MEU PAI: ATÉ O DIA DA DESPEDIDA

 

 

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De Seu Zezin era conhecido

O José Martins de Oliveira

Qu’era o nome do meu Pai

Nascido e criado no Teixeira

Ele vivia pra sua família

Enquanto lutava todo dia

Ao longo das trincheiras...

 

...da vida onde o inimigo era

A fome e seca nordestina             

Foi superano essas barreiras

Qu’ele forjou sua própria sina

Desde os seis anos de idade

Labutou na roça e no motor de agave

Até conhecer sua menina.

 

Esta sendo minha futura mãe

Com quem meu Pai se casou

Ainda no botão da juventude

Juntos os dois se mudou

Pra Vazante qu’era um sítio

Que ao pai de mãe meu Pai comprou...

 

...fiado enquanto criava os Filho

Vendeno carne de bode e cabra

A casinha era o matadouro

Onde próprio Pai os matava

Pra vender a carne na feira

Onde seus clientes comprava.

 

Apesar de jovem Pai já tinha

As mãos bem calejadas

Marcas da infância sofrida

Vindas do cabo da enxada

Num sol quente da paste

Que castiga o peão no agreste

Onde a chuva é bem escarça.

 

Mãe e Pai já tinham uns filhos

Com quem viviam na casinha

Do sitiozinho onde eles

Criavam galos e galinhas

Além da pequena plantação

De hortaliças e feijão

E dum pomar qu’eles tinha.

 

Até que uma seca braba chegou

Matano as planta e o ganha pão

Do meu Pai que se agoniou

Com a aquela difícil situação

E Valdeci (Seu irmão) disse:

“Calma, eu tenho a solução!

 

“Consigo arrumar pr’ocê um trabáio

Lá em São Paulo capital

Que tá se tornano

Um grande centro comercial

É pra labutar na construção

Me diga se quer afinal. ”

 

Ao pensar na família Pai disse sim

E isso sem pestanejar

Viajaru no pau-de-arara

Após uns dias chegaram lá

Pai, seus filho e a mulher

Sem grana mas cheios de fé

E com ímpeto pra trabaiá.

 

Lá eles se assustou com

A enormez da cidade grande

S’instalaram  numa favela

E Pai soou o seu semblante

Desde os primeiros momentos

Da sua chegada como jumento

Ele labutou todo instante.

 

Mãe ficava em casa

Cuidano dos filho o dia inteiro

Enquanto Pai arranhava os céus

Com sua colher de pedreiro

Construino os prédio de SP

Que seduzia os sertanejo...

 

...a irem pro sul buscarem a riqueza

Que a seca nordestina lhes roubava

Sem conhecerem São Paulo

Iam sonhando no pau-de-arara

Mas ao desembarcarem lá

Vendavais de desilusão chegava.

 

Um desses atingiu meu Pai

Minha mãe e meus irmãos

Que com o passar do tempo

Piorou a situação

De toda a minha família

E do meu Pai que parecia

O homi da Música “Construção”.

 

Meu Pai ( um jovem moço)

Cum quatro filhos pra criar

Ganhava o seu salário

Que desaparecia no ar

Porque o aluguel e a feira

E outras caras despesas

Pesava na sua lombar.

 

Maria (a Filha mais véa)

Se condoeu com o cenário

E disse a mãe e Pai:

“Não fiquem agoniado

Vou ajudar aqui em casa

Arranjando um trabáio.”

 

Ela arranjou um emprego

Na casa dum povo bem de vida

Arrumano a residência deles

Durante a maior parte do dia

E cum dinheiro que ganhava

Ajudava sua família.

 

Até que um dia minha mãe

Novamente ficou buchuda

E decidiu junto com pai

Voltarem pra Terra sua

Aquela vida em Sã Paulo

Tava deixano eles cansado

Muito pesada era a labuta.

 

Todos subiram no pau-de-arara

Mas Maria não quis voltar

Preferia continuar em SP

Por não conseguir enxergar

Um futuro no interior

Por isso em SP ela ficou

E seguiu em frente lá.

 

A família voltou pra roça

E lá mãe pariu outro bebê

Foi teno um filho atrás d’outro

Sendo que uns chegou a morrer

E dum total de dezessete

Só dez chegaram a sobreviver.

