CANGACEIROS NORDESTINOS, ENTRE TANTOS OS DESTINOS - O LIVRO COM PREFÁCIO DE KYDELMIR DANTAS
OS CANGACEIROS DE BENTO JÚNIOR EM POESIA
Kydelmir Dantas (*)
O confrade da Academia de Cordel do Vale do Paraíba – ACVPB, poeta e cordelista Bento Júnior, se propôs a cordelizar uma lista de nomes e apelidos de alguns Cangaceiros, levando em consideração uma pesquisa ligeira com livros e cordéis que teve em mãos.
Para mim, como pesquisador, na vasta bibliografia cangaceira, há dois livros que são essenciais para uma pesquisa mais apurada, cito-os a seguir: Cangaceiros de Lampião de A a Z, do paraibano Bismarck Martins de Oliveira, 2ª edição revista e ampliada em 2022; Dicionário Biográfico – Cangaceiros & Jagunços, do baiano Renato Luís Bandeira, 3ª edição em 2018.
O Cangaço, movimento social nordestino que ocorreu a partir do século XVIII, teve seu auge entre 1918 e 1938, sob a presença de seu nome maior Virgolino Lampião – antes dele foram protagonistas: Cabeleira, Lucas da Feira, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Sinhô Pereira; com ele ficaram famosos os chefes de sub-grupos: Sabino, Jararaca e Macilon, até 1927; depois vieram: Corisco, Zé Sereno, Labareda, Gato, Canário, Zé baiano; findou-se em 1940 com a morte do Diabo Louro.
As Mulheres também foram protagonistas, sempre lembradas Maria Bonita, Dadá, Nenê, Lídia, Inacinha, Dulce e mais outras tantas no cangaço lampiônico a partir de 1930; sem esquecermos da ANÉSIA CAUAÇU, dos sertões de Jequié, que comandou um grupo de amigos e parentes em luta contra inimigos políticos e pessoais nos idos de 1909 a 1916.
Remanescentes do cangaço, conheci e conversei com CANDEEIRO, VINTE E CINCO, PASSARINHO, MORENO, DURVINHA, SILA, ARISTÉIA, MARIA de Juriti e ANTÔNIA de Gato; do lado das Forças Volantes, tornaram-se amigos: Tenente JOÃO GOMES DE LIRA e NECO DE PAUTÍLIA (Nazaré do Pico - PE); conversei com o Sargento LUÍS FLOR e SINHÔ DA BELEZA (Serra Talhada-PE), NECO VALÕES (Piranhas-AL); todos(as) fontes primárias deste capítulo da História do Nordeste.
Bento Júnior envereda por uma trilha de muitos nomes e apodos de CANGACEIROS NORDESTINOS, ENTRE TANTOS OS DESTINOS.
Paraíba, Serra do Cuité em Nova Floresta, aos 8 dias do mês de abril de 2023.
(*) Professor, agrônomo, pesquisador, escritor e poeta cordelista; de Nova Floresta-PB.
CANGACEIROS NORDESTINOS
ENTRE TANTOS OS DESTINOS
Autor: Bento Júnior
Vos digo sem pretensão
Eu sou fã quase confesso
Dos causos que me deram
Dentro dum papel impresso
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nos anais deste progresso.
Precisamos estudar
O cangaço no Cordel
É drama para Teatro
É figura pro pincel
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
É Arte no meu plantel.
Kydelmir pesquisador
O cordelista dos Dantas
Quem for falar de cangaço
Use de suas mãos santas
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
As referências são tantas.
Cantamos com poesia
Povo de Nova Floresta
Como riachos perenes
Um paraibano na testa
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
És água fazendo festa.
José Américo fez
Na Bagaceira de tudo
Desta terra Potiguar
Nosso Câmara Cascudo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
No tabuleiro do Ludo.
Bismarck fez a pesquisa
Com quase mil e duzentas
Catalogações do tema
Das caatingas cinzentas
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Destas pueris tormentas.
