a beber mais
Do que tava habituado
Uma vez na casa de Mara
Umas pessoas lá almoçava
Num dia achuvarado.
Todo mundo que ia pra Triunfo
Tava sentado ao redor da mesa
Até que meu pai apareceu
Cambaleano de cara cheia
E Lena morta de vergonha
Gritou:” Já Chega!”.
Ela pegou o carro de Mara
E levou pai pra casa
Dias depois Mara foi lá
No seu carro cor de prata
Pai apareceu novamente
Sob efeito da cachaça.
Não ouvi o que pai tinha dito
Mas ao chegar perto deles
Ouvi Lena dizer a Mara:
“Fique atenta cum ele”
S’ele fizer bestera
Ligue pra polícia do Teixeira
E mandem prender ele.”
Pai saiu bodejano
Sem está em paz consigo
Montou na sua monark
E partiu pro seu sítio
Preocupado com ele
Fui visitar ele
E lá vi-lo entristecido....
...deitado na cama
Quando devia tá trabalhando
Olhando para o teto
Cum sua testa suando
Veno ele daquele jeito
Perguntei o que tava se passando.
“Ninguém que saber de mim..”
Quase no choro pai tinha dito
E foi ali que percebi
Qu’ele se sentia excluído
Sem se sentir amado
Por nenhum dos dez filhos.
Eu disse a pai que amava dele
Depois lhe dei um abraço
Ele cobriu o seu rosto
E soluçando virou pro lado
Dali eu fui embora
E depois d’algumas horas
Vi ele recuperado....
... na hora do jantar em casa
Tão lúcido quando o Buda
Ele parou das bebedeiras
Voltou a antiga rotina sua
Enquanto o tempo passava
Mais véi meu pai ficava
Menor era a disposição sua.
Ele comprou uma Shirenay
Pra substituir sua bicicleta
E logo já era de praxe
Ver pai dirigindo ela
Indo e voltano do sítio
Na moto q’vermelho era.
Pai vendeu a carroça de Jegue
E também o jegue orelhudo
Após o candidato a reeleição
Nos deixar bem felizurdo
Noiz prometeu votar nele
Em troca dele fazer tudo.
Aquela foi a primeira vez
Que vi na minha vida
Uma político dá sua palavra
E ela ser cumprida
No sítio da nossa casa
“Ele fez” uma cisterna larga
Onde muita água cabia.
A água da cisterna
Dava pra seis meses
Na época de quintura
O sítio continuava verde
Da cisterna Pai tirava
A água q’uele usava
Pr’agoar as fruteiras dele.
Pai ficou mais indisposto
Pra certos tipos de trabalho
Como carregar muito peso
Arar terra e limpar mato
Pra esse tipo de serviço
O seu Chico foi contratado...
...por pai que lhe pagava
Dinheiro por diária
Dentre os vários afazeres
A Terra Seu Chico arava
Arrastano o arador
Puxado por duas vaca.
A reforma da nossa casa
Ajudado filhos pai pagou
Mandou pintar as paredes
O chão e o teto reformou
Com cerâmica e gesso
E cum resto do dinheiro
Duas caixa-d’água ele comprou.
As lembranças do Teixeira
E da juventude que tive lá
Levei dentro da bagagem
Quando eu fui recomeçar
A minha vida em Santo André
Esta grande cidade que é
Um constante desabrochar...
....de experiências que enriquece
Aqueles que vem do interior
Morano com três irmãos
Minhas raízes se fincou
Aqui e o contato por telefone
Com meu pai continuou.
Nesse tempo a saúde de pai
Começou a se agravar
Sua visão ficou ruim
E ele foi se consultar
Cum oftalmologista
Que mandou ele comprar...
...um óculos de grau qu’era caro
Por nós pai foi convidado
A passar um tempo conosco
No estado de São Paulo
E assim qu’ele chegou
A saudade nós matou
Levano ele pra todo lado.
Compramos o óculos pra pai
Apesar de condição ele ter
O levamos pra igreja da Sé
Onde lá pai pode ver
João Carlos Martins tocano piano
E o Padre da missa resano
Pedino pra todos ter....
...fé em Deus que o meu pai
Tinha de muita sobra
Lá no Mercado Municipal
Ele comeu as frutas exóticas
Camu-camu e mangostin
Que não tem na roça.
Na avenida paulista
Meu pai viu muita arte
Mágicos e dançarinos
Músicos por toda parte
Que o deixava impressionado
Com aquela diversidade.