 

Dos sete filhos que morreram

Uns morreram de enfermidade

E os outro já nasceram

Sem o pulsar do coração que bate

Meu Pai acumulou traumas

Mas não perdeu a humanidade.

 

Dos dez filhos do meu pai,

Três foram pro mundão

Ficou eu qu’era o caçula

Morano com seis irmãos

Numa casa grande na rua

Que pai comprou as custa

Da labuta na plantação.

 

Meu Pai não tinha estudo

Mas nós qu’era moleque

Ia pra escola de bucho chei

Graças a ele a ao jegue

Que desde a compra da casa

Trabalhava vendeno água

Naquele canto do Nordeste....

 

...que frequentemente era

Chicoteada pela estiage

Que torturava sua beleza

Preenchendo a Paisage

Com ossadas e galhos podres

Poeira e seca folhage.

 

No Texeira só tinha o chafariz

E um profundo cacimbão:

Qu’era o olho d’água donde

Meu Pai tirava o ganha pão

Trabalhando de carroceiro

Pra sustentar seu familhão.

 

Se a carroça de jegue fosse um corpo

O tambor seria sua pança

Onde Pai enchia d’água

Após puxar a caçamba

Cheia d’água do cacimbão

Depositava e repetia a ação

Até enchê-lo por completança.

 

As vezes eu acompanhava Pai

Na sua labuta com o jeguin

Se quiser saber mais leia

O cordel “O jumento Roxin”

Nesse cordel que escrevi

Falo dessas horas que vivi

Seguidas dum triste fim.

 

Pouco antes do sol subir

Pai ia na padaria do Severino

Todos os dias comprar pães

Pra sua reca de meninos

E após o café nos levava

Pra escola no Roxinho.

 

Quando o inverno era próspero

Eu e mais dois irmãos Pai levava

De bicicleta todos os dias

Pra plantar feijão, milho e fava

Nó sítio que pela a Vazante

A vô meu Pai trocara.

 

Eu ia sentado no varal,

Os dois iam no bagageiro

Até que na subida da ladeira

Eles desciam insatisfeito

E bodejavam inconformados

Por Pai me deixar sentado

E tirá-los do banco traseiro.

 

Pai dizia que por eu ser o caçula

Não tinha a obrigação

De descer da bicicleta

Mas meus dois irmão

Tinham que desce dela

Porque já velhos era

Pr'aquela confortação.

 

Desde o meu nascimento

Pai não vendia carne de porco

Mas labutava de carroceiro

E no sábado servia ao povo

Cachaça e pão com picado

Na budega do irmão mais novo.

 

O pão com picado que Pai fazia

Um grande sucesso era

Um dos melhores tira-gosto

Dos boêmios daquela Terra

Que nos dias de feira lotava

Aquela humilde budega.

 

Num dia eu tinha ido dormir

Com Pai e meus dois irmão

No sítio e a nossa janta

Foi uma farta refeição:

Pão com picado e buchada

Comemos e na madrugada

Acordamos cum cú na mão.

 

Fumos cagar no mato

Pra se livrar da diarreia

Tirei o mato pra me limpar

 Pai viu e nada dissera:

Sem sabe cum que mexia

Me limpei c’um urtiga

E berrei feito uma égua.

 

Outro berro se misturou ao meu

Ouvi um bodejar agonioso

Do meu outro irmão gritano:

“Meu cú tá pegano fogo!”

E chorou como se tivesse

Sido violado pelo capirito.

 

Pai ferveu umas erva no fogo

E lavou o rabo dos dois azarado,

O outro ria de nós dois

Se achando um abençoado

Porque diferente de nós

Ele se limpou com outro mato.

 

Num dia pai comprou

Três cabeças de gado gordo

Ficou feliz mas logo

Veio a maldição do capiroto

Quando um surto de carrapato

S’instalaram nos seus gados

Deixando desnutrido todos.

 

Pai vendeu por um terço do valor

Saindo a assim no prejuízo

Noutro dia ele desbulhano feijão

Vi atrás dele algo sinistro

Era uma grande caranguejeira

Que só podia ser de tão feia

Uma imperfeição de Cristo.

 

Eu disse ao meu pai

E de um salto ele pulou

Pegou a sua enxada

E uma lapada disparou

Nas costas da garanguejeira

Que como uma corda se torou.

 

Caranguejeira e cobra cascavel

Cobra coral e cobra jararaca

Eram bichos bem venenosos

Que sem hesitar pai matava

Movido por um nojo

Estampado na sua cara.