Luís Renato Bandeira
Belo livro Biográfico
Bahia contribuindo
Neste viés Fotográfico
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tem Jagunços neste gráfico.
Na visão destes poetas
Pesquisar é ter memória
Numa troca de saberes
Os livros fazem história
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Na derrota, na vitória.
No Rio Grande do Norte
Nesta nossa Paraíba
Alagoas e Sergipe
Tinha tanta macaíba
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nas trilhas da pindaíba.
Pernambuco, Ceará
Na Bahia do Nordeste
No Piauí, Maranhão
Não passou cabra da peste
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tem ainda quem te deteste.
Não vou falar do cangaço
De cangaceiro topei
Vejamos o que vai dar
Nestes nomes que peguei
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Simplesmente te contei.
A lista tem Açucena
Depois Antônio Godê
Gentil ordem alfabética
Que trago para você
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Que vou chamar vosmecê.
Tonho Batista Sobrinho
No total são dezesseis
Bernardo, vil Ingrácia
Do Ó, o que mais deveis?
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tudo mais, o que fazeis?
Sinhô Naro, Mariano
Tôi do Gelo, Marinheiro
Matilde, Peixe, Pereira
Tem o Tonho bom parceiro
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Pro meu Cordel Brasileiro.
O cangaço foi tão forte
Tinha também o famoso
O tal Antônio Silvino
Nordeste é orgulhoso
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Porcino foi fervoroso.
Thomaz, também tem Valério
Dezesseis não é segredo
Entremos na fértil ordem
Cangaço tem Arvoredo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Asa Branca causou medo.
Cangaço, nomes diversos
Chamamos Atividade
Tem Bagaço, Meia Noite
Balão que fez crueldade
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Andantes da liberdade.
Baliza Sinhô Pereira
Baliza de Lampião
Bananeira, Beija-Flor
Bem-te-vi Corrupião
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
É dor dum escorpião.
Benevides e Benício
Borboleta, Boa Vista
Boca Negra, Bom de Vera
Bicheiro sem reservista
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tem Bimbão dos cordelistas.
Cabo Preto, Cabeleira
O Cachimbo, Bronzeado
Conosco tem Café Chique
Tinha também Cacheado
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Todo mundo ladeado.
Caixa de Fósco, Anjo Novo
Com Cajueiro, Canabrava
Tem Cansanção, Cariri
Carrasco que se deprava
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nunca vi gente tão brava.
Carta Branca é o tal
Por nome Pedro Quelé
Casa Velha, Casca Grossa
No cangaço são Pelé
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nos sertões deram olé.
Cassimiro e Chá Preto
Temos o Chico Pereira
Já chegou Chico Caixão
Olhando pra cangaceira
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Se brincar lhe dão rasteira.
Existe gente de fibra
Neste time do Chiquito
Com um tal Cindário vai
Formar cangaço do grito
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nos momentos de conflito.
Três Cirilos vão compor
Vou me ver com Lagamar
Tem Antão, temos Ingrácia
Este trio popular
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Foram feitos pra lutar.
Dois Clementinos também
Com Cobra Preta, Cocada
Coco Verde, dois Coqueiros
Foram cabras da pesada
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Haja ter a caminhada.
Corisco formou seu bando
Nele vemos o Criança
Criança teve mais dois
Que perderam a bonança
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
No cangaço da festança.
O Damião de Tibúrcio
Também tivemos Dadá
Companheira de Corisco
Naquele pé de cajá
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Comedores de preá.
Pinto Cego, Devoção
O Seu Dô e Seu Duquinha
Esperança tem seu mano
Se foi de forma mesquinha
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
É Lampa na cavaquinha.
Elpídio Freire, Faísca
É Fiapo, é Ferrugem
Temos também o Firmino
Certas vezes em babugem
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Na tocaia, todos rugem.
Flaviano, Floro Gomes
Tem o Francisco Barbosa
Olhem como temos Gato
Para mostrar toda prosa
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nas formações dessa glosa.