No Bairro da Liberdade
Pai comeu yakissoba
Sushi, temaki e shogayaki
E outras comidas boas
Feitas pelos asiáticos
Que cum seus pratos artáticos
Agradou sua pessoa.
Durante o passeio de pai
Não deixei de perceber
Os efeitos que a velhice
Causava no seu ser
Vez em quando ele parava
E fazia uma pausa
Pra que energia voltasse a ter.
Mas os raios da velhice não caiu
Sobre o seu dom de cozinheiro
Os meus irmãos vinha à noite
Do trabalho e sentia o cheiro
Da sopa divina que meu pai
Com mô carinho tinha feito.
Conversávamos e ríamos
Sentados na mesa de tábua
Comeno a sopa e lembrando
Da nossa época de molecada
No Teixeira onde nosso pai
Nos criou sem dá porrada.
Meu pai voltou pra Teixeira
E cum tempo fiquei sabeno
Que seu estado de saúde
Sofreu um agravamento
De um olho ele ficou cego
E passou a tomar remédios
Tava quase hipertenso.
Um dia meu irmão Edilson
Pro Teixeira ele viajou
E terminado suas férias
Pra São Paulo ele voltou
E aqui nos disse que lá
Pro hospital de Taperoá
Nosso pai ele levou...
...pra tirar uma hérnia
Que na sua coxa estava
Terminada a cirurgia
Eles voltaram pra casa
E por três semanas pai
Ficou em posição relaxada....
...deitado na cama enquanto
Mãe e Edilson cuidava dele
Recuperado da cirurgia
Pai voltou a rotina dele
Fazendo os afazeres do sítio
Cum Seu Chico ajudano ele.
Quando eu ligava pra pai
Lhe perguntava do estado
Da sua saúde e ele
Respondia resignado
Dizendo que sentia
Dores nalguns lados.
Mas que não era tão incomodante
A ponto de impedi-lo
Dele ocupar a cabeça
Fazeno as coisa do sítio
Eu dava conselho pra ele
Comer saudável e ele
Dizia:”vou fazer isso!”
Um dia quando liguei pra mãe
Perguntei da saúde de pai
Ela respondeu:” o coitado
Anda cansado demais
Ele teve uma vida sofrida
E agora nessa fase da vida
Divia descansar mais.”
“descansar mais” mãe queria dizer
Pra pai se entregar ao repouso
Só que o tédio pro véi
Era invenção do capiroto
E pra ficar perto de Deus
Ele oculpava o dia todo...
... a sua mente lá no sítio
Só que agora dava uma trégua
No calor pai não trabalhava
Por recomendação médica
Esperando o calor passar
Deibaixo do pé de seriguela....
... onde ele se deitava na rede
E quando vinha o fim do dia
Se pai não fosse pra casa
Lá no sítio ele dormia
Na companhia do meu irmão
Que ficou lá no sertão
Cujo apelido é Melancia.
No fogão de lenha do sítio
Pai fazia almoço e jantar
Ouvino o som das vidas
Que sonorizava o sítio lá:
Grilos e cigarras
E aves da mata
Como chuvinhas e sabiás.
E o fim desse cordel chega
Como sempre num dia trivial
Quando o Deus Shinigami
Vem lá do plano astral
Pra escreve no seu Death Note
O nome de quem chega ao afinal...
...da sua existência terrena
E eu só tomei nota da ocorrência
Num domingo em Santo André
Era noite e minha consciência
Estava leve feito o ar
Cum vislumbre de insurgência...
...de um ponto de luz no céu
E só entendi aquilo
Quando eu cheguei em casa
E vi meus irmãos entristecido
No celular Edilson tava falano
E me disse:”escuta meu mano
Presta atenção nisso.”
“Pai morreu
Acharam ele caído no chão
Da casinha e provavelmente
Foi de infarto no coração
Todo mundo tá lá no sítio
Seus irmãos e seus amigos
E uma parte da população.”
No dia seguinte a causa da morte
Pelos legista foi confirmada
Meu pai morreu de infarto
Com sessenta e oito anos tava
Ele morrera sem sofrer
No aconchego do seu Ser
Qu’era o sítio onde ele ficava.
Prefeito, vizinhos e vereadores
Familiares e irmãos
Centenas de Teixeirenses
E pessoas doutra região
Foram ao enterro pra prestar
Homenagi a meu paizão.
O que meu Pai não tinha de escola
Ele tinha de bondade
Apesar da vida sofrida
Ele manteve a responsabilidade
De criar bem seus filhos
Sem nos deixar na necessidade.
Santo André, 17 de Maio de 2023