 

Moeda pra comprar besteira

Era comum a Pai noiz pedir

E quando ele não dava

Começávamos a chorar ali

Bateno a cabeça na parede

E só parava quando ele

Cedia ao nosso mimimi.

 

Desses meus seis irmãos, só

Os pivete usavam essa técnica:

Eu o Edilson e o William

(Que foi quem criou ela)

Eu e o Edilson aprendemos

Após ver o outro bateno

A nuca na parede amarela...

 

...enquanto exclamava

A cada batida na parede

“Quero cinquenta centavo!”

Pai dizia não e ele

Continuava até Pai

Pôr a moeda na mão dele.

 

As vezes Pai chegava

Bebo d’algum canto da rua

E de fininho eu tirava

Moedas do bolso da calça sua

Quando ele caia no sono

Dentro da rede de macaúba.

 

Só o que fazia meu Pai sorrir

Era a série mexicana Chaves

Que na TV preto e branco

Nós assistia nas tarde

De tanto ri com as piada

Pai quase que chorava

Ficando cheio de vivace.

 

De trampar no bar do irmão

Um dia o meu Pai deixou

E arrumou outro emprego

Onde nesse ele começou

A vender jogo do bicho

E nesse novo serviço

Um bom tempo ele passou

 

Ele andava cum bloco do jogo do bicho

Dentro da sua camiseta

Enquanto guiava a carroça

Pelas ruas do Teixeira

Vez e outra alguém lhe parava

E uma aposta era feita...

 

...num dos vinte e cinco animais

Por motivos bem variados

Já vi apostarem no burro

Porque nele tinha sonhado

E outro apostar no veado

Porque sua idade era 24.

 

O meu Pai era contratado

Nos dias sete de setembro

Pra decorar a sua carroça

E também o seu jumento

Nesse dia não corriqueiro

Ele e muitos carroceiros

Faziam o desfilamento....

 

....pelas ruas do Teixeira

Numa imensa fila indiana

Teno em cada carroceria

Um lorde casal de criança

Ambos vestidos de realiza

O príncipe e a princesa

Sentados numa poltrona.

 

Na imensa fila indiana

Além das carroças decoradas

Tinham as bandas marciais

 Que representavam

As escola que naquela data

Os seus alunos marchavam....

 

...vestidos com a farda da escola

Formando várias fileiras

Agrupadas num retângulo

Pelas as ruas Teixeira

Ao som das bandas marciais

Em sincronia perfeita.

 

Havia também o tempo do São João

E o meu Pai fazia uma fogueira

Lenhas postas de frente de casa

Em plena noite de lua cheia

Nisso Pai acendia o fogo

I ficava assistindo noiz todo

Lazeano envolta do fogaréu

Só cuns fogos de artifício

Os acendíamos e nisso

Novos brilhos surgiam no céu.

 

Mas Pai também pescava

Assim então ele me levava

Rente a si na sua mornark

Teno também sua tarrafa

Iamos pra Poços e Bastiana

Nisso lá muita piraputanga

Sendo aos montes ele pescava.

 

Pai já tinha deixado de trabalhar

No jogo do bicho e de carroceiro

Porque Valdeci (seu irmão)

Lhe arrumou um emprego

Que valeria pelos dois

Lá na EMBRAPA do Governo.

 

Um dia sim e um dia não

O meu Pai ia pra lá

As vezes me levava

Pra passar a noite lá

Onde ele vestia uma farda

E começava a rondar...

 

...os arredores da EMBRAPA

Cum revólver calibre 38

Que ficava na sua cintura

Presa numa cinta de couro

Meu Pai era bom na enxada

Mas não sei se c’uma arma

Ele era talentoso.

 

Um dia pedi a Pai

Pra pegar no revólver

Ele o pôs na minha mão

E senti um peso forte

A arma era tão pesada

Qu’ela quase desabava

Das mãos do meninote.

 

Quando eu ia com Pai pra EMBRAPA

Era comum a sequência de atos:

A gente pegava carona

Do Teixeira até Patos

E de lá de bicicleta

Seguíamos pelo asfalto....

 

... a caminho do trabalho

Qu'era uma grande aventura

Me levando no bagageiro

Pai conduzia a sua

Bicicleta monark

Pelas turbulentas ruas....