Antônio Silvino teve
Um cabra chamado Gato
Sinhô Pereira também
Haja bicho pelo mato
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Fogem como faz o rato.
No bando de Lampião
Teve Gato tão falante
E também somando tudo
Teve Gato de Brilhante
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Jesuíno foi gigante.
Fura Moita, Gavião
Se chegue Seu Gitirana
Guerreiro, tem Jacaré
Piores que caninana
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Dando bote na cigana.
Quelé, tivemos portanto
Seus três irmãos no cangaço
O Clementino, Quintino
E Pedro vem no pedaço
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Que se perdem nesse laço.
O Nóbrega de Medeiros
Que nós chamamos Inácio
Januário, tem o Jandaia
Que nunca viram palácio
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Pra criar o meu prefácio.
Jesuíno, Jararaca
Tem Giboião, Jaçanã
João Branco, João Brito
Foi tiros na ribaçã
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Pra fugir maracanã.
Cirino, fala João
Somamos cinco valentes
Tem Dedé, tem Mariano
O Nogueira dos Repentes
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Vaqueiro é dos potentes.
Cessando com formosura
Temos o João da Banda
Oh! Terra pra ter João
Daquele que nunca manda
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Um cabra solto debanda.
Virgem como tem aqui
Mostre nobre Joaquim
Coqueiro, tem Cariri
Já chegou Mané Chiquim
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Enfrentando sem pantim.
Tem Gomes, tem Mariano
Temos José Bacalhau
Mais camaradas Josés
Pra fazer o meu sarau
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Haja voz de varapau.
De Joaquim faltou Marques
E de Monteiro também
Vou partir para José
Que não foram Zé ninguém
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Sem no bolso ter vintém.
José também é chamado
O José de Genoveva
Cangaço como tem Zé
Um nome que sempre leva
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Vantagem fora de treva.
O José Baiano fez
JB assinaturas
Com aquele ferro quente
Ele fez as diabruras
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Que perversas criaturas.
O Barbosa, também Coco
Umburana, Bizarria
Haja ter lista comprida
No final melancolia
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Virgem Zé de romaria.
Zé de Guida, Zé Dedé
Marinheiro, Zé Pequeno
Vem Pinheiro, José Roque
Lá na frente tem Sereno
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Angico virou veneno.
Zé Valério, Piutá
Melão, Pedro, José Prata
No cangaço tem José
Na vida de fé ingrata
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Que nó nunca se desata.
Jovino Cirino, Braz
Cabo Velho, Durvalina
Aristéia morre velha
Com outros na repentina
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Na vida que se destina.
Alencar com Alecrim
Enedina com Colchete
Nas benditas caatingas
Deram tanto tirinete
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Como pés de tamborete.
Júlio Porto, Labareda
Inácio, que é Jurema
Labareda com Limoeiro
No cangaço foi problema
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Causando tanto dilema.
Lampião, maior de todos
Preciso que se repita
Que pegou Maria Déa
Nobre Maria Bonita
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Eis, enfim, sua desdita.
O Luís Brilhante, Lua
Branca, Luís no comando
Foram fortes no gatilho
Quando viviam no bando
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nas terras deste desmando.
Lucas da Feira, valente
Soares foi Juriti
Os Cabras tem cada nome
Bem lembram Aracati
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Pras bandas do Cariri.
Luís Padre, tem Mateus
Temos Lucas das Piranhas
Com Luís Padre fazendo
Essas grandes artimanhas
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Embrenhado nas entranhas.
Maçarico com Malícia
Mansidão, tem Pajeú
Manuel Ângelo soma
Lá no fundo do baú
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Contos de Jacaraú.
Mané Barbosa, de Nara
Tem Mané e tem Marreca
É Barbosa, Benedito
Pra tocar qualquer rabeca
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Não dormiam na soneca.
Tinha Mané de Santana
Um Manuel Isidoro
Porcino, Manuel Prata
Pro leitor fiel imploro
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Para pesquisar devoro.
Toalha, Mané Vaqueiro
Mané Vitor, Mão Foveira
Mão de Grelha, tem Marcula
Parecendo com caveira
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Dando no mundo rasteira.
Mergulhão temos só três
Nós tivemos Mel com Terra
Meu Primo também passou
Naquela tremenda serra
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Que bode triste não berra.
Miguel Feitosa, tem Praça
Chega Mocinho, Moderno
Tem Moeda, Moita Braba
O cangaço foi seu terno
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Provaram do vil inferno.
Cajazeira com Baliza
Mané Tubiba, Vassoura
Contidos na minha lista
Daquela vida caloura
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Plantadores de lavoura.
O Baião foi pro cangaço
E nisto quis ver Honório
Vem antes o Cassimiro
Com um servil acessório
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Eis aqui seu falatório.
Tem Mourão, temos Moitinha
E Navieiro, Passarinho
Também temos o Mormaço
Pastorando no caminho
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Das volantes sem carinho.
Zé Antônio é Padre
No cangaço tem Pancada
Nicolau, Pedro Fernandes
Levaram tanta lapada
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Dos soldados de cambada.
Destas volantes sem dó
Foi lutar Pilão Deitado
Pedro Rocha, Pedro Paulo
E depois chegou Rajado
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Foram ver o sol quadrado.
Porcino com Pinga Fogo
Com Pedro mais rebuliço
Nunca mais teve sossego
Porém foi dando sumiço
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nos matos teve serviço.
Pedro Miranda, Quintino
Temos o cabra Raimundo
Destes temos logo cinco
Pros combates deste mundo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nos crimes do gira-mundo.
Pintadinho, Pitombeira
Quinta-Feira, Rouxinol
Tem Plínio, tem Português
Vigilantes de Farol
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Sem tempo pra futebol.
Quintino, vem Pontaria
Sabonete, Tempo Duro
Relâmpago temos três
Neste Matagal escuro
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Para viver em apuro.
Rio Branco, Rio Preto
Zé da Feira, tem Elétrico
Sabiá e Deus Te Guie
No fator pluviométrico
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Vivendo num viver tétrico.
Andorinha, Zabelê
Vem Tenente, vem Mangueira
Tanta gente já fez parte
Temos bando na cumeeira
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Nessa missão derradeira.
Temos Antônio Silvino
Honório é Cassimiro
Lucas da Feira também
André Marinheiro, miro
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Falar assim dá suspiro.
Tem Saracura, Sereno
Com Serra Branca, com Sila
Bandos fizeram história
Adentrando pobre vila
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Cangaço na longa fila.
Tem Trovão, tem Tiburtino
Teotônio, temos Terto
Com Seu Toinho da Cachoeira
Pessoal do mais esperto
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Como sendo no deserto.
O Torquato com Venâncio
Tempestade mais Suspeita
Bravura nas caatingas
Se rola, depois se deita
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
É forte que não se peita.
Tem Ulisses Liberato
Tem Vereda, tem um Urso
Com Valderedo Ferreira
No que fazem não tem curso
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Das rixas não fez concurso.
Cristino tem projeção
Filme do Diabo Louro
Que se chamava Corisco
No bando não foi calouro
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Valente que só um touro.
Besta Fera, Lasca Bomba
Pinga-Fogo, Lua Branca
Alcunhas tão populares
De vida que não se tranca
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Pra não ficar na retranca.
Gasolina, Cobra Verde
Beija-Flor e Sete Orelhas
Serra do Uman e Chumbinho
Sobem por cima das telhas
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Levam ferro das abelhas.
Azulão tiveram quatro
Segundo pesquisadores
De Lampião, mais famoso
Em outros de matadores
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
São seres desbravadores.
Vinte e Cinco, Ventania
Velocidade tinindo
Tem Vicente de Marina
Alguns bando vão sumindo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Quem fica quer ir fugindo.