 

...que o oposto a Teixeira tinha

Mais carros que jumentos

Pelas avenidas patoense

Sem congestionamento

Meu Pai no meio deles

Pedalava a monark dele

E íamos cidade adentro.

 

Passávamos pelo Estádio José Cavalcanti

E pela Feira da Troca

Depois pela Cruz da Menina

E por fim uma bela obra:

Uma fazenda lotada

De avestruzes que encantava

Aqueles que vem da roça.

 

Nas noites quentes

Na EMBRAPA de Patos

A sopa que Pai fazia eu

Comia até ficar entalado

Era uma sopa de arroz

Cum suculento caldo.

 

Cum salário do fim do mês

Pai ia no marcadin de Zito

Na carroça de jumento

E lá fazia pros filhos

Uma feira bem grandiosa

Que me enchia de regozijo....

 

...Quando noiz via ele vino

Lá no balde do açude novo

Cum a carroça chei de caixas

Corríamos ansioso

Subíamos na carroça

Abríamos uma caixa na hora

E tirávamos os breboto.

 

Nos fumo cresceno sadio

A casa foi se esvaziano

Dos seis irmão em casa

Só com Melancia eu tava morano 

Os outros já bem crescidos

De casa já tinham partido

Pra viverem n’outros cantos.

 

Nos dois já éramos adultos

Vivendo sob as asas do paizão

Ele tava envelhecendo

E com a velhice vinha então

As vicissitudes que macula:

A cansada alma dos ancião.

 

O meu pai se aposentou

E deixou de trabalhar

Na EMBRAPA e então

Começou a ficar

A maior parte do dia

No seu preferido lugar

 

Qu’era o sítio onde ele

Sempre arranjava algo pra fazer

Como limpar mato e catar castanhas

Plantar legumes e colher

Feijão, milho e mandioca

E na seca armava sua carroça

Pra ir no sítio de vô encher...

 

...o tambor da carroça com água

Na grande barrage que tinha lá

Repleta de garças a jaçanas

Com suas patas a caminhar

Por cima das vitórias régias

Pelos singônios e ninfeias

Que esbeltavam o lugar.

 

Antes de pai adquirir o costume

De cozinhar no sítio dele

Eu levava a sua comida

Que mãe fazia pra ele

Eu chegava lá de bicicleta

E via sempre aquele...

 

...senhor qu’era o meu pai

Trabalhando sem parar

Debaixo do sol quente

Com o suor a desabar

Da sua cabeça coberta

Por um chapéu de palha circular.

 

Pai desamarrava a trouxa de pano

Da marmita de comida

E assim que abria a tampa

Um vapor dela saia

Sentado na cadeira de balanço

Ele comida contemplano

O sítio onde regia.,..

 

...uma atmosfera de simplicidade

Cheia de serenidade

Pai almoçava ouvino no rádio

As notícias da cidade

Após a refeição

Ele tirava um cochilo então

No início da tarde...

 

...na sua rede de algodão

Debaixo do cajueiro

E depois ele acordava

Com seu espírito cheio

De energia e continuava

A fazer o que tinha que ser feito.

 

Uma vez minha irmã Lena

Tinha vindo de Brasília

E ajeitou com Tia Mara

Pra irem ambas as família

Passarem dois dias em Triunfo

Curtino o que lá oferecia.

 

Ficaram de irem dali a quinze dias

E disseram que não ia dá

Pra Pai ir junto com eles

Porque capacidade não há

No carro da minha Tia

Pr’outro membro da família

Pai teria que ficar.

 

Pai só bebia nos fins de semana

Mas durante esse intervalo

Ele começou a beber mais

Do que tava habituado

Uma vez na casa de Mara

Umas pessoas lá almoçava

Num dia achuvarado.

 

Todo mundo que ia pra Triunfo

Tava sentado ao redor da mesa

Até que meu pai apareceu

Cambaleano de cara cheia

E Lena morta de vergonha

Gritou:” Já Chega!”.

 

Ela pegou o carro de Mara

E levou pai pra casa

Dias depois Mara foi lá

No seu carro cor de prata

Pai apareceu novamente

Sob efeito da cachaça.

 

Não ouvi o que pai tinha dito

Mas ao chegar perto deles

Ouvi Lena dizer a Mara:

“Fique atenta cum ele”

S’ele fizer bestera

Ligue pra polícia do Teixeira

E mandem prender ele.”