A Nenê e Lídia são
Mulheres de plenitude
Com Dulce, com Inacinha
Cangaço tem atitude
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
É feminino virtude.
Tem Rosinha no cangaço
De Jequié vem Anésia
Temos Antônia de Gato
Subindo sutil falésia
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Dessa luta sem amnésia.
Fatos que nos narraram
Próximo do buriti
Meiga Maria Bonita
E Maria de Juriti
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Debaixo dum bacuri.
Serra do Mar e Canário
É povo do meu cadastro
Candeeiro mais o Moreno
Foi folclore, deixou rastro
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Entrelaçados num mastro.
No combate de Pedreira
Quem era proprietário
Fazendeiro Saturnino
Seguimos destinatário
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Neste triste signatário.
Lampião quem comandou
Só para dar um retoque
Os Ferreiras neste bando
Não pensou de ter reboque
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Enfrentaram o Batoque.
Marcula, Nego Tibúrcio
Zé Guedes e defensores
Caboclo, também Moreira
Enfrentaram invasores
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Vencem os opositores.
Em Mossoró, Lampião
Não teve sua pataca
Do combate na cidade
Torturaram Jararaca
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Mossoró cabo de faca.
Em Pinhão teve massacre
Amoroso, Zé de Vera
Volta Seca, Labareda
Na cruel vida sincera
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Haja fuga pra cratera.
Lugarejos atacados
Combatendo coronéis
A proteção pro cangaço
Combatida nos quartéis
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Estudo dos menestréis.
Vivendo dentro do mato
Percorrendo lugarejo
Por coiteiros escondido
Saciando seu desejo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Deus dizendo: -Te protejo!
Cabeças decapitadas
De Zabelê e Canjica
Na luta morreram quatro
Emboscada não se fica
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tome fogo na chulipa.
Azulão, Maria Dórea
Também ali morreram
Uma perda pro cangaço
Contam os que viveram
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Uns se desentenderam.
No bando tem Tonho Rosa
Calais e um tal Graveto
Cangaço nos manuscritos
Citados neste boleto
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Já quase num absoleto.
Tanta gente se formou
Dentro do cangaceirismo
Sabino com Sabiá
Fizeram malabarismo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Com reacionarismo.
Foram mortes inocentes
Baitas vidas sucumbidas
O viver dentro das matas
Acalentou despedidas
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Cicatrizes das feridas.
Temos bandos exaltados
Sinhô Pereira, Corisco
De Lampião, Benevides
Correram bastante risco
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Que se tornaram arisco.
Três Pancadas e Maroto
Cajarana, Cravo Roxo
Bagaceira, Bala Seca
Nenhum deles sente xoxo
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
O temor de ficar coxo.
Cancão, Coidado, Cristina
Tem Cruzeiro, Carrapicho
Demudado, Cascavel
Quase tudo por capricho
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tinha fama, não cochicho.
Vila Nova, Vila Bela
Catingueira, Cavanhaque
Virgulino Fortunato
Nos barracões de conhaque
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Bêbados tomando baque.
Com Macela, Novo Tempo
Luís da Cacimba Nova
Zé do Telhado, Zé Peba
Toda matança tem prova
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
No final sempre tem cova.
tem Barra Nova, tem Moça
Luís Sabino, Peitica
No cangaço não tem como
Quase sempre se complica
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
O livro fiel explica.
Vem Quin-Quin, vem Umbuzeiro
Quina-Quina, Zé Coruja
Tem Delfino, Lavandeira
Lavam toda roupa suja
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
A morte é dita cuja.
Vem Jesuíno Pequeno
Trazem Vicente da Penha
Pra falar com Jatobá
Daquilo que não se tenha
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Esperam que tudo venha.
Eleonora, Xerife
Com Vicente Belisário
Doralice, Jatobá
Distante do mandatário
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Vem Zumbi, vem Centenário.
Roxinho, também Sobrinho
Das que viveram, Adília
Zarôio, Zeca Fragoso
Tem Zepelin, tem Otília
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tem Veronquinha Família.