 

Pai saiu bodejano

Sem está em paz consigo

Montou na sua monark

E partiu pro seu sítio

Preocupado com ele

Fui visitar ele

E lá vi-lo entristecido....

 

...deitado na cama

Quando devia tá trabalhando

Olhando para o teto

Cum sua testa suando

Veno ele daquele jeito

Perguntei o que tava se passando.

 

“Ninguém que saber de mim..”

Quase no choro pai tinha dito

E foi ali que percebi

Qu’ele se sentia excluído

Sem se sentir amado

Por nenhum dos dez filhos.

 

Eu disse a pai que amava dele

Depois lhe dei um abraço

Ele cobriu o seu rosto

E soluçando virou pro lado

Dali eu fui embora

E depois d’algumas horas

Vi ele recuperado....

 

... na hora do jantar em casa

Tão lúcido quando o Buda

Ele parou das bebedeiras

Voltou a antiga rotina sua

Enquanto o tempo passava

Mais véi meu pai ficava

Menor era a disposição sua.

 

Ele comprou uma Shirenay

Pra substituir sua bicicleta

E logo já era de praxe

Ver pai dirigindo ela

Indo e voltano do sítio

Na moto q’vermelho era.

 

Pai vendeu a carroça de Jegue

E também o jegue orelhudo

Após o candidato a reeleição

Nos deixar bem felizurdo

Noiz prometeu votar nele

Em troca dele fazer tudo.

 

Aquela foi a primeira vez

Que vi na minha vida

Uma político dá sua palavra

E ela ser cumprida

No sítio da nossa casa

“Ele fez” uma cisterna larga

Onde muita água cabia.

 

A água da cisterna

Dava pra seis meses

Na época de quintura

O sítio continuava verde

Da cisterna Pai tirava

A água q’uele usava

Pr’agoar as fruteiras dele.

 

Pai ficou mais indisposto

Pra certos tipos de trabalho

Como carregar muito peso

Arar terra e limpar mato

Pra esse tipo de serviço

O seu Chico foi contratado...

 

...por pai que lhe pagava

Dinheiro por diária

Dentre os vários afazeres

A Terra Seu Chico arava

Arrastano o arador

Puxado por duas vaca.

 

A reforma da nossa casa

Ajudado filhos pai pagou

Mandou pintar as paredes

O chão e o teto reformou

Com cerâmica e gesso

E cum resto do dinheiro

Duas caixa-d’água ele comprou.

 

As lembranças do Teixeira

E da juventude que tive lá

Levei dentro da bagagem

Quando eu fui recomeçar

A minha vida em Santo André

Esta grande cidade que é

Um constante desabrochar...

 

....de experiências que enriquece

Aqueles que vem do interior

Morano com três irmãos

Minhas raízes se fincou

Aqui e o contato por telefone

Com meu pai continuou.

 

Nesse tempo a saúde de pai

Começou a se agravar

Sua visão ficou ruim

E ele foi se consultar

Cum oftalmologista

Que mandou ele comprar...

 

...um óculos de grau qu’era caro

Por nós pai foi convidado

A passar um tempo conosco

No estado de São Paulo

E assim qu’ele chegou

A saudade nós matou

Levano ele pra todo lado.

 

Compramos o óculos pra pai

Apesar de condição ele ter

O levamos pra igreja da Sé

Onde lá pai pode ver

João Carlos Martins tocano piano

E o Padre da missa resano

Pedino pra todos ter....

 

...fé em Deus que o meu pai

Tinha de muita sobra

Lá no Mercado Municipal

Ele comeu as frutas exóticas

Camu-camu e mangostin

Que não tem na roça.

 

Na avenida paulista

Meu pai viu muita arte

Mágicos e dançarinos

Músicos por toda parte

Que o deixava impressionado

Com aquela diversidade.

 

No Bairro da Liberdade

Pai comeu yakissoba

Sushi, temaki e shogayaki

E outras comidas boas

Feitas pelos asiáticos

Que cum seus pratos artáticos

Agradou sua pessoa.

 

Durante o passeio de pai

Não deixei de perceber

Os efeitos que a velhice

Causava no seu ser

Vez em quando ele parava

E fazia uma pausa

Pra que energia voltasse a ter.

 

Mas os raios da velhice não caiu

Sobre o seu dom de cozinheiro

Os meus irmãos vinha à noite

Do trabalho e sentia o cheiro

Da sopa divina que meu pai

Com mô carinho tinha feito.