Do Tibúrcio, Jesuíno
O Bando de Floro Gomes
Revoltado com sistema
Vinte e Dois e tome nomes
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tiraram seus sobrenomes.
Cangaço de gênio forte
Não é fácil entender
Lutando pelos direitos
Estudamos pra saber
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Tudo pra sobreviver.
Cangaceiros fazem parte
Das injustiças sociais
Revoltados num sistema
Dessas forças desiguais
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Sangue bravo dos jornais.
No cangaço teve guerra
Hoje vemos só beleza
O Lampião com seus cabras
Ponto Fino, Fortaleza
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Restavam tão só Tristeza.
Se pararmos pra pensar
A gente perde sentido
A legião que formou
Neste sertão ressentido
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Buscavam o prometido.
Quase com o pé no fim
Vou ficando por Angico
Nesta Grota do cangaço
Virgulino diz: - Eu fico!
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Onze se foram no bico.
Mais de trinta dormiam
Outros mais se mandaram
Sucumbiram Lampião
As cabeças cortaram
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Outras logo formaram.
Efêmera duração
O cangaço ganha sim
O Lampião fez história
Eu digo tudo por mim
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Lembrar nunca terá fim.
As promessas ilusórias
Nos seios da consciência
Um tipo de pensamento
Que segue sobrevivência
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Entender, ter paciência.
No cangaço das alcunhas
Seu batismo fez efeito
Se faltou citar alguém
Os cujos nos dão proveito
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Vou seguir este conceito.
Fila de participantes
É plenamente mutável
Por meio de quem escreve
Faz o cabra ser estável
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Pra não ser desagradável.
Certos nomes esquecidos
No Nordeste do Brasil
A justiça pelas mãos
Sem ter água no cantil
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Do poder sempre servil.
Por estas, também por outras
Estudar tem seus mistérios
Vou terminar meu Cordel
No flerte dos meus critérios
Cangaceiros nordestinos
Entre tantos os destinos
Faço rir teus impropérios.
FIM
João Pessoa-PB, 03 de abril de 2023.
REFERÊNCIA
BANDEIRA, Luís Renato. Dicionário Biográfico – Cangaceiros & Jagunços. 3ª edição. Salvador: ALBA (Assembléia Legislativa da Bahia), 2018.
BATISTA, Ivaldo e DANTAS, Kydelmir. Cordel: Maria Bonita, uma Rainha para o Cangaço. Recife, 2019.
CASCUDO, Luís da Câmara. Notas e Documentos para a História de Mossoró. Mossoró: Editora do Autor. Série A. v. 2.Coleção Mossoroense, 1955.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões: Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1997.
DÓRIA, Carlos Alberto. O Cangaço. São Paulo: Brasiliense, 1982.
JÚNIOR, Bento. Cordel: Lampião no Tempo da Internet. João Pessoa: Bom Jesus, 2008.
MACEDO, Nertan. Lampião: Capitão Virgulino Ferreira. 5 ed. Rio de Janeiro: Rennes, 1975.
MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol: O Banditismo no Nordeste do Brasil. Recife:Massangana, 1985.
MELO, Veríssimo de. O Ataque de Lampião a Mossoró. Ed. Fac-similar. Natal: Sebo Vermelho, 2007.
NONATO, Raimundo. Lampião em Mossoró. 6ª ed. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado. v. 1489. Coleção Mossoroense. Série C, 2005.
OLIVEIRA, Bismarck Martins de. Cangaceiros de Lampião de A a Z. 2ª ed. rev. e ampliada. João Pessoa: Mídia, 2020.
OLIVIERI, Antonio Carlos. O Cangaço. São Paulo: Ática, 1995.
RAUL, Fernandes. A Marcha de Lampião: Edição Especial para o Acervo Oswaldo Lamartine de Faria. Revisada por Kydelmir Dantas. www.colecaomossoroense.org.br. Acesso, João Pessoa, 09 de abril de 2023.