 

Conversávamos e ríamos

Sentados na mesa de tábua

Comeno a sopa e lembrando

Da nossa época de molecada

No Teixeira onde nosso pai

Nos criou sem dá porrada.

 

Meu pai voltou pra Teixeira

E cum tempo fiquei sabeno

Que seu estado de saúde

Sofreu um agravamento

De um olho ele ficou cego

E passou a tomar remédios

Tava quase hipertenso.

 

Um dia meu irmão Edilson

Pro Teixeira ele viajou

E terminado suas férias

Pra São Paulo ele voltou

E aqui nos disse que lá

Pro hospital de Taperoá

Nosso pai ele levou...

 

...pra tirar uma hérnia

Que na sua coxa estava

Terminada a cirurgia

Eles voltaram pra casa

E por três semanas pai

Ficou em posição relaxada....

 

...deitado na cama enquanto

Mãe e Edilson cuidava dele

Recuperado da cirurgia

Pai voltou a rotina dele

Fazendo os afazeres do sítio

Cum Seu Chico ajudano ele.

 

Quando eu ligava pra pai

Lhe perguntava do estado

Da sua saúde e ele

Respondia resignado

Dizendo que sentia

Dores nalguns lados.

 

Mas que não era tão incomodante

A ponto de impedi-lo

Dele ocupar a cabeça

Fazeno as coisa do sítio

Eu dava conselho pra ele

Comer saudável e ele

Dizia:”vou fazer isso!”

 

Um dia quando liguei pra mãe

Perguntei da saúde de pai

Ela respondeu:” o coitado

Anda cansado demais

Ele teve uma vida sofrida

E agora nessa fase da vida

Divia descansar mais.”

 

“descansar mais” mãe queria dizer

Pra pai se entregar ao repouso

Só que o tédio pro véi

Era invenção do capiroto

E pra ficar perto de Deus

Ele oculpava o dia todo...

 

... a sua mente lá no sítio

Só que agora dava uma trégua

No calor pai não trabalhava

Por recomendação médica

Esperando o calor passar

Deibaixo do pé de seriguela....

 

... onde ele se deitava na rede

E quando vinha o fim do dia

Se pai não fosse pra casa

Lá no sítio ele dormia

Na companhia do meu irmão

Que ficou lá no sertão

Cujo apelido é Melancia.

 

No fogão de lenha do sítio

Pai fazia almoço e jantar

Ouvino o som das vidas

Que sonorizava o sítio lá:

Grilos e cigarras

E aves da mata

Como chuvinhas e sabiás.

 

E o fim desse cordel chega

Como sempre num dia trivial

Quando o Deus Shinigami

Vem lá do plano astral

Pra escreve no seu Death Note

O nome de quem chega ao afinal...

 

...da sua existência terrena

E eu só tomei nota da ocorrência

Num domingo em Santo André

Era noite e minha consciência

Estava leve feito o ar

Cum vislumbre de insurgência...

 

...de um ponto de luz no céu

E só entendi aquilo

Quando eu cheguei em casa

E vi meus irmãos entristecido

No celular Edilson tava falano

E me disse:”escuta meu mano

Presta atenção nisso.”

 

“Pai morreu

Acharam ele caído no chão

Da casinha e provavelmente

Foi de infarto no coração

Todo mundo tá lá no sítio

Seus irmãos e seus amigos

E uma parte da população.”

 

No dia seguinte a causa da morte

Pelos legista foi confirmada

Meu pai morreu de infarto

Com sessenta e oito anos tava

Ele morrera sem sofrer

No aconchego do seu Ser

Qu’era o sítio onde ele ficava.

 

Prefeito, vizinhos e vereadores

Familiares e irmãos

Centenas de Teixeirenses

E pessoas doutra região

Foram ao enterro pra prestar

Homenagi a meu paizão.

 

O que meu Pai não tinha de escola

Ele tinha de bondade

Apesar da vida sofrida

Ele manteve a responsabilidade

De criar bem seus filhos

Sem nos deixar na necessidade.   

 

        Santo André, 17 de Maio de 2023

Helenilson Martins
Enviado por Helenilson Martins em 17/05/2023
Reeditado em 18/05/2023
Código do texto: T7790538
Classificação de conteúdo: seguro